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quarta-feira, abril 27, 2022

Ao desafiar o STF, Bolsonaro jogou uma isca e Barroso teve má ideia na hora errada


Bolsonaro se diz vítima de 'perseguição clara' por Barroso, Fachin e Moraes  - CartaCapital

Bolsonaro diz ser perseguido por Moraes, Fachin e Barroso

Eliane Cantanhêde
Estadão

Ao voltar à carga e jogar pedra no Supremo, de novo a “Geni”, o presidente Jair Bolsonaro quis mais do que atiçar a tropa bolsonarista – quis jogar uma isca para o eleitorado de centro, que resiste tanto a ele quanto ao ex-presidente Lula, mas está confuso, empurrado o tempo todo contra o Supremo e as instituições.

Vamos combinar? Está difícil entender o Supremo e fácil entrar na onda de criticá-lo e atacá-lo, depois que a Corte foi dura no mensalão e no petrolão e deu uma cambalhota, voltou atrás e devolveu ao marco zero as condenações de Lula. Basicamente, com a mesma composição.

LONGE DEMAIS – Quem acompanha os três Poderes de perto pode não concordar, mas sabe que há uma lógica e argumentos consideráveis para a guinada, sobretudo depois das mensagens do Intercept Brasil entre o juiz Sérgio Moro e procuradores. Mas, à distância, como leigos podem entender e assimilar a reviravolta? No Congresso, com tantos alvos da Justiça, quem defende o Supremo? E, com “novo” Twitter, vai piorar.

É o que Bolsonaro explora ao decretar a “graça constitucional” para um desqualificado. Até lembra o filho 01 condecorando com a medalha da Alerj um miliciano preso e depois morto pela polícia. Porém, mais do que proteger Silveira, o objetivo do presidente agora foi atacar o Supremo.

A crise já estava de bom tamanho e militares, políticos e colegas de toga acharam “desnecessário” e “má ideia” do ministro Luís Roberto Barroso falar de Forças Armadas, e para alemães. Ele elogiou os militares e não disse que eles atacam o processo eleitoral e sim que há quem oriente e gostaria que atacassem. Mas os generais reagiram mal.

HORA DE ACUAR – No Congresso, é a oportunidade de acuar o Judiciário. No STF, é hora de cautela, de conversar, buscar um meio termo e fugir de radicalizações. Não interessa às eleições, à democracia e ao País uma crise institucional, ainda por cima envolvendo militares, e a efervescência é minimizada, atribuída ao caldeirão eleitoral.

Há quem compare: assim como Lula acena com revisão das reformas e do teto de gastos para animar seus “camaradas”, Bolsonaro indulta o tal Silveira para galvanizar a indignação contra o Supremo. Bem… A diferença é que um adota discursos corporativos e irresponsáveis sobre a já debilitada economia, mas o outro mexe com democracia e ameaça descumprir ordem judicial (inclusive o marco temporal).

O “centro” reage com exclamações e palavrões inconsequentes, mas o fato é que Bolsonaro está indo longe demais, deixando no ar as loas ao AI-5 e a máxima de que “basta um cabo e um soldado” para fechar o Supremo. Mas que estrelado estaria disposto a dar essa ordem?

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