Publicado em 23 de setembro de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Reportagem de Cláudia Zarur e Malu Mões, O Globo desta quinta-feira, focaliza a pressão desencadeada dentro e fora do PDT para que Ciro Gomes desista da disputa e passe a apoiar Lula da Silva já no primeiro turno nas eleições presidenciais. Na Folha de S. Paulo, a reportagem é de Danielle Brant. As duas matérias focalizam também a reação do próprio Ciro Gomes contra as pressões, ampliando os ataques contra Lula e o PT. Irritado com o movimento do voto útil, direcionado para assegurar a vitória de Lula no primeiro turno, Ciro acusa o PT de fascismo de esquerda, criticou Caetano Veloso e disse que Lula sempre foi um “fascistóide” e o PT “um partido voltado para o crime”.
A reação de Ciro Gomes, a meu ver, ampliará o movimento contra ele dentro do próprio PDT, sobretudo porque a contestação a Lula, da forma que ele fez, prejudicará candidatos a deputado em diversos estados do país. Temendo uma consequência negativa, aqueles que disputam mandatos farão provavelmente um movimento para se desvincular das falas de Ciro, uma vez que em suas campanhas eles buscam votos de todos os partidos e não apenas do candidato escolhido para Presidência pela legenda do PDT. O esvaziamento de Ciro Gomes será um fato inevitável.
CARTA – Na tarde de quarta-feira, líderes políticos latino-americanos redigiram uma carta endereçada a Ciro Gomes dizendo que ele deve retirar a sua candidatura e apoiar o ex-presidente da República. Ciro Gomes não respondeu ainda a carta que lhe foi endereçada, mas respondeu a Caetano Veloso e ao cantor Tico Santa Cruz, dizendo que quem está preocupado com o dia seguinte é quem não tem plano de saúde, quem não tem como pagar a mensalidade escolar de seus filhos. As declarações foram feitas ao longo da sabatina realizada pelo Estado de S. Paulo.
No PDT, entretanto, ampliou-se o movimento a favor do voto em Lula da Silva. Em entrevista ao jornalista Bernardo Mello Franco, O Globo, a ex-deputada Cidinha Campos anunciou a sua adesão à dissidência do partido e passou a defender o voto útil que na linguagem da corrente pedetista traduz-se no voto necessário. Com 7%, Ciro não tem chances de ir para o segundo turno. O mesmo acontece com Simone Tebet, mas ela não tem sido foco de pressão para apoiar Lula nas urnas de 2 de outubro.
Integrantes do PDT que estão com Lula acentuam que Ciro Gomes ficou magoado por Lula ter apoiado Fernando Haddad e não a ele no pleito vencido por Bolsonaro. Acentuam que Ciro Gomes critica Lula, mas desejava receber seus votos para substituir Haddad no confronto com Jair Bolsonaro. Ciro deixa claro que rejeita o proprietário dos sufrágios, mas deseja obter os votos que ele poderia produzir há quatro anos.
PESQUISAS – Na manhã de ontem, quinta-feira, o jornal da GloboNews divulgou que o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, acusou os institutos de pesquisa de manipular votos para iludir os eleitores e eleitoras do país. O comentarista Fernando Gabeira condenou fortemente o comportamento de Lira, dizendo que tanto o Datafolha quanto o Ipec merecem crédito pelos trabalhos que realizam e que a história de pesquisa manipulada, ao que se refere aos dois institutos, não tem base na realidade.
Na minha opinião, as pesquisas realizadas até agora e as que vão ser concluídas até a próxima sexta-feira poderão ser confrontadas com os resultados das urnas, valendo assinalar, como me disse um dia meu saudoso amigo Paulo Montenegro, a pesquisa eleitoral é a única que pode ser comprovada na prática pela população. Os institutos apresentam seus prognósticos e as urnas os confirmam ou não. A pesquisa eleitoral não é uma pesquisa exata, mas o índice de erros não chega a 0,001%. Trata-se de um cálculo de grande precisão.
EMENDAS – Reportagem de Idiana Tomazelli e Thiago Rezende, Folha de S. Paulo, informa que através do Ministério da Economia, o governo determinou um bloqueio nas movimentações orçamentárias deste ano que atingem emendas parlamentares de importância para candidatos à Câmara Federal e para o Senado na reta final para as eleições de 2 de outubro.
O bloqueio foi contestado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, e pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que reivindicam a execução imediata dos recursos contidos nessas emendas. Deputados do Centrão encontram-se entre os mais prejudicados, sobretudo porque haviam se comprometido junto aos seus redutos eleitorais nas vésperas do pleito, temendo assim perder votos importantes para a reeleição.