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segunda-feira, maio 03, 2021

Sistema impresso é retrocesso e permite que fraudadores preencham votos em branco

 Publicado em 3 de maio de 2021 por Tribuna da Internet

Charge do Alpino (Yahoo Brasil)

Pedro do Coutto

Encontra-se em tramitação na Câmara dos Deputados um projeto de lei que restabelece o sistema antigo de votação feito através de cédulas de papel e através de cédulas únicas para as disputas para a Presidência da República, governos dos estados, senadores, deputados estaduais e vereadores.

Trata-se de um retrocesso que infelizmente tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro, não sei por quais motivos, mas ele alega que há precedentes de fraudes como a que ocorreu, no seu ponto de vista, na apuração das disputas em 2018.

TESE DA FRAUDE – Embora vitorioso nas urnas por larga margem, Bolsonaro sustenta a tese da fraude. Acha, como parte de seus seguidores também, que venceria no primeiro turno alcançando mais de 50% dos votos úteis. Nada ficou comprovado e acredito mesmo que nenhuma investigação tenha sido feita por ser desnecessária.

Um amigo meu, Filipe Campello, de conhecimento profundo sobre as urnas eletrônicas e também a respeito dos logaritmos, além de especializado em Computação, me disse que no processo eletrônico de votos só existe uma possibilidade e mesmo assim mínima da fraude.

Como cada máquina receptora possui um pendrive, embora não esteja ligada a nenhum outro sistema, o caminho dos fraudadores encontra-se restrito a substituição dos pendrives. Mas isso implicaria numa engrenagem ainda mais complexa. Teriam que ser retirados do pendrive quantidades de votos e no mesmo espaço de sua usina serem injetados outros votos exatamente no limite matemático dos votos retirados. Como os leitores estão percebendo, a fraude por esse roteiro só poderia ser muito pequena e em sessões restritas a número diminutivos.

CÉDULAS EM ENVELOPES – A partir de 1945, quando Vargas já deposto, as eleições se realizaram a 2 de dezembro. Era o seguinte: os eleitores e eleitoras podiam colocar em envelopes as cédulas de seus candidatos que disputavam o Palácio do Catete, o Senado e a Câmara Federal.  

As eleições para governador de Estado, deputados estaduais e vereadores só ocorreram em 1947. No Rio, então Distrito Federal, não houve eleição para deputados estaduais, só para vereadores. Os prefeitos eram nomeados pelo presidente da República.

O sistema de cédulas individuais foi usado nas eleições de 1950 e também no pleito de 1954. A partir de 1955, por pressão da UDN, e aceitação pelo PSB e pelo PTB, criou-se a cédula oficial. Nela, os eleitores assinalavam com um x ao lado do nome, o voto que desejassem marcar.  

BRECHA  – Havia um espaço para o voto nulo e outro espaço, esse aberto, para o voto em branco. Eis aí uma passagem para o desfiladeiro político no rumo à fraude. Era simples: bastava a conivência de fiscais e alguém colocaria um x, tornando o voto branco em nominal.

Foi com essa perspectiva desonesta que o escândalo do Proconsult tentou transformar a derrota de Moreira Franco em vitória e a vitória de Brizola em derrota. Mas não conseguiram. A computação pela Proconsult baseava-se nas manifestações eleitorais nas áreas de classe média e rica, deixando para segundo plano os subúrbios do Rio e a Baixada Fluminense.

Com isso, Moreira Franco surgia na frente. Mas o Jornal do Brasil no qual eu trabalhava tinha instalado um sistema de acompanhamento das apurações com uma vantagem; eu havia acertado com Paulo Henrique Amorim, então redator chefe, e com Ronald de Carvalho, editor, a divisão por áreas eleitorais. Isso porque para se poder analisar eleições e computação tem que se definir a projeção algébrica dos votos.

VOTOS DO SUBÚRBIO – Por exemplo, na Cidade do Rio de Janeiro, os votos do subúrbio e da Zona Oeste eram mais numerosos que os votos do Leblon, de Ipanema, de São Conrado, da Tijuca e do Grajaú. Em Copacabana, como os eleitores já estariam se perguntando, a vantagem da classe média era pequena sobre as de menor renda. Isso porque Copacabana estava repleta de apartamentos conjugados e de apartamentos com número médio de moradores acima da média das casas de renda mais alta.

Existe um bairro no Rio, que focalizo no meu livro “O voto e o povo”, era o termômetro da cidade. Por que isso? Simplesmente porque o Méier em um dos seus lados é um bairro de predominância de classe média, mas o outro tem o perfil característico de subúrbio. Esta explicação é fundamental.

PRESSÃO – Em 1982, de repente, a pressão aumentou, sentiu-se no ar. Se a fraude prevalecesse, teria que ser feita na sexta-feira, dia em que a hipótese foi colocada por mim; Paulo Henrique Amorim e Ronald de Carvalho. A conclusão foi uma só: a única possibilidade de fraude era preencher os votos em branco que estavam à disposição dos ladrões. Se não houvesse tal prática imunda o resultado real seria respeitado.

Como aliás aconteceu. Na edição de domingo,o JB publicou matéria minha na primeira página: ““Brizola consolida vitória pela margem de 126 mil votos”. Deixo o episódio para aqueles que o incorporarem na memória ou então colocarem na história moderna do país.

PAULO GUEDES –  Numa entrevista de página inteira a Thiago Bronzatto, Marcelo Corrêa e Manoel Ventura, manchete principal de domingo de O Globo, o ministro Paulo Guedes sustenta que, no governo, está tendo que lutar dez vezes mais do que pensou ao assumir o cargo de titular da Economia. Destacou como dificuldades: o relacionamento com o Congresso, com o Supremo Tribunal Federal e com a  imprensa, incluindo as emissoras de televisão.

Francamente, não sei qual a luta que Paulo Guedes trava com o STF. Com a imprensa e com a televisão a culpa do desentendimento pertence exclusivamente a ele, Paulo Guedes, pois não consegue elaborar um projeto definido de desenvolvimento econômico e social.

Pelo contrário, ele só envereda por caminhos impopulares , como é o caso do congelamento salarial, da Reforma da Previdência Social , a redução da jornada de trabalho, das desonerações fiscais que o governo estendeu a diversos setores empresariais. Além disso, ele só descompõe o funcionalismo público, acusando-o de absorver a maior parte dos recursos orçamentários.

IGP-M – Paulo Guedes não diz uma palavra sobre o IGP-M que rege a locação de imóveis. Para ele ser pobre não é uma maldição, mas uma necessidade a ser explorada. Não compreende que só pode haver avanço de receita se houver avanço de consumo.

Todos sabem que o sistema tributário em todo o mundo no final da estrada depende sempre do consumo  praticado pela população. Paulo Guedes disse ter sido um pouco ingênuo ao pensar que sua atuação no Ministério da Economia seria mais rápida do que está sendo. Guedes diz ao Globo que continua apostando na democracia e que não pensa em sair do cargo.

Entretanto, para mim, Paulo Guedes já está demitido pela opinião pública. Na Folha de São Paulo de domingo, Vinícius Torres Freire afirma que Paulo Guedes só diz bobagens sobre a saúde e a pobreza dos brasileiros. Tem razão. Da mesma forma que Flávia Lima, ombudsman da Folha, analisa o que ela considera ser o mundo de Paulo Guedes. Um universo imaginário.

JULGAMENTOS DO STF – Também na Folha, Matheus Teixeira e Camila Mattoso focalizam julgamentos do STF que envolvem a Operação Lava Jato, Dizem eles, aliás com toda razão, que o único julgamento definitivo que se encontra em pleno vigor é o que anula as sentença de Lula e permite a sua candidatura às eleições presidenciais de 2022. Os demais julgamentos que envolvem a Lava Jato encontram-se interrompidos por pedidos de vista.

Um deles a respeito da parcialidade do ex-juiz Sergio Moro. O outro sobre uma operação que ironicamente foi chamada de Vaza Jato. Essas duas não têm data para ingressarem na pauta que cabe ao ministro Luiz Fux fazer, pois ele é o presidente do STF.

PRECONCEITO – No Estado de São Paulo também de domingo, Bruna Arimateia escreve sobre a eclosão de forte preconceito racial registrado pelas mensagens de espectadores da TV Globo sobre personagens do Big Brother Brasil.

São volumes enormes de ofensas a pessoas de raça negra ou de mestiçagem evidente. As edições do programa abrangem ataques , ofensas, invenções , xingamentos, preconceitos e desqualificação das figuras atingidas.

Creio que seja este um levantamento eficaz para desmentir a frase tradicional, porém falsa, de que não existe preconceito de cor e de raça no Brasil. Os números do Big Brother provam exatamente o contrário.


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