Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA – Com todo o respeito, mas o dia não foi nada bom para o presidente Lula. Falamos de ontem, no palácio do Planalto. Começou com a tal reunião de coordenação, isto é, um bate-papo que s. excia. assiste entre seus principais auxiliares palacianos, daqueles que o fazem informado do que se passa no País. Isso porque continua recusando-se a ler os jornais do dia, ouvir os noticiosos das rádios enquanto escova os dentes ou a assistir ao “Bom Dia Brasil” e penduricalhos durante o café.
Depois, foi a vez do coordenador político, José Múcio, frustrado e frustrando o chefe por não ter conseguido convencer o senador Tião Viana a desistir de concorrer à presidência do Senado em favor da unção de José Sarney. A equação continua insolúvel. À tarde, não propriamente um despacho, mas a esperada conversa com Dilma Rousseff, quando, diz, pela primeira vez o presidente colocaria em termos claros a candidatura da chefe da Casa Civil. Como se fôssemos ingênuos para acreditar que pelo menos há um ano o assunto não venha sendo tratado por eles.
Pouco depois, Tarso Genro, ministro da Justiça, que de público endossa o nome de Dilma, mas em particular, alerta até o Lula para a fraca performance dela nas pesquisas. Um problema para o PT e seu cacique maior.
Finalmente, para aumentar a dor de cabeça presidencial, que já devia estar avançada, Roberto Mangabeira Unger. Nem na CNBB as exposições costumam ser tão esotéricas, complicadas e macarrônicas, acrescendo que o ministro do Futuro fala um português americanizado e pernóstico. Explicou-se a Estratégia Nacional de Defesa, o presidente Lula não entendeu nada, aliás, como todo mundo. Informou-se que Barack Obama quer conversar com Lula, mas “na ocasião oportuna”, mais aspirinas.
Em suma, um dia de sacrifício que talvez tenha sido compensado à noite, quando o casal Silva, apesar das negativas, não perde um só capítulo de “A favorita”...
Uma campanha nada alegre
Anuncia a CNBB como mote para sua campanha anual a luta contra a corrupção. Mais uma vez, contará com a unanimidade da opinião pública, exceção, é claro, dos corruptos. É aqui que, com todo o respeito, haverá o diabo. Porque a corrupção, de ano a ano, mais finca suas estacas na vida nacional. Não apenas no serviço público e nos poderes instituídos, do Executivo ao Legislativo e ao Judiciário.
No mundo privado parece até pior. Dos banqueiros ao pintor de parede, dos megaempresários ao prestador dos serviços mais elementares, todos querem levar vantagem em tudo. Trata-se de uma questão de mentalidade, claro que distorcida, mas não há como evitá-la, a não ser pelas denúncias a que se propõem os bispos brasileiros. Tomara que levem adiante a nova campanha começando pelo começo, ou seja, fulanizando senão todos, ao menos os megacorruptos e seus artifícios. A CNBB dispõe de potencial para não esmorecer. Vamos aguardar.
Trágicas lembranças
O ano de 2008 prestou-se a montes de reportagens, artigos, comentários e imagens lembrando a passagem dos quarenta anos da edição do Ato Institucional número 5. Prepare-se a mídia, porque 2009 servirá para a exposição de outra crise, tão ou mais dramática e amarga do que a anterior.
Foi lá para maio de 1969 que o presidente Costa e Silva despertou. Havia assinado o AI-5, instrumento de horror e opróbio. Deveria ter resistido aos radicais, mas cedeu. Todos os excessos passaram a ser praticados em seu nome, desde a censura, a tortura, as cassações e tudo o mais que se imaginasse. Na maior parte dos casos, a iniciativa partia de escalões inferiores, sem seu conhecimento, ainda que a posteriori tivesse de endossá-los. Disposto a não passar à História como mais um general sul-americano que golpeou as instituições, palavras dele, o velho marechal buscou ajuda junto ao vice-presidente Pedro Aleixo, voz que em 13 de dezembro de 1968 havia se pronunciado contra o AI-5. Acertaram a estratégia de preparar uma reforma na Constituição, reabrindo o Congresso então posto em recesso e, como peça de resistência, revogando o AI-5. A reação dos radicais foi intensa, mas, daquela vez, o presidente estava decidido a enfrentá-los.
Uma comissão de juristas colaborou para preparar as alterações constitucionais e, quando agosto chegou, estava tudo pronto, não obstante a oposição dos ministros militares e outros. Marcou-se o Sete de Setembro para a reabertura de Câmara e Senado e a extinção da legislação excepcional, com o AI-5 à frente.
Uma semana antes, Costa e Silva foi acometido dos primeiros sinais de um acidente vascular-cerebral. Em poucos dias perdeu a voz e os movimentos do lado esquerdo do corpo. Antes de caracterizar-se sua impossibilidade de continuar governando, tentou assinar o nome numa folha de papel. Não conseguiu. A caneta caiu-lhe da mão e, em pranto convulsivo, entrou em estado de coma. Mais tarde, sem haver recuperado voz e movimentos, mas raciocinando normalmente, confirmou por gestos que a tentativa era para extinguir o AI-5. Nos regimes constitucionais, como regra, quando um presidente da República fica impedido temporária ou permanentemente de exercer o governo, é substituído ou sucedido pelo vice-presidente. Só que não foi assim. Os chefes militares que não tiveram coragem para insurgir-se contra a decisão de Costa e Silva de extinguir o AI-5, aproveitaram-se do vazio de poder e, em vez de providenciarem a posse do dr. Pedro, simplesmente mandaram prendê-lo. Usurparam o poder, formando uma Junta Militar. Depois, foi o caos. “Por que eles e não eu?” – perguntavam-se os generais.
A esquerda radical deu sua contribuição, sequestrando o embaixador dos Estados Unidos, Charles Burk Elbrick. Não havia know-how para sequestros de embaixadores. Desde o Tratado de Westfália, em 1648, que as figuras de representantes diplomáticos eram respeitadas.
Os Estados Unidos ainda não haviam criado sua doutrina e exigiram que a Junta Militar cumprisse todas as exigências dos sequestradores: mandar presos políticos para o México, distribuir comida gratuita nas favelas do Rio, por caminhões do Exército, e ler, no “Jornal Nacional”, um manifesto subversivo.
O embaixador foi solto e a confusão ampliou-se. Decidiram as Forças Armadas escolher outro general, o que fizeram através de “eleições diretas” onde o povo não podia votar, mas apenas os generais, almirantes e brigadeiros do serviço ativo. O escolhido foi o mais apagado do Alto-Comando, o general Garrastazu Médici, que ao assumir prometeu deixar a democracia definitivamente instalada no País ao término de seu mandato.
Não deixou.
Pelo contrário, jamais se censurou e torturou tanto como naquele período de quatro anos, quando foi sucedido por outro general, Ernesto Geisel, que também usou e abusou do AI-5, revogado apenas nos últimos meses de seu governo.
Fonte: Tribuna da Imprensa
Certificado Lei geral de proteção de dados
Em destaque
Injustiça a um magnífico reitor, em meio à mediocridade da política brasileira
Publicado em 14 de novembro de 2024 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email José Carlos Azevedo, um reitor notável na UnB Vi...
Mais visitadas
-
Essa lista preliminar de secretários na administração de Tista de Deda em Jeremoabo traz a expectativa de que todos assumam com compromiss...
-
. A recente tentativa do prefeito de Jeremoabo e seu conluio de , de contestar o resultado eleitoral que favoreceu Tista de Deda parece te...
-
. Em Jeremoabo, há uma situação tensa envolvendo o descumprimento de uma determinação judicial por parte da administração do prefeito e ...
-
A recente decisão judicial que suspendeu o concurso público em Juazeiro, no Sertão do São Francisco, traz à tona uma série de questões que...
-
O texto traz uma denúncia de hostilidade contra a Igreja Católica em Jeremoabo, destacando um episódio específico em que um indivíduo conhec...
-
O comportamento do prefeito após a derrota nas eleições revela um profundo desespero e uma atitude de retaliação contra os cidadãos que, e...
-
. Mais uma vez, a tentativa de reverter a decisão judicial sobre a vitória de Tista de Deda em Jeremoabo se mostrou infrutífera. O recente...
-
Promessa antes das eleições: Depois da derrota das eleições: O episódio envolvendo o Moto Fest 2024 em Jeremoabo é emblemático do uso polí...
-
JUSTIÇA ELEITORAL 051ª ZONA ELEITORAL DE JEREMOABO BA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (11527) Nº 0600425-35.2024.6.05.0051 / ...
-
A situação relatada em Jeremoabo, envolvendo o suposto concurso público fraudulento, reflete uma prática recorrente em algumas gestões púb...