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sexta-feira, setembro 29, 2023

Barroso sinaliza que o Supremo pretende continuar interferindo nos outros poderes


Barroso, o democrático às avessas, é aplaudido na posse

Barroso, o democrata às avessas, foi aplaudido na posse

Renato Machado
Folha

O ministro Luís Roberto Barroso foi empossado como novo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta-feira (28) com acenos a militares e minorias e pregando a harmonia entre os Poderes em um momento de pressão do Legislativo sobre a corte. Em discurso de posse, Barroso afirmou que as “instituições venceram” no Brasil os momentos de sobressalto vividos pela democracia por aqui e em diferentes partes do mundo.

“Em todo o mundo a democracia constitucional viveu momentos de sobressalto, com ataques às instituições e perda de credibilidade. Por aqui, as instituições venceram tendo ao seu lado a presença indispensável da sociedade civil, da imprensa e do Congresso Nacional”, afirmou o novo presidente do STF. “E justiça seja feita: na hora decisiva, as Forças Armadas não sucumbiram ao golpismo”, completou.

EM MEIO À TENSÃO – Barroso assumiu a presidência do STF, em substituição à ministra Rosa Weber, que completará 75 anos, a idade limite para atuar na corte. A cerimônia de posse contou com a presença do presidente Lula da Silva e dos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Barroso assume a presidência do STF em um momento de tensão entre os Poderes Judiciário e Legislativo, com acusações de invasão de competência. Um dos principais estopins para a crise foi a colocação em pauta e a votação do marco temporal, assunto que também estava em tramitação no Congresso Nacional.

Em votação relâmpago, o plenário do Senado aprovou na quarta-feira (27) o projeto de lei do marco temporal para a demarcação de terras indígenas, menos de uma semana após a tese ser derrubada em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Pacheco disse após a votação que se não se tratou de revanchismo”.

VÁRIAS ACUSAÇÕES – O próprio Barroso foi acusado diversas vezes de invadir a competência de outros Poderes com as suas decisões. Em abril de 2021, por exemplo, determinou a instalação da CPI da Covid no Senado, tornando-se assim um dos principais desafetos do bolsonarismo na ocasião.

Em resposta a essas críticas, Barroso tem dito que não invade competência de outros Poderes, mas que o Supremo tem a obrigação de dar respostas ao ser provocado.

Durante o seu discurso, o novo presidente do Supremo Tribunal Federal combateu a visão da existência de um “ativismo judicial” no Brasil. Justificou que se trata apenas do desenho institucional dos Poderes brasileiros, mas admitiu que em nenhum outro país do mundo a Corte Suprema é chamada a se posicionar sobre uma tão variada gama de assuntos.

ÚNICO NO MUNDO – “Incluir uma matéria na Constituição é em larga medida retirá-la da política e trazê-la para o direito. Essa é a causa da judicialização ampla, da vida no Brasil. Não se trata de ativismo, mas de desenho institucional. Nenhum tribunal do mundo decide sobre tantas questões divisórias da sociedade”, afirmou o ministro.

Barroso então acrescentou que a atuação de um tribunal não pode ser medida com base na posição popular. “Contrariar interesses e visões de mundo é parte inerente de nosso papel. Sempre estaremos expostos a críticas e à insatisfação e isso faz parte da vida democrática. Por isso mesmo a virtude de um tribunal jamais poderá ser medida em pesquisa de opinião”, completou.

Nesse momento, Barroso então se dirigiu diretamente a Lira e Pacheco, ressaltando a independência de cada Poder brasileiro. E acrescentou que todos conviverão em “harmonia, parceiros institucionais que somos pelo bem do Brasil”.

CAUSAS DA HUMANIDADE – Barroso também defendeu uma agenda mais progressista para o Supremo, embora ressaltando que essa é uma agenda que não deveria receber esse rótulo. Disse que são “causas da humanidade”

“Há quem pensa que a defesa dos direitos humanos, da igualdade da mulher, das ações afirmativas, do respeito à comunidade gay, da inclusão das pessoas com deficiência, da preservação das comunidades indígenas, há quem ache que todas essas causas são causas progressistas. Não são. São causas da humanidade”, afirmou.

Barroso está há dez anos no Supremo. Ele foi presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em meio a escalada dos ataques do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contra as urnas eletrônicas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Discurso de Barroso mostra que nada vai mudar. O Supremo continuará se intrometendo nos outros poderes. “Contrariar interesses e visões de mundo é parte inerente de nosso papel. Sempre estaremos expostos a críticas e à insatisfação e isso faz parte da vida democrática”, disse ele, escorregando na maionese. Barroso está errado. O certo é que o Supremo e os outros poderes têm de respeitar as escolhas da maioria da sociedade e prestar contas a ela. É a isso que se chama de democracia. O governo da maioria(C.N.)

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