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segunda-feira, março 23, 2009

Avalanche de escândalos

Renato Scapolatempore
Com a sucessão interminável de escândalos no país, fica quase impossível para o contribuinte brasileiro acompanhar o que andam fazendo com o seu dinheiro. Uma denúncia se sobrepõe a outra nos jornais e quase ninguém se lembra mais daquele caso de desvio de verba pública da semana retrasada ou do mês passado.
Os envolvidos é que devem vibrar com essa avalanche de falcatruas. Edmar Moreira, o deputado do castelo, por exemplo, deve ter levantado as mãos para o céu quando, semanas depois das acusações contra ele, surgiu na imprensa a denúncia envolvendo o então diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, acusado de esconder do seu patrimônio uma casa no valor de R$ 5 milhões. Por sua vez, Agaciel, mesmo depois de afastado do cargo, certamente respirou aliviado quando o seu caso saiu do foco da mídia e foi substituído pelas notícias de pagamento de horas extras a servidores do Senado em pleno recesso parlamentar.
São apenas alguns casos, exemplos, mas que ilustram bem o que anda acontecendo no país: o escândalo mais recente tem jogado para o esquecimento o escândalo anterior.
Depois falam que o brasileiro não tem memória. Como ter memória de tanta coisa errada? Quem é capaz de se lembrar de todas as operações feitas nos últimos tempos pela Polícia Federal para desmontar quadrilhas que, não raro, tinham políticos entre seus integrantes? Quem tem memória de elefante para contar quantos escândalos estouraram no Congresso de uns cinco anos para cá?
Daqui a pouco vamos esquecer também do escândalo do mau uso da verba indenizatória (aqueles R$ 15 mil destinados aos parlamentares federais para custear despesas do mandato, como aluguel, material de escritório, locomoção etc.) e que envolveu Edmar Moreira, acusado de usar o dinheiro para pagar uma empresa de segurança de sua família.
Nesse caso específico, o Congresso agiu. Câmara e Senado decidiram que a partir de agora vão informar pela internet todos os gastos feitos pelos senhores deputados e senadores. O problema é que a aparente transparência mostrada pelas mesas diretoras das duas casas ainda está muito embaçada. Isso porque decidiram que só divulgarão as despesas que os parlamentares vão fazer daqui para frente. O que foi gasto nos últimos dois anos e dois meses de mandato vai continuar trancado na caixa-preta.
Pode parecer besteira exigir que o Congresso informe as despesas dos últimos 26 meses, mas basta fazer uma rápida conta para perceber que não é bem assim. A conta é a seguinte: multiplique os R$ 15 mil que cada um dos 513 deputados e 81 senadores recebeu mensalmente nos 26 meses de mandato. Como resultado, teremos que foram gastos com pagamento de verba indenizatória nesse período R$ 231,66 milhões.
Para onde foi esse dinheiro? Nós, brasileiros, não vamos saber por que o Congresso simplesmente decidiu que não vai mexer no passado. Como se nos dissessem: quem quiser que acredite que os parlamentares usaram a verba corretamente. Quem tiver dúvida sobre a destinação dos recursos que vá reclamar ao papa.
Se as mesas da Câmara e do Senado queriam mesmo moralizar o uso da verba indenizatória, deveriam ter dado prazo de alguns dias para que deputados e senadores colocassem à disposição todas as informações sobre os gastos que tiveram durante o mandato, comprovados com as devidas notas fiscais. Se dizem que não têm mais como provar esses gastos, é porque, primeiro, não têm zelo com a coisa pública. Segundo, porque podem estar escondendo problemas muito graves nessas contas e elas merecem investigação.
Fonte: Estado de Minas (MG)

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