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quinta-feira, março 14, 2019

Miniescândalos na mídia e a crise de identidade que mantém estagnado o Brasil


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Artigo na Der Spiegel leva a reflexões sobre o que é mesmo importante
Mathias Erdtmann
Foi publicado no site da revista alemã Der Spiegel um interessante artigo sobre um novo fenômeno social que foi observado pelo jornalista Nils Minkmar. É o chamado miniescândalo: um assunto no qual a pessoa possa se manifestar com veemência, paixão, fúria, e cuja irrelevância está acima de qualquer questionamento. Através do miniescândalo, as pessoas se comunicam socialmente, sem, na verdade, se comprometer ou se arriscar em absolutamente nada, pois se trata, por definição, de um assunto irrelevante.
Segue então listando exemplos teutônicos: as regras de vestimentas infantis nos jardins de infância, as palavras grosseiras nos cartazes da extrema direita das últimas eleições (“Eu prefiro biquini à burka”), ou, o exemplo mais recente, se o coelhinho da páscoa devia ser abolido ou renomeado “Lebre da tradição” para que a versão politicamente correta inclua a comunidade muçulmana. (O autor até ironiza: Coelho de chocolate já não faz parte da bíblia, e portanto o coelho não distingue credo).
FORMA DE FUGA – Por fim, salienta que esse foco nas discussão da polêmica irrelevante é uma forma de fuga, que mostra, na verdade, uma grave crise de identidade. No caso germânico, é um misto de medo primário de incorporar a cultura muçulmana, vergonha de relembrar a grave história da nação e fraqueza para encarar o desafiador futuro.
Enquanto ficam presos no miniescândalo, não se discute, por exemplo, a situação econômica com o fim do motor a combustão, que é a base da economia germânica. Como fazer a transição para outra economia mais moderna?
DEPENDÊNCIA – Quando eu fiz meu fim-de-curso de engenharia em Aachen, em 2006, fui convidado a uma discussão sobre a economia industrial alemã, e me surpreendi com a clareza e transparência com que o assunto foi abordado: foi exposto sem meias palavras que a Alemanha era totalmente dependente dos países subdesenvolvidos fornecedores de commodities, e gerava excedentes econômicos no beneficiamento e industrialização destes produtos, vendendo-os, sobretudo, para os mesmos países que eram donos dos commodities, com lucro.
Assim, a posição do país seria frágil, pois em algum momento estes países fariam o óbvio – beneficiamento próprio – e então, o que seria da Alemanha?
FRUGALIDADE – Embora não seja uma solução, apontou-se a frugalidade e a convivência saudável com a natureza e sociedade como um modo de se preparar para uma economia menos rentável. E dois anos depois a crise de 2008, por motivo diverso, tornou de fato a economia menos rentável e a frugalidade levou ao relativo êxito alemão dentro do bloco europeu.
Eu acho que os alemães encaram de maneira sadia e pragmática suas dificuldades, e assim, acabam conseguindo navegar e vencer as dificuldades.
E aqui, na nossa pátria amada? O Brasil, como dizem, não é pra amadores, e tudo acontece com uma energia e paixão que estão em outro nível. O nosso miniescândalo é a realização pública de ato onde um homem urina em outro (com objetivos oníricos ?!), e o problema de verdade é colocar para trabalhar um contingente de 25 milhões de trabalhadores  (desempregados-desacalentados-subempregados) e tirar 60 milhões da lista negra de devedores.
Esta força de trabalho, que representa 25% da população ativa, se empregada com eficiência equivalente à media do trabalhador ocupado, poderia elevar em 25% o PIB do país se chegarmos ao pleno emprego. 5% adicionais ao crescimento, ao ano, por 5 anos! Que evolução!
DUAS MISSÕES – A Alemanha está com a missão não trivial de manter um elevadíssimo padrão de vida sem as bases sólidas da segurança alimentar e energética, em meio a uma reinvenção cultural. O Brasil, país do mundo com a mais sólida segurança alimentar do mundo e razoável segurança energética, tem outra missão: edificar uma economia pujante e inclusiva, partindo de bases muito mais sólidas.
Ao redor do mundo a comunicação rápida e rasteira levou ao fenômeno mundial do miniescândalo. Mas é sempre importante pararmos e pensarmos no que é realmente importante, o que seríamos capazes de defender, mesmo que arriscando algo que nos é caro.

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