Publicado em 1 de setembro de 2023 por Tribuna da Internet
Marianna Holanda e Júlia Chaib
Folha
Jair Bolsonaro (PL), Michelle Bolsonaro e outros dois aliados do ex-presidente permaneceram em silêncio em depoimento nesta quinta-feira (31) à Polícia Federal sobre o caso das joias presenteadas por autoridades de países árabes. A estratégia do casal Bolsonaro foi seguida também pelos seus assessores Fabio Wajngarten e Marcelo Câmara.
O grupo usou a justificativa de que o STF (Supremo Tribunal Federal) não teria competência para atuar nessa fase da investigação e buscou driblar a decisão da PF de ouvir oito pessoas de forma simultânea para evitar combinação de versões.
QUATRO DEPUSERAM – Outros quatro intimados pela PF a depor decidiram falar, a começar pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid, peça-chave na apuração em torno de desvio, venda, recompra e devolução de presentes de alto valor recebidos pelo ex-chefe do Executivo de autoridades estrangeiras.
O pai de Cid, general Lourena Cid, e o advogado Frederick Wassef também prestaram depoimento, e Osmar Crivelatti (tenente e ex-ajudante de ordens) falou por nove horas.
Os que silenciaram ficaram por cerca de uma hora no local e depois seguiram para a sede do PL, partido de Bolsonaro. Na contramão, Mauro Cid, que chegou quase duas horas antes do horário combinado para sua oitiva, só deixou a sede da PF depois das 21h.
ADVOGADO NOVO – O ex-braço direito de Bolsonaro está preso desde 3 de maio no Batalhão do Exército de Brasília. Após mudar seu advogado de defesa, adotou postura de maior cooperação com autoridades policiais e tem tido longos depoimentos. Na segunda-feira (28), falou por 10 horas com investigadores sobre o caso do hacker Walter Delgatti Neto.
A justificativa de Bolsonaro e Michelle pelo silêncio é baseada em parecer da PGR (Procuradora-Geral da República), citando que o STF não poderia atuar na atual fase da investigação. Aliados do ex-presidente dizem que cabe à Justiça de São Paulo apurar o caso.
“Desta forma, considerando ser a PGR a destinatária final dos elementos de prova da fase inquisitorial para formação do juízo de convicção quanto a elementos suficientes ou não a lastrear eventual ação penal, os peticionários [Jair e Michelle], no pleno exercício de seus direitos e respeitando as garantias constitucionais que lhes são asseguradas, optam por adotar a prerrogativa do silêncio no tocante aos fatos ora apurados”, disseram, em petição, os advogados Daniel Tesser e Paulo Bueno.
WASSEF DEPÔS – Wasseff depôs por videoconferência da sede da PF em São Paulo. Ele falou com jornalistas na entrada e na saída do edifício da corporação, mas não deu detalhes sobre o que disse aos policiais. Afirmou ser vítima de fake news.
“O inquérito tramita em segredo de justiça. Eu respeito a PF, o Poder Judiciário. Eu sou vítima de vazamento sempre. Portanto não vazo nada”, disse Wasseff, que advoga por Bolsonaro no caso da facada de 2018.
Como mostrou a Folha, a inclusão da investigação das joias no inquérito das milícias digitais no STF, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, gera questionamentos sobre a competência da corte na apuração.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Segundo a CNN, a defesa de Bolsonaro mudou a estratégia após saber que desde quarta-feira o tenente-coronel Mauro Cid começara a fazer revelações. Ao mesmo tempo, a CPI do Golpe começou a articular uma delação premiada do ex-ajudante de ordens, que é a linha de defesa de seu novo advogado, Cezar Bitencourt, um coronel reformado do Exército e especialista em Justiça Militar. O inquérito corre sob sigilo, mas logo começará a vazar. (C.N.)