por Fernando Duarte
Foto: J. Batista / Câmara dos Deputados
O governo federal está em processo de enfraquecimento e o responsável por esse início conturbado é o presidente Jair Bolsonaro. Atabalhoado e com um discurso de campanha que não chegou ao fim, Bolsonaro não desempenha a função de comandante esperada e o bate-cabeças público entre integrantes da base aliada só reforça que a “nova política” não sabe para que veio. O resultado disso é um Legislativo cada vez mais forte e que passou a subjugar o Executivo. Rodrigo Maia apenas soube aproveitar o momento oportuno para avisar: se o governo não mudar, quem determinará a agenda nacional será o Congresso e o presidente assistirá de camarote o esfacelamento da República.
O Palácio do Planalto é claudicante no relacionamento com o Congresso desde a época em que Dilma Rousseff ainda dava as cartas no país. A forma acintosa com que Eduardo Cunha pautou a Câmara nos últimos meses que antecederam o impeachment expôs a fragilidade de Dilma frente aos parlamentares. Com Michel Temer, mudaram apenas os atores, mas a lógica permaneceu idêntica. Para se salvar das denúncias de que foi alvo pela Procuradoria-Geral da República, Temer flexibilizou ainda mais as relações com o Congresso. Foi assim que Rodrigo Maia emergiu como uma força política mesmo com um DEM até então decadente. E permaneceu com poder suficiente para garantir a reeleição em um cenário de terra arrasada para uma parcela expressiva da política tradicional.
Bolsonaro sempre foi um deputado à margem da articulação política entre Planalto e Congresso. Como parlamentar do baixo clero, negociava pontualmente demandas específicas e não precisava votar conforme o “grosso” da Câmara dos Deputados. Mesmo sendo experimentado nos corredores do Legislativo federal, o agora presidente nunca foi um ás nas relações políticas. O resultado foi o discurso raivoso contra o “toma lá, dá cá”, que acontece em qualquer democracia madura – desde que feito dentro dos limites da legalidade.
Rodrigo Maia não foi eleito presidente da Câmara com o apoio do governo federal. Houve, até certo ponto, uma tensão entre ele e o ministro da Casa Civil, o correligionário Onyx Lorenzoni. Como Maia não teve o aval de Bolsonaro na eleição e o núcleo duro do Planalto – incluindo aí os filhos do presidente – não se esforçou para estreitar o relacionamento com o dirigente do Legislativo, era natural que a queda de braços acontecesse. No entanto, foi mais rápido e atingiu a linha mestra do governo: a reforma da Previdência.
Caso Bolsonaro deseje aprovar esse projeto (ele deu indicações no sentido contrário, mostrando que nem mesmo ele está convencido sobre a reforma), é urgente um recuo para mitigar os estragos da briga com Maia. Sob risco de o governo ficar inviabilizado enquanto o atual presidente da Câmara estiver no posto.
Se Rodrigo Maia apareceu com muita força nos últimos dias, a responsabilidade não é apenas dele. Apenas seguiu a máxima de Executivo fraco, Legislativo forte. E isso é mais culpa das animosidades criadas por Bolsonaro e seu entorno do que mérito do presidente da Câmara.
Ah, antes que partam para o ataque contra o Congresso Nacional, não adianta muito pressionar os deputados e senadores com as milícias virtuais. As próximas eleições para Câmara e Senado acontecem apenas em 2022 e, até lá, pouca gente vai lembrar se os deputados e senadores fizeram o governo de refém.
Este texto integra o comentário desta terça-feira (26) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.
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