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sexta-feira, abril 29, 2022

Eleições devem ser pacíficas - Editorial

 




Não há razões objetivas para a paz de sucessivos ciclos eleitorais ser abalada, a não ser o espírito destrutivo de Bolsonaro

Há mais de 25 anos, os brasileiros votam por meio das urnas eletrônicas sem sobressaltos, sem o mais tênue indício de fraude. Em todo esse tempo, jamais os resultados das eleições foram contestados seriamente – vale dizer, com base em evidências, não em boatos – por quaisquer das múltiplas forças políticas da sociedade. Graças a esse longo histórico de segurança e agilidade do modelo brasileiro, referência internacional em processos eleitorais, a sociedade atravessou em paz sucessivos ciclos eleitorais, alguns bastante tensionados.

Nada houve de concreto nessas quase três décadas de voto eletrônico para abalar essa paz. A única novidade, por assim dizer, foi a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República. Bolsonaro, já é sabido, está em campanha pela reeleição desde que tomou posse. A partir do momento em que percebeu que o descalabro de sua gestão pode não passar despercebido pelos eleitores, passou a agir deliberadamente para desacreditar o processo eleitoral e, assim, criar o ambiente propício à contestação do resultado e ao conflito social. Será algo inédito no País, com consequências imprevisíveis.

Em boa hora, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, pediu “paz e respeito” às escolhas dos eleitores em outubro. Um país que se pretende livre e democrático não pode querer muito mais do que isso.

O apelo do ministro Fachin foi feito durante uma reunião de trabalho da Comissão de Transparência Eleitoral (CTE) do TSE, colegiado que congrega várias organizações da sociedade civil, universidades e membros das Forças Armadas para discutir o aprimoramento do processo eleitoral brasileiro.

A própria existência da CTE é um reflexo da tradição da Corte Eleitoral em dar ampla transparência ao processo eleitoral no País. Isso não é de hoje. Ações nesse sentido são fundamentais quando ninguém menos do que o presidente da República lidera uma sórdida campanha de desinformação para enganar os brasileiros sobre a higidez do processo eleitoral, no qual os eleitores sempre confiaram, em maior ou menor grau. Mas é preciso lembrar que em todos os ciclos eleitorais as portas do TSE são abertas aos partidos políticos, acadêmicos, técnicos e outros interessados para aferir a idoneidade das urnas eletrônicas. Jamais houve uma “sala secreta” na qual “meia dúzia decide uma eleição”, como levianamente apregoa Bolsonaro. O que há, sim, é uma sala segura onde os votos são totalizados. E isso reflete a seriedade do trabalho do TSE, não o contrário.

Na última reunião da CTE, o TSE recebeu mais de 40 sugestões de melhorias no processo eleitoral, que partiram de membros das Forças Armadas, da Transparência Internacional, de universidades públicas e privadas, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entre outras instituições. A esmagadora maioria delas foi acolhida.

Os eleitores podem confiar na segurança da urna eletrônica. A suspeição lançada por Bolsonaro não passa de esperneio preventivo de um mau militar, um mau presidente e, o tempo dirá, um mau perdedor.

O Estado de São Paulo

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