Publicado em 26 de setembro de 2023 por Tribuna da Internet
José Casado
Veja
O juiz/ministro José Antonio Dias Toffoli, do Supremo, acha que o país teve “a graça divina” da presença de Augusto Aras na chefia da Procuradoria-Geral da República nos últimos quatro anos. Aras serviu por dois mandatos no período Jair Bolsonaro, tentou um terceiro com Lula, mas não conseguiu. Deixa hoje a procuradoria-geral.
Juízes de tribunais superiores são políticos vestidos de toga e Toffoli acaba de celebrar 14 anos no Supremo, onde não sobra espaço para ingenuidade. É lugar de disputa permanente sobre o que as leis e a Constituição permitem, com autoridades criando suas próprias regras e definindo seus limites — inclusive, se têm limites.
FICOU ENCANTADO – É notável o encanto de Toffoli com “a responsabilidade, a paciência, a discrição e a força do silêncio de sua excelência, Augusto Aras” — como disse numa festa em Brasília, nesta segunda-feira (25). Sem isso, acrescentou, “talvez nós não estivéssemos aqui, nós não teríamos, talvez, democracia”.
Soou exagerado. E é mesmo, considerando-se a controversa atuação pública de Aras na pandemia, na zelosa e quase sempre excessiva proteção ao projeto autoritário de Bolsonaro, certificado nos ataques permanentes ao regime democrático e às instituições, entre elas o STF.
Mas Toffoli é um juiz do Supremo e, nessa condição, é um portador de segredos de Estado. Deixou claro que seu elogio plangente a Aras tinha fundamento em fatos que ainda não foram expostos à luz do sol, sempre o melhor detergente, e que compõem o mosaico da história recente:
À FRENTE DA HISTÓRIA – “Faço essas referências porque são coisas que serão contadas mais à frente na História, que poucas pessoas sabem. Nós estivemos muito próximos da ruptura (…)”
Toffoli confessou, dessa forma, possuir uma dívida com a História. Do tipo que só é possível pagar com testemunho detalhado, datas, horários, locais, nomes e relatos bem circunstanciados.
Poderia contar, por exemplo, as várias reuniões em que ele e Aras estiveram com Bolsonaro, assessores civis e militares, da ativa e aposentados, para discutir a crise política, o confronto aberto com o STF e a Justiça Eleitoral.
A SÓS COM BOLSONARO – A última, sabe-se, aconteceu na casa do então ministro das Comunicações Fábio Faria, em Brasília. Foi na segunda-feira, 19 de dezembro de 2022. Toffoli e Aras conversaram a sós com Bolsonaro, que voltou para o Palácio da Alvorada aparentemente decidido a fazer a malas e viajar aos Estados Unidos, sem passar o cargo e a faixa presidencial ao sucessor — só embarcou dez dias depois, na sexta-feira 30 de dezembro.
O juiz Toffoli deveria liquidar essa sua fatura pendente com a História o mais rápido possível.
Quanto a Aras, não cabem expectativas: ele acaba de imprimir um livro de autoelogios na chefia da Procuradoria-Geral da República.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Mais um excelente artigo de José Casado, na Veja. Quanto ao personagem Toffoli, ficará na História como um dos ministros mais fracos e incompetentes da Suprema Corte. (C.N.)