Publicado em 27 de fevereiro de 2024 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
É impressionante. Desde o início de 2023 a imprensa vem publicando sucessivas reportagens sobre as movimentações golpistas para evitar a posse do presidente eleito Lula da Silva. De tal forma que grande parte da trama já passou a ser mais do que sabida e tomou a consistência de fatos públicos e notórios, embora ainda estejam em início de investigação pela Polícia Federal.
Note-se que a apuração feita pelos jornalistas é muito mais completa e eficaz, deixa no chinelo a força-tarefa dirigida pela brilhante cabeça do ministro Alexandre de Moraes, que parece mais interessado em acumular investigações no chamado “inquérito do fim do mundo” do que em descobrir a verdade propriamente dita.
CAMINHO DIRETO – Se o ministro Alexandre de Moraes estivesse interessado em rapidamente apurar como se processou o golpe que não aconteceu, não teria maior dificuldade. Bastava convidar o general Marco Antonio Freire Gomes a depor, como comandante do Exército no final do governo Bolsonaro que se recusou a aderir ao movimento, impedindo o golpe.
Ao demonstrar ser um militar de verdade, cumpridor da lei e discretíssimo no desempenho das funções, o general Freire Gomes foi o verdadeiro responsável pela manutenção do país nos trilhos democráticos. Estamos cansados de publicar essa informação aqui na Tribuna da Internet, embora a imprensa tenha a mania de dizer que foi o Supremo que “salvou” a democracia etc. e tal, porém minha ironia não chega a tanto.
O STF não salvou coisa alguma. Pelo contrário, fez uma lambança histórica, ao interpretar casuisticamente a Constituição, de modo a libertar Lula, devolver-lhe os direitos políticos, para depois promover a recuperação social e financeira dos empresários e governantes mais corruptos do país, como a família Odebrecht e Sérgio Cabral, para ficarmos em apenas dois exemplos.
REUNIÕES NO ALVORADA – Sabe-se que os generais do núcleo duro do Planalto fizeram insistentes apelos aos comandantes militares por um golpe contra a eleição de Lula. Também é sabido que Freire Gomes e os ex-comandantes Almir Garnier (Marinha) e Baptista Junior (Aeronáutica) foram chamados cerca de dez vezes por Bolsonaro para reuniões no Palácio da Alvorada em novembro e dezembro, após a vitória de Lula.
Eram reuniões fora da agenda presidencial, convocadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, ou pelo próprio presidente. A primeira foi dia 1º de novembro —dois dias após a vitória de Lula e discutiu dois assuntos: o fechamento de rodovias e os acampamentos golpistas com bolsonaristas diante dos quartéis.
O golpe não era tratado diretamente. Em alguns casos, Bolsonaro apenas buscava conversar e se aproximar dos chefes militares. Mas houve algumas reuniões em que Bolsonaro e militares de seu entorno defenderam intenções golpistas de reverter o resultado eleitoral.
O QUE FALTA – O depoimento de Freire Gomes certamente preencheria as lacunas, informando a reação do Alto Comando do Exército ao tomar conhecimento dessa situação.
O general pode esclarecer também a influência de governos estrangeiros. Sabe-se que em julho de 2022 o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, tocou no assunto com o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira.
Em seguida, os encarregados de negócios dos EUA no Brasil, Douglas Knoff, e do Reino Unido, Melanie Hopkins, participaram de reuniões sigilosas com generais do Exército para sondar a posição da Força. E comunicaram que haveria forte oposição de seus países a qualquer tentativa de ruptura democrática.
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P.S. – Tudo isso e muito mais pode ser esclarecido pelo general Freire Gomes, caso o ministro Moraes tenha a humildade de convidá-lo a depor. É claro que o general Freire Gomes, esse discreto herói nacional, aceitará explicar como repudiou as intenções de ruptura democrática, porque fazê-lo significa um dever para ele. Mas quem se interessa? (C.N.)