Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Tanto faz se em Berlim, no Texas ou na Cirjordânia, muro é muro em todo lugar do mundo. Serve para impedir que pessoas e veículos transitem de um lugar para outro. Configuram violência, quando erigidos pelos que dominam um dos lados, para obstar a liberdade do outro.
Fora iniciativas menos conhecidas, sabe-se que os Estados Unidos construíram e continuam construindo um muro de 3 mil quilômetros de extensão para separar o país do México, ou seja, impedir que mexicanos ingressem irregularmente em seu território. A mesma coisa faz Israel, na Cirjordânia e também na Faixa de Gaza, visando evitar que palestinos empenhados no terrorismo cruzem abertamente a fronteira.
As duas motivações têm seu peso. Afinal, uns não querem imigrantes ilegais e despreparados inundando seu mercado de trabalho. Outros pretendem defender-se de homens-bomba e sucedâneos. O problema é que para evitar minorias, penalizam maiorias.
O problema é que muro é muro. Se unilateral, imposto pela força, caracteriza lesão fundamental aos direitos individuais. Porque não serão terroristas todos os palestinos que cruzam a fronteira para trabalhar em Israel.
Pelo contrário, formam mão-de-obra imprescindível ao funcionamento da economia local, agora punidos pela truculência do mais forte. Muito menos serão bandidos os mexicanos e outros latino-americanos que atravessam o deserto para encontrar sobrevivência na nação mais rica, aliás, bem aceitos quando dispostos a enfrentar trabalho braçal e vil.
O diabo nessa história é que o mundo veio abaixo quando os russos implantaram o muro de Berlim para acabar com o êxodo dos alemães orientais para o Ocidente. A imprensa do chamado mundo livre não perdoou. Milhares de imagens chegavam todos os dias através dos jornais e das telinhas, mostrando a vergonha de um regime posto na defensiva, obrigado a impedir a fuga de seus cidadãos. Protestos de toda espécie ganharam corações e mentes de meia Humanidade. Era o Muro da Vergonha, tão bem explorado pelo presidente Ronald Reagan nos estertores da destruição do regime comunista.
E quanto aos muros que violentam palestinos e mexicanos, não merecem uma censura sequer? Não haveria outra forma de limitar o ingresso de cidadãos indesejáveis, terroristas ou despreparados, até malandros, em meio à multidão agora privada de sua liberdade? Quer dizer, muro a favor pode. Muro contra, não.
Patrus sim, Mangabeira, não
O presidente Lula surpreendeu todo mundo, semanas atrás, ao nomear o ministro Mangabeira Unger coordenador do projeto Amazônia Sustentável. Primeiro por haver garfado a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que por isso pediu demissão.
Afinal, o ministério dela, transferido a Carlos Minc, encontra-se no âmago da questão amazônica. Minc acomodou-se, depois de tentar dar o golpe de João Sem Braço imaginando subordinar Mangabeira às suas diretrizes.
Mesmo assim, fica exposta a trapalhada, porque o Ministério do Futuro é daquelas criações insossas, informes e inodoras, sem objetivo específico, risco mais do que óbvio para o plano da Amazônia.
Está o presidente Lula oferecendo outro enigma ao seu governo. Resolveu desafogar as atribuições de Dilma Rousseff, tirando-lhe a coordenação da Câmara de Políticas Sociais, e anunciou para os próximos dias a designação do novo ministro-coordenador.
Há, no ministério e no País inteiro, a concepção lógica de que o coordenador tem que ser o ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social. Afinal, a ele coube desbastar o cipoal dos primeiros meses do primeiro mandato e concentrar o fome-zero, o bolsa-família e outros projetos numa estrutura sólida e reconhecidamente eficaz.
O problema é que o presidente Lula não pauta suas decisões pela lógica. Costuma dar sustos em sua equipe. Estará pensando em aproveitar outra vez Mangabeira Unger, que um dia desses encontrará o que fazer? Ou vai pinçar alguém sem a menor relação com os programas sociais? Ninguém se espante se vier a ser Miguel Jorge, do Desenvolvimento Industrial, ou Edison Lobão, das Minas e Energia?
Ação coordenada
Em sete estados, foram invadidas e ocupadas pelo MST as instalações urbanas do Incra. Tudo no mesmo dia, na mesma hora, com a utilização de dezenas de ônibus para facilitar o transporte dos invasores, sem falar na infra-estrutura de lanches e refeições preparados em cozinhas de campanha, colchonetes, cobertores, alto-falantes e, como folclore, até foices e facões.
Alguém duvida de uma coordenação meticulosa por parte da direção dos sem-terra? Espontâneas essas coisas não são. Integram um plano estratégico que visa colocar o poder público federal na defensiva e os governos estaduais às voltas com a defesa da ordem e do patrimônio estatal.
Fechamento de rodovias, assalto a postos de pedágio, interrupção do tráfego ferroviário, ocupação de usinas geradoras de energia, depredação de culturas experimentais e de laboratórios de empresas privadas - quanta coisa a mais tem praticado o MST, tão distante da reforma agrária quanto o Ronaldo Fenômeno do time do Milan?
O grave na história da distorção das finalidades do movimento está na complacência do governo. Porque a Abin, para não falar em outros organismo de informação, acompanha as atividades do MST. Tem seus informantes infiltrados nos acampamentos e até na cúpula. Avisado com antecedência, o Palácio do Planalto terá sido, mas alguma iniciativa foi tomada para afirmar a autoridade pública? A gente fica pensando se tolerância, nesse caso, não será cumplicidade...
Pela milésima vez, vale completar: o MST exprime o que de mais moderno, justo e eficaz aconteceu no Brasil nas últimas décadas. Mas perde-se quando dá de ombros para a reforma agrária e rapidamente transforma-se num instrumento de ação subversiva, sabe-se lá com que propósitos. Será que as Farc estão dando filhotes?
Tudo indexado, menos...
Não se contenta o governo em celebrar mais aumento de arrecadação no País, mesmo à custa do cidadão comum e das pequenas empresas, já que as grandes dispõem de instrumentos para não pagar e para protelar, na Justiça, os impostos devidos.
Porque na mesma semana em que a Receita Federal solta foguetes pelos bilhões a mais recolhidos aos cofres públicos, anuncia o Palácio do Planalto o envio ao Congresso de projeto de lei aumentando em 64% o valor das multas de trânsito. A alegação é a necessidade de recuperar a inflação registrada desde o ano 2000. Não é bem assim, porque na maioria dos estados as multas têm crescido mais do que os gastos públicos.
Não bastasse o aumento continuado dos combustíveis, para não falar hoje nos alimentos e nos telefones, a pergunta que se faz é como ficam o caminhoneiro, o motorista de táxi e quantos outros fazem do volante a sua profissão. Mais do que eles, porém, como fica o assalariado que não pertence a categorias fortes e organizadas, capazes de compensar a inflação com reajustes anuais. Porque a maioria dos que vivem de salário acima do mínimo assiste minguar seu poder aquisitivo sem forças para exigir sua compensação.
O cidadão comum foi deixado à míngua, desde os governos do sociólogo, quando suprimiram gatilhos e outros expedientes estabelecidos como regra pelo poder público. O Estado abandonou suas bases, vale repetir, à exceção do salário mínimo, apregoando o fim da indexação. Só que apenas da indexação dos vencimentos mensais, porque tudo o mais encontra-se indexado, formal ou informalmente. Quem vai à feira ou ao supermercado sabe muito bem do que falamos. Agora, também os que recebem multa de trânsito...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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quinta-feira, julho 24, 2008
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