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terça-feira, outubro 12, 2021

Delegados avisam que não irão permitir intervenção política na Polícia Federal

Publicado em 12 de outubro de 2021 por Tribuna da Internet

Presidente da Associação afirma que os delegados vão reagir

Rayssa Motta
Estadão

A troca no comando da superintendência regional da Polícia Federal no Distrito Federal, oficializada na última sexta-feira, 8, pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, pegou delegados de surpresa. Não houve sinalização de que uma substituição na chefia da unidade vinha sendo estudada pelo diretor-geral da corporação, Paulo Maiurino.

Ele próprio havia nomeado, cinco meses atrás, o delegado Hugo de Barros Correia para o cargo. O posto passa agora para as mãos do delegado Victor César Carvalho dos Santos, que vem do Rio de Janeiro, reduto político do clã Bolsonaro.

INSATISFAÇÃO – Na avaliação do presidente da ADPF, a sensibilidade das investigações em curso na unidade reforça a necessidade de uma explicação clara para a troca. Ele reconhece ainda que a PF vive um ‘período muito difícil politicamente’. “Os colegas querem sentir o firme compromisso do diretor-geral em proteger a Polícia Federal e os delegados que estão fazendo investigação”, pontua.

A superintendência do DF é responsável por duas das principais investigações que hoje preocupam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido): o inquérito das fake news, que mira apoiadores e aliados bolsonaristas sem prerrogativa de foro, e o que apura se Jair Renan, filho 04, praticou tráfico de influência. A unidade também toca o inquérito administrativo sobre os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral.

Na avaliação do Sr., qual o problema na troca?
A gente está em um período de muita especulação, justamente nesses períodos é necessário que a Polícia Federal faça essas trocas de uma maneira muito transparente. Explique exatamente por qual motivo um delegado está sendo trocado, o que ela visa com o novo superintendente, por que o antigo não pode continuar, quais foram as falhas, o que estava faltando… Isso é muito importante, não somente para nós delegados internamente, como para a comunicação com a própria sociedade.

O Sr. chegou a conversar com colegas da superintendência do DF e eles manifestaram preocupação? 
Os colegas da superintendência estão extremamente preocupados. É uma troca que o pessoal não estava esperando. Mas é necessário que os colegas que estão nas investigações no Distrito Federal fiquem bastante tranquilos e também que todos os delgados do País não recebam recado de quem alguém está sendo trocado por motivação política. Isso a gente não abre mão. Nós não vamos permitir intervenção política na Polícia Federal ou pelo menos ela não vai ocorrer sem que nós nos manifestemos. Talvez esse seja o recado mais importante que a gente precisa dar para a sociedade: os delegados de Polícia Federal não vão permitir trocas políticas na corporação. É por isso que é muito necessário que, todas as vezes que os trocas ocorram, tenha uma fundamentação muito transparente e objetiva a respeito. 

Soa estranho que o diretor-geral tenha trocado, em cinco meses, um superintendente que ele próprio indicou?
Enquanto o diretor-geral estava montando a equipe, nós podemos ficar preocupados, mas a gente entende que ele tem o direito de montar a equipe dele. Agora quando começa a movimentar demais, tirando pessoas que ele próprio indicou, sem explicar muito bem, com investigações importantes lá… Pode não ser nada, pode ser só uma questão administrativa, mas a preocupação como não é esclarecida vem à tona. Os colegas ficam em uma ambiente de nervosismo e a gente não quer isso. Para fazer investigação precisa de estabilidade.

Na avaliação do Sr., como está o clima em relação ao diretor-geral?
O clima entre os colegas é de uma certa apreensão. Os colegas querem saber o que está acontecendo, querem que o DG se comunique com o público interno, diga os motivos para a troca e garanta que a PF vai continuar fazendo os seus trabalhos sem maiores problemas. Os colegas não querem que alguém que esteja fazendo seu trabalho de maneira técnica e correta seja prejudicado por conta disso. O primeiro apoio que um delegado e sua equipe devem ter é da própria Polícia Federal. Nós não vamos permitir que sejam feitas movimentações políticas na Polícia Federal sem que tenhamos uma reação. É como se tivéssemos marcando um X no chão: daqui ninguém passa. Nós queremos que o nosso diretor-geral retire a Polícia Federal dessa narrativa política, que ele evite qualquer tipo de ação que coloque a credibilidade da corporação em risco. Se isso não ocorrer realmente nós teremos uma crise atrás da outra e a ADPF estará na frente protegendo o interesse da Polícia Federal e dos colegas.

O Sr. acredita que o atual diretor-geral possa enfrentar uma reação parecida com aquela vivenciada pelo Fernando Segovia [ex-chefe da Polícia Federal no governo Michel Temer que caiu após três meses no cargo]?
Na verdade, o DG já enfrenta reações. Mas que tendem a se tornarem cada vez mais fortes e públicas na medida em que ocorrerem ações como a troca do superintendente regional do DF. Os delegados esperam atitudes que possam melhorar o clima interno e passar tranquilidade a quem está exercendo as atribuições. Já há um entendimento de que o limite de episódios controversos foi ultrapassado e que é necessário os delegados agirem como classe para fazerem cessar essas crises que trazem instabilidade para a PF.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É grave a crise. Bolsonaro está forçando a barra para proteger das investigações da PF os filhos 01 a 04, à mulher 02 (Ana Cristina Valle) e a si próprio. Logo irá aprender que na vida tudo tem limites. (C.N.) 

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