Publicado em 20 de abril de 2023 por Tribuna da Internet
Elio Gaspari
O Globo/Folha
O governo americano incomodou-se com as últimas falas de Lula sobre a China e a guerra da Ucrânia. Noves fora as impropriedades do presidente, há outra questão no tabuleiro —a preguiça com que a diplomacia americana tratou com ele.
Lula foi aos Estados Unidos em fevereiro e o Departamento de Estado organizou uma agenda miserável. Basta compará-la com a agenda chinesa. Espremidas, as duas se assemelham, com muito pirão e pouca carne. A cenografia chinesa, contudo, foi hollywoodiana. Isso, sabendo-se que vieram de Washington, e não de Pequim, os sinais contrários às aventuras golpistas que circulavam em Brasília.
COISAS ESTRANHAS – Há cerca de 50 anos, fala-se de uma eventual decadência dos Estados Unidos e ela ainda não aconteceu. Mesmo assim, coisas estranhas estão acontecendo por lá. Depois de quatro anos de Donald Trump, o país é governado pelo octogenário Joe Biden, e ele sugere que poderá ser candidato à reeleição.
Há dias, encenando as corridinhas atléticas de Barack Obama ao subir as escadas do avião presidencial, tropeçou duas vezes. Mantendo o ritmo teatral, foi adiante e caiu. Dias antes, na Irlanda, não percebeu que o sujeito que havia se aproximado dele era o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, filho de indianos.
A pretensão de Biden poderá inibir o crescimento de alternativas no Partido Democrata. Mau negócio.
E A SUPREMA CORTE? – Noutra ponta da encrenca americana, a Corte Suprema não é mais o que foi. Não só porque pela primeira vez uma de suas decisões, sobre a constitucionalidade do aborto, vazou antes de ser formalizada.
Caiu na frigideira o juiz Clarence Thomas. Ele chegou à corte em 1991, indicado por George Bush 1. Negro, simbolicamente, ocupava o lugar do advogado Thurgood Marshall, um campeão da luta pelos direitos civis.
Os dois só tinham em comum a cor da pele.