Guga ChacraO Globo
Os críticos de Donald Trump dizem que o petróleo e outros interesses econômicos dos EUA são a razão de ele apoiar uma transição para a democracia na Venezuela. Pode até ser. Independentemente dos motivos, no entanto, é positivo que o governo americano esteja contra e não a favor de ditaduras, ao contrário do suporte ao repugnante e sanguinário regime da Arábia Saudita.
O mesmo vale para Jair Bolsonaro. O brasileiro adotou o lado certo na crise da Venezuela ao defender o fim da ditadura de Nicolás Maduro. Seria grave se apoiasse um ditador, como fez ao saudar ditaduras da América Latina, inclusive ao chamar de estadista o autocrata pedófilo Alfredo Stroessner, que governou o Paraguai por 35 anos.
LADO CERTO – Apoiar o jovem Juan Guaidó é estar do lado certo da História. Trump e Bolsonaro, por mais que se critiquem algumas ou muitas de suas políticas e tuítes imaturos, corretamente se posicionaram ao lado dele. O líder opositor da Venezuela, reconhecido como presidente por uma série de países, não é um populista de extrema direita ou esquerda. É um político centrista ou, no máximo, de centro-direita como Mauricio Macri, da Argentina. Longe de ter posicionamentos radicais como Viktor Orbán da Hungria.
Suas declarações são moderadas e em nenhum momento pregou a violência para derrubar o regime chavista de Maduro. O líder da oposição venezuelana organiza protestos pacíficos como observamos no seu retorno ao país. Ao deixar a Venezuela para ir para a Colômbia, muitos, inclusive eu, acharam que ele poderia se enfraquecer caso fosse preso ao retornar a Caracas. Mas Guaidó regressou, e de forma triunfal. A ditadura não teve força para prendê-lo, e milhares o receberam em comício na capital venezuelana.
OUTROS CANDIDATOS – Caso Maduro venha a ser derrubado, Guaidó tem todos os direitos de ser um dos candidatos a presidente. Embora seja uma figura nova na cena política da Venezuela, conseguiu se impor e certamente tem condições de ser um dos candidatos e mesmo se eleger. Não está claro, porém, como ele lidará com seu mentor, Leopoldo López, presidente de seu partido, Vontade Popular. Atualmente em prisão domiciliar, López sempre teve a ambição de disputar a Presidência da Venezuela.
As opções não se restringem a Guaidó e López. Se eleições democráticas fossem convocadas, Henrique Caprilles, que já disputou o cargo de presidente contra Hugo Chávez e Maduro, poderia se lançar novamente pelo centro. Haveria possivelmente candidatura de ao menos um chavista anti-Maduro na esquerda e também de figuras mais à direita e mesmo extrema direita no espectro político da Venezuela. Não seria muito distinto das eleições da França ou mesmo do Brasil.
SEM O CHANCELER – Apoiar Maduro apenas porque Trump e Bolsonaro são contra é um enorme equívoco e contribui para perpetuação da tragédia pela qual passa a Venezuela.
No caso brasileiro, corretamente o comando da estratégia para a crise em Caracas foi retirado do inexperiente e ideológico chanceler Ernesto Araújo e passado para o vice-presidente general Hamilton Mourão e setores mais preparados das Forças Armadas e do próprio Itamaraty.