Inflação, perda de dinamismo e outros problemas afetam a economia mundial – e a brasileira
Assolado por perturbações econômicas novas ou que se intensificaram, o mundo tornou um pouco mais difícil a vida na maioria dos países. Embora não esteja entre as economias mais integradas ao comércio mundial, a brasileira já enfrenta, nem sempre com a eficácia desejável, os impactos de vários problemas de natureza local ou regional, mas que afetam o resto do planeta.
A alta generalizada dos preços internos, retratada na inflação de 11,30% em 12 meses até março, pode se intensificar por causa dos preços internacionais de diferentes produtos. Dificuldades de produção por falta de componentes ou queda nas exportações em razão da desaceleração da economia mundial tendem a reduzir a atividade econômica do País, já muito frágil. O fluxo internacional de capitais, que tem sido favorável para o Brasil, pode mudar de sentido com o endurecimento das políticas monetárias no mundo desenvolvido.
A invasão da Ucrânia pela Rússia reduziu o suprimento mundial de itens como petróleo, gás, fertilizantes, trigo e milho, o que fez explodir a cotação desses produtos e impulsionar a inflação mundial. No Brasil, os combustíveis e os alimentos estão entre os itens que mais têm pressionado a inflação. Mesmo que haja solução para o conflito, seus efeitos sobre a economia mundial persistirão.
A imposição de lockdown em Xangai, para conter novo surto da covid-19 com a truculência típica do governo chinês, afetou não apenas a vida de mais de 20 milhões de pessoas. O fluxo mundial de mercadorias também foi prejudicado, pois em Xangai está instalado o maior porto do mundo. Seu movimento é quase dez vezes maior do que o do Porto de Santos, o maior do Brasil, como mostrou reportagem do Estadão (3/5). A paralisia das atividades em Xangai agravou problemas criados há dois anos pela pandemia e que nem haviam sido resolvidos. Há atraso na entrega de mercadorias, entre elas componentes essenciais a diferentes produtos industriais. A indústria automobilística é uma das mais afetadas.
O surto inflacionário que assombra o mundo novamente está sendo combatido por meio do endurecimento das políticas monetárias conduzidas por muitos bancos centrais, inclusive o brasileiro. São medidas que, além de poder conter a alta dos preços, têm impacto sobre o fluxo de capitais e sobre a atividade econômica. No caso brasileiro, o ritmo da economia já é fraco e, nas estimativas mais otimistas, o crescimento neste ano não deve chegar a 1%.
As constantes revisões para baixo para o crescimento da economia chinesa, por sua vez, que o lockdown pode acentuar, alimentam projeções pessimistas para os países cujo comércio exterior é fortemente dependente das exportações para a China, como o Brasil. Além de ativos chineses, também os de países em desenvolvimento nessa situação podem perder atratividade – e, claro, valor.
Um governante tão incapaz como se mostrou até agora o presidente Jair Bolsonaro dificilmente entenderia o problema em toda sua complexidade; seria ilusório imaginar que saberia enfrentá-lo.
O Estado de São Paulo