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sábado, novembro 19, 2022

Origem e males trazidos pelo identitarismo são decifrados por Risério num conjunto de ensaios

Publicado em 18 de novembro de 2022 por Tribuna da Internet

Capa do livro A Crise da Política Identitária, de Antonio Risério

Ensaios mostram os lados negativos do identitarismo

Demétrio Magnoli
Folha

O “ópio dos intelectuais”, como o qualificou Raymond Aron, já não é o marxismo, mas o identitarismo. Sua origem, história, morfologia e linguagem são decifradas em “A crise da política identitária”, conjunto de ensaios lançado pela TopBooks e organizado por Antonio Risério, intelectual condenado no Santo Ofício da IRUD (Igreja Racialista dos Últimos Dias) e expurgado desta Folha.

São mais de 550 páginas, 20 ensaios inéditos, uma entrevista e alguns artigos de jornal (inclusive deste colunista). Os autores não formam um exército ideológico. Como explica o organizador, “o tom vai de um extremo a outro: da recusa à procura do diálogo”. Há, inclusive, autores favoráveis a cotas raciais nas universidades.

EM LUGAR AMBÍGUO – A doutrina identitária habita lugar ambíguo. Nasceu na universidade e exibe-se como saber acadêmico, mas opera como movimento social e rejeita a aplicação das regras do método científico na avaliação de suas próprias teses.

Wilson Gomes perscruta esse labirinto e oferece um manual sobre suas táticas polêmicas. Uma delas: diante de uma crítica a uma premissa do movimento identitário negro, “o crítico deve ser acusado de racista” e, “se possível, de supremacista branco e fascista”. Você já leu isso, não?

Ricardo Rangel investiga a prática do “cancelamento” literário. Seu registro: “Ao tornar aceitável o banimento de obras culturais, a esquerda identitária dá à direita o argumento (‘se eles censuram, por que eu não posso?’) de que precisa para perseguir obras que interessam à causa do combate ao preconceito”. De passagem, desvenda as contradições do discurso feminista radical aplicado às aventuras de Meghan Markle. Aí, você vai gargalhar —a não ser que seja uma delas…

COLONIZAÇÃO DA FOLHA – Barbara Maidel ilumina a colonização identitária da Folha – não as colunas de opinião, mas o noticiário. Daria excelente ombudsman pois olha o jornal como leitora que acreditou no compromisso de busca da objetividade, não como juiz da “opinião verdadeira”.

Já Pedro Franco desvia o holofote para a absorção do identitarismo pelas corporações, indicando suas consequências imprevistas. Sugiro a leitura, especialmente, a executivos engajados na moda de ESG.

Identitários amam quantificação, mas seguem a receita de Churchill: “Só devemos acreditar em estatísticas que nós mesmos fabricamos”.

MANIPULAÇÃO DE DADOS – César Benjamin e Bruna Frascola anotam instâncias de manipulação de estatísticas sobre as relações entre cor de pele e pobreza no Brasil. Gustavo Alonso narra a história da campanha virtual pelo vira-lata na cédula de 200 reais para concluir que, apesar de tudo, continuamos apegados à noção antirracista de miscigenação.

“O identitarismo é uma das formas mais poderosas de americanização da política e das relações sociais hoje no mundo”, constata Wilson Gomes.

A doutrina surgiu nos EUA e, na sua versão de esquerda, tomou de assalto o Partido Democrata, produzindo resultados catastróficos. Empurrou os eleitores brancos para a extrema direita e “deu a Trump os elementos para fomentar um identitarismo de direita baseado na identidade do homem branco”.

EFEITO TRUMP – Raphael Garcia cita uma frase de Steve Bannon, guru da direita nacionalista nos EUA e amigo do peito de Eduardo Bolsonaro: “Enquanto vocês estiverem falando de políticas de identidade, nós ganharemos”.

Lá, a vitória de Trump deflagrou uma onda de críticas de esquerda à obsessão identitária. Aqui, onde tudo chega mais tarde, a igreja identitária vive seu apogeu, que coincide com a cavalgada triunfante da direita nas eleições para o Congresso.

O livro oferece muito mais. Nele, há brilhantes análises conceituais ao lado de inúmeras hipóteses problemáticas. Tem dupla vocação. Numa ponta, material inflamável para as fogueiras inquisitoriais acesas em cerimônias de purificação identitária. Na outra, leitura instigante para mentes que acreditam no debate honesto.

 

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