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segunda-feira, maio 09, 2022

Usar politicamente um general na Comissão do TSE não parece ser uma atitude republicana




Por Carlos Newton

No início da carreira, Tom Jobim tinha uma parceiro extremamente inspirado, da mesma idade, pianista clássico e que também tocava nas boates do Rio. Chamava-se Newton Mendonça, era também violinista e gaitista, um talento extraordinário. Foi o autor do “Samba de Uma Nota Só”, que depois o amigo Jobim só ajudou a fazer a letra, e os dois compuseram outros sucessos, como “Foi a Noite”,  “Desafinado” e “Meditação” (O Amor, o Sorriso e a Flor). Mendonça casou-se com a cantora Cylene Ribeiro, do Quarteto em Cy, e morreu aos 33 anos, sem ter usufruído o sucesso e o direito autoral de suas músicas.

Eram dois gênios, mas a fama ficou toda com Jobim, que era assediado por outros parceiros e parou de fazer composições com Mendonça, que se tornou exemplo perfeito do ilustre desconhecido.

UMA NOTA SÓ – Essas lembranças do início da bossa nova são causadas pelo comportamento atual de Jair Bolsonaro. Jamais ouviu falar em Newton Mendonça, não tem a menor ideia sobre esse músico genial, mas age como se fosse seguidor da obra dele, pois está se tornando o presidente de uma nota só. Na campanha eleitoral, Bolsonaro joga todas as fichas no confronto  contra o Poder Judiciário, ora atacando o Supremo, ora fustigando o Tribunal Superior Eleitoral. É como se os outros temas nacionais nem existissem. 

Nesse insensato radicalismo de uma nota só, o presidente não percebe que a repetição indefinida do tema tende a desgastá-lo, porque não adianta denunciar que a eleição será fraudada, sem conseguir apresentar provas a respeito.

Donald Trump tentou essa jogada e se deu mal. Embora até hoje um terço dos americanos acredite que a vitória de Joe Biden foi obtida por baixo dos panos, a imensa maioria dos eleitores não entrou nessa barca furada da matriz U.S.A.

GENERAIS EM AÇÃO – Para fortalecer a acusação aqui na filial Brazil, Bolsonaro conta com a prestigiosa ajuda de chefes militares, especialmente o ex-ministro Braga Netto, que indicou o general Héber Garcia Portella para integrar a Comissão de Transparência do TSE.

O general Héber, que é comandante de Defesa Cibernética do Exército Brasileiro, contratou uma  empresa paramilitar israelense de cybersegurança, a  CySource, para assessorá-lo no TSE, onde a atuação do representante das Forças Armadas tem sido tendenciosa, a ponto de cobrar urgentes medidas para prever e divulgar antecipadamente “as consequências para o processo eleitoral, caso seja identificada alguma irregularidade”.

Como se vê, o general ainda não conseguiu indicar qualquer irregularidade, mas já exige providências antecipadas para algo que nem sabe definir. Ou seja, o representante militar está sendo claramente usado para pôr em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas e a atuação do TSE durante as eleições.

P. S. – Trata-se de um comportamento de caráter político-eleitoral e não condiz com o que se deve esperar da postura de um oficial superior. Cabe ao atual ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, enquadrar o representante das Forças Armadas, para que abandone esse procedimento e passe a agir com a imparcialidade de um observador militar de alta linhagem, desculpem a franqueza. Por fim, deve-se destacar que o ministro da Defesa agiu oportuna e acertadamente, ao determinar que as medidas propostas pelas Forças Armadas sejam divulgadas pelo TSE. Essa transparência vai oxigenar a democracia e evitar que haja mal-entendidos de uma nota só. (C.N.)

Tribuna da Internet

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