Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - A demissão da ministra Marina Silva reacendeu a disputa travada faz décadas ou até séculos pela soberania na Amazônia. Aproveitam-se os eternos abutres do Hemisfério Norte para voltar à velha cantilena de constituir-se a região em patrimônio da humanidade, devendo ser administrado por um poder internacional, sobreposto aos governos dos países amazônicos. Editorial do "New York Times', no fim de semana, funciona como uma espécie de toque de corneta capaz de arregimentar as variadas tropas de assalto.
Vinte anos atrás se incrementou a blitz institucionalizada por governos dos países ricos, de Al Gore, nos Estados Unidos, para quem o Brasil não detinha a soberania da floresta, a François Mitterrand, da França, Felipe Gonzales, da Espanha, Mikhail Gorbachev, da então União Soviética, Margaret Thatcher e John Major, da Inglaterra, entre outros.
Quando de sua primeira campanha, George W. Bush chegou a sugerir que os países com grandes dívidas externas viessem a saldá-las com florestas, coisa equivalente a perdoar os países do Norte da África e do Oriente Médio, que só têm desertos.
Naqueles idos a campanha beirava os limites entre o ridículo e o hilariante, porque para fazer a cabeça da infância e da juventude, preparando-as para integrar as forças invasoras, até o Batman, o Super-Homem, a Mulher Maravilha e outros cretinos fantasiados levavam suas aventuras à Amazônia, onde se tornavam defensores de índios e de cientistas lourinhos, combatendo fazendeiros e policiais brasileiras desenhados como se fossem bandidos mexicanos, de vastos bigodes e barrigas avantajadas.
Depois, nos anos noventa, a estratégia mudou. Deixou-se de falar, ainda que não de preparar, corpos de exército americanos especializados em guerra na selva. Preferiram mandar batalhões precursores formados por montes de ONGs com cientistas, religiosos e universitários empenhados em transformar tribos indígenas brasileiras em nações independentes, iniciativa que vem de vento em popa até hoje.
Devemos preparar-nos para uma nova etapa, estimulada pela renúncia de Marina Silva, que entra de gaiata na história, pois jamais defendeu a internacionalização da floresta.
Aliados à quinta-coluna brasileira composta por ingênuos e por malandros, são a impressão de não apenas recrudescer na tentativa de afastar o governo brasileiro da questão. Terá sido por mera coincidência que os Estados Unidos anunciaram, dias atrás, a criação da Quarta Esquadra de sua Marinha de Guerra, destinada a patrulhar o Atlântico Sul, reunindo até porta-aviões nucleares?
Do nosso lado, bem que fazemos o possível, aparentemente pouco. Não faz muito que uma comissão de coronéis do Exército Nacional, chefiados por dois generais, passaram meses no Vietnã, buscando receber lições de como um país pobre pode vencer a superpotência mais bem armada do planeta, quando a guerra se trava na floresta. Do general Andrada Serpa, no passado, ao ex-ministro Zenildo Lucena, aos generais Lessa, Santa Rosa e Cláudio Figueiredo, até o general Augusto Heleno e o coronel Gélio Fregapani, agora, a filosofia tem sido coerente.
Nossos guerreiros transformam-se em guerrilheiros. Poderão não sustentar por quinze minutos um conflito convencional, com toda a parafernália eletrônica do adversário concentrada nas cidades, mas estarão em condições de repetir a máxima do hoje venerando general Giap: "Entrar, eles entram, mas sair, só derrotados".
Em suma, pode vir coisa por aí, para a qual deveremos estar preparados, claro que não através da pueril sugestão do quase novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, de transformar soldados em guarda-caças ou guardas florestais. Os povos da Amazônia rejeitaram, na década de setenta, colaborar com a guerrilha estabelecida em Xambioá, mas, desta vez, numa só voz, formarão o coro capaz de fornecer base para a ação militar nacional.
Para aqueles que julgam estes comentários meros devaneios paranóicos, é bom alertar: por muito menos transformaram o Afeganistão e o Iraque em campo de batalha, onde, aliás, estão longe de sair vitoriosos, apesar de enfrentarem o deserto e não a selva, mil vezes mais complicada...
Votarão contra, mas...
Cresce nas lideranças do PMDB a impressão de que o PT não entregará o poder em 2010, qualquer que seja a fragilidade de um companheiro ou companheira porventura lembrada como candidatos. Na hora em que perceberem que vão perder a eleição, e isso acontecerá no começo de 2009, os petistas e penduricalhos forçarão o Congresso a aprovar a realização de um plebiscito sobre o terceiro mandato para o presidente Lula.
E contarão com a maioria das bancadas do PMDB, ainda que os caciques do partido, para salvar as aparências, venham a dizer-se contra. Para não entregar o ouro ao bandido, ou seja, a um tucano, os atuais detentores do poder farão o impossível. Quanto mais o possível, que seria repetir o golpe dado por Fernando Henrique Cardoso nas instituições democráticas, ao impor a deputados e senadores sua reeleição no exercício do cargo.
De uma evidência o PMDB não duvida: chamado a pronunciar-se sobre o terceiro mandato, o eleitorado confirmará a hipótese, por ampla maioria. Dos que recebem o bolsa-família aos banqueiros, especuladores e demais grandes empresários, todos dirão presente e contribuirão para a permanência do presidente Lula. Quanto ao próprio, apesar da sinceridade com que rejeita a proposta, acabará curvando-se à decisão da maioria. Querem apostar?
Bi-presidente?
Política é como as nuvens, dizia Magalhães Pinto. A gente olha, estão formando um elefante, com tromba e tudo. Segundos depois, parece um avião.
Michel Temer, presidente do PMDB, é candidato declarado a presidir a Câmara no biênio 2009-2010. Pelo jeito, pode desde já celebrar a vitória. Os estatutos do partido não impedem que continue dirigindo o PMDB. Aí está exemplo do dr. Ulysses, que chegou a ser tri-presidente, pois além dos dois cargos exercia também o de presidente da Assembléia Nacional Constituinte. Sem falar nas vezes em que assumiu a presidência da República, durante as viagens de José Sarney ao exterior.
Mesmo assim, existem pressões para que Michel deixe a presidência do PMDB. Um nome de consenso para sucedê-lo é o do ex-presidente da Câmara, ex-embaixador e hoje presidente de honra do partido, Paes de Andrade. Ele conta com o apoio de 21 dos 27 diretórios estaduais e com a simpatia de Michel Temer, mas duas outras candidaturas se colocam: do deputado Eliseu Padilha, do Rio Grande do Sul, secretário-geral do PMDB, e da deputada Íris de Araújo, de Goiás, primeira vice-presidente. Há quem suponha que se o processo enrolar, Michel Temer poderá alegar o exemplo de Ulysses Guimarães, mas, nesse caso, o sempre rachado PMDB rachará mais ainda.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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