Gustavo Schmitt
O Globo
O governador João Doria pediu o afastamento do deputado mineiro Aécio Neves do PSDB durante reunião com correligionários e líderes da sigla na noite de segunda-feira, dia 8, no Palácio dos Bandeirantes.
Doria atribui ao deputado mineiro um movimento que teria levado a uma série de traições na bancada do PSDB na eleição à Câmara dos Deputados, na semana passada, quando o partido apoiava formalmente Baleia Rossi (MDB-SP), que acabou derrotado na disputa.
EMBATES DIÁRIOS – Aécio nega ter atuado a favor de Arthur Lira (PP-AL), cuja candidatura tinha o apoio do presidente Jair Bolsonaro e acabou vitoriosa. Doria e Bolsonaro travam embates diários com vistas às eleições de 2022.
Para pessoas próximas de Doria, a ação de Aécio seria uma retaliação ao movimento do governador para tirá-lo da sigla. Em agosto de 2019, quando o PSDB rejeitou o pedido de expulsão do mineiro, Doria afirmou que o “velho PSDB esconde sujeiras” e que iria “até o fim” para expulsar Aécio, investigado na Lava-Jato.
O tucano conseguiu se livrar da punição com 33 votos a seu favor na Executiva e apenas três contra, provando o seu cacife interno. O relator do processo interno, que descartou a punição, foi o deputado Celso Sabino (PA), que, recentemente, defendeu publicamente a candidatura de Lira.
OFENSIVA – Em coletiva de imprensa nesta manhã, quando anunciou a ampliação de estações do metrô da capital, Doria confirmou sua nova ofensiva contra Aécio.
“Pedi o afastamento (…) O PSDB não deve abrir espaços para comportamentos desse tipo. Mas você não pode ter dissidências num partido que se posiciona com clareza a favor da vida, em defesa da democracia, da saúde e do meio ambiente. E deputados e senadores defendendo o oposto. Isto não é partido. Então aqueles que tenham pensamento distinto que tenham dignidade e coragem e peçam pra sair. Se tiverem coragem que saiam. É a atitude que se espera de alguém com o mínimo de dignidade. É o que se espera de um parlamentar, que foi eleito pelo voto popular. Então respeite o voto e a democracia e saia”, afirmou Doria
Réu por corrupção e obstrução de Justiça, o mineiro é acusado de receber propina do empresário Joesley Batista. Ele nega os crimes. Procurado, Aécio ainda não se manifestou.
ARTICULAÇÃO – Enquanto busca ampliar seu espaço no PSDB para uma eventual candidatura em 2022, Doria também tem atuado para atrair parte do DEM, que vive um racha interno e cuja direção nacional se nega a fazer oposição a Bolsonaro. A estratégia do tucano passaria pela filiação do deputado Rodrigo Maia e do seu vice, Rodrigo Garcia, que comanda a sigla no estado de São Paulo.
A ideia de Doria sempre foi emplacar Garcia para sucessão no governo estadual em troca de apoio do DEM numa eventual candidatura ao Planalto. Agora, porém, diante da incerteza sobre o posicionamento da sigla, a solução seria filiar Garcia ao PSDB. Os tucanos pretendem manter a hegemonia no governo do estado mais rico do país, onde governam há quase 25 anos ininterruptamente.
TRAIÇÃO – Nos últimos dias, Maia se insurgiu contra o presidente do DEM, ACM Neto, e acusa o antigo aliado de abandonar o bloco de Baleia Rossi na eleição da Câmara e se aliar ao governo Bolsonaro.
Doria vai receber ACM Neto nesta noite para um jantar no Palácio dos Bandeirantes. Mais cedo, Doria negou estremecimento na relação com o DEM. “Não há distanciamento na relação com ACM Neto, tanto que o receberemos junto com o ex-deputado e ex-ministro Mendonça Filho. Não rompemos esta relação, mas o nosso alinhamento sempre foi com o deputado Rodrigo Maia”, disse Doria.
O governador ainda frisou que quer estar junto com Maia no que chamou de “frente democrática” e frisou que sua posição e do PSDB são de oposição ao presidente Jair Bolsonaro. “Os que quiserem fazer vassalagem ao Bolsonaro que tenham coragem e dignidade de pedir pra sair do PSDB”, concluiu o governador.