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quarta-feira, novembro 30, 2022

Lula está no meio do caminho entre obter consensos ou perigosa crise de confiança


Charge da semana - Revista Oeste

Charge do Schmock (Revista Oeste)

William Waack
Estadão

O grande teste para o presidente eleito Lula é conseguir pular a própria sombra. Não se trata apenas da sombra deixada pelos escândalos de corrupção do período petista no poder, um dos fatores essenciais para se entender a oposição ao novo/velho governante.

A grande sombra que Lula precisa pular é a de sua própria geração. É a que, na saída do regime militar, acreditou que a redemocratização e tudo o que se escreveu na Constituição automaticamente levariam à solução de desigualdade, miséria, ignorância, violência e doença.

CONTRATO SOCIAL – Essa geração adotou um “contrato social” que fez subir constantemente os gastos do setor nas últimas décadas, não importando qual governo. Ocorre que o País quebrou tentando financiar esse estado de bem-estar social. É este o grande pano de fundo do debate em torno da PEC da Transição.

Ao se tentar entender como uma parcela relevante dessa geração – a atual velha-guarda do PT – orientou sua ação política, é fundamental considerar o peso das ideias. Uma das mais centrais na formação dos dirigentes petistas é a que atribui ao Estado o principal papel nas transformações, sobretudo para transferência de renda como instrumento de combate à desigualdade.

A julgar pelo que se ouve da equipe de transição, o cerne desses postulados não se alterou. Sucessivos pronunciamentos de Lula indicam que essa “visão de mundo” (aumento dos gastos sociais via impostos e endividamento) continua orientando a velha-guarda que o cerca.

PODER POLÍTICO – Mas essa geração enfrenta uma questão crucial de difícil solução. Para ficar em apenas um aspecto, o do poder político, ele se alterou substancialmente, dificultando a ação do PT tanto em função do desequilíbrio entre os Poderes (Judiciário e Legislativo avançaram sobre o Executivo) quanto pela deterioração dos partidos políticos e a predominância do patrimonialismo no Legislativo.

A margem de manobra política diminuiu ainda mais por causa da amplitude da oposição extra parlamentar, talvez mais significativa que a parlamentar. Nos dois âmbitos tornou-se imperioso o salto rumo a um amplo entendimento, no qual o partido teria de abdicar de boa parte da posição de comando – algo a que nunca se dispôs.

Sabe-se que o sapo não pula por boniteza, mas por precisão. O pulo do sapo rumo à necessária frente ampla (entendida como “concertación” e não como ajuntamento de siglas sob a direção do PT) está neste momento no meio caminho entre criar uma rota de consenso para tirar o País da estagnação ou provocar uma perigosa crise de confiança. É enorme o tamanho da sombra de uma geração.

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