Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

domingo, novembro 27, 2022

Seis partidos concentram verbas de emendas do relator

 

Seis partidos concentram verbas de emendas do relator

por Mateus Vargas | Folhapress

Imagem sobre Seis partidos concentram verbas de emendas do relator
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

PP, PL, PSD, MDB, União Brasil e Republicanos dominam a distribuição das verbas das emendas de relator, mostra levantamento do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e do Observatório do Clima.
 

As entidades identificaram os padrinhos de R$ 5,8 bilhões já pagos em 2022 a partir desses recursos que se tornaram moeda de troca do governo Jair Bolsonaro (PL) em negociações com parlamentares. Os seis partidos respondem por 81% dos valores indicados por deputados e senadores.
 

Na liderança, os parlamentares do PP emplacaram R$ 706 milhões, e R$ 127 milhões são atribuídos ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ele é o maior beneficiado da verba já desembolsada.
 

O levantamento cruzou dados de ofícios dos parlamentares com informações da execução do Orçamento entre janeiro e o fim de outubro.
 

No total, há R$ 16,5 bilhões aprovados para emendas de relator em 2022. Foram empenhados R$ 8,64 bilhões, etapa em que o recurso é reservado para uma despesa, e o governo pagou R$ 7 bilhões.
 

Em geral, a maior parte do recurso é empenhada nos últimos dias de dezembro.
 

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), criticou a distribuição das emendas de relator durante a campanha, mas a equipe de transição de governo não deve se esforçar agora para mudar a forma de distribuição da verba.
 

Esse tipo de emenda também é conhecida como RP9 e é caracterizada pela falta de transparência sobre quem pede a distribuição da verba.
 

Alessandra Cardoso, assessora do Inesc, diz que o levantamento reforça a necessidade de o STF (Supremo Tribunal Federal) declarar esse tipo de emenda inconstitucional.
 

"Ainda que a maior parte vá para a saúde ou educação, o critério de repartição não é pela necessidade, prioridade ou republicano, é um critério político e ligado a esses grupos de interesse", disse Cardoso.
 

Para ela, o modelo está drenando "toda a capacidade do Estado de executar o Orçamento discricionário".
 

Dos partidos que dominam as indicações de emendas, PSD, de Gilberto Kassab, e MDB se aproximaram de Lula e têm integrantes na equipe do governo de transição.
 

"Hoje, de cada R$ 100 reservados para despesas não obrigatórias, como para o combate ao desmatamento, pelo menos R$ 15 são distribuídos sem nenhuma transparência, de acordo com a vontade de parlamentares", disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
 

Ele afirma que "esse é o dinheiro que falta para combater o crime ambiental, para as farmácias populares e para matar a fome de milhões de brasileiros que hoje não têm o que comer".
 

Após cobrança do STF por maior transparência sobre as emendas, o Congresso passou a divulgar neste ano na internet ofícios de parlamentares com as indicações de distribuição da verba.
 

Ainda assim, os parlamentares encontraram brechas para esconder o verdadeiro padrinho da emenda. Isso porque pessoas registradas no sistema como "usuário externo", que não são deputados ou senadores, têm assinado as indicações.
 

O levantamento conseguiu identificar cerca de R$ 1,85 bilhão pago pelo governo em 2022 a partir da indicação feita por esses usuários.
 

A PF (Polícia Federal) prendeu em outubro os irmãos Roberto Rodrigues de Lima e Renato Rodrigues de Lima, que atuavam como intermediários na captação da verba de RP9 para a saúde.
 

Na análise feita pelo Inesc e pelo Observatório do Clima, Roberto aparece como padrinho de pagamentos que somam cerca de R$ 31,3 milhões.
 

A análise dos dados pelas entidades exigiu extrair manualmente os dados de dezenas de ofícios de parlamentares e cruzar com CNPJs encontrados nas informações da execução do Orçamento.
 

Não foi possível atribuir a autoria da indicação de outro R$ 1 bilhão pago de RP9, pois mais de um parlamentar ou "usuário externo" havia direcionado a verba ao mesmo CNPJ.
 

O Fundo Municipal de São Gonçalo (RJ) está no topo da lista de destinos das indicações deste ano, com R$ 126,2 milhões, sendo que R$ 120 milhões têm como padrinho um "usuário externo", o funcionário da prefeitura da cidade Carlos Pereira Júnior.
 

O segundo principal destino das indicações é a Codevasf, estatal envolvida em escândalos de corrupção e clientelismo durante a gestão de Bolsonaro, como revelou série de reportagens da Folha.
 

O TCU (Tribunal de Contas da União) entregou à equipe de Lula um relatório com críticas à gestão de diversos órgãos da administração federal. Nesse documento, os auditores apontam que a Codevasf não faz "análise criteriosa" sobre o interesse social e a necessidade das obras, e que aumentou a dependência da estatal sobre as emendas parlamentares.
 

Depois de Lira e Carlos Pereira Júnior, os nomes no topo da lista de autores de indicações de RP9 já pagas são o senador Jader Barbalho (MDB-PA), Dener Bolonha, funcionário do Hospital do Amor, em Jales (SP), e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).
 

A lista de autores das indicações tem 2.031 nomes extraídos dos ofícios divulgados pelo Congresso, sendo que o levantamento conseguiu cruzar pagamentos de 1.454 deles.
 

A diferença ocorre porque nem todas as indicações são executadas --as emendas RP9 não são impositivas. Em alguns casos ainda é praticamente inviável apontar quem emplacou a liberação da verba por causa da falta de transparência.
 

A equipe de Lula teme que uma decisão do STF contra as emendas RP9 atrapalhe na aproximação do futuro governo com Lira. Peça-chave na negociação com o Congresso para aprovar a PEC da Transição, o presidente da Câmara defende a continuidade das emendas RP9.
 

Para Alessandra Cardoso, a dificuldade de mudar o rumo da distribuição dessa verba no Congresso reforça a importância do julgamento do STF.
 

"A gente espera que esse caminho seja encaminhado o mais rápido possível. O que estamos vendo é um sangramento absurdo desses recursos, sem que haja prioridades", disse ela.
 

Hoje há quatro tipos de emendas: as individuais (com a mesma cota para cada deputado e senador), as de bancada, de comissão e as do relator. A proposta de Orçamento para 2023, que está em discussão no Congresso, tem cerca de R$ 19 bilhões reservados para esse tipo de verba.

Bahia Notíicias

Em destaque

O “golpe dentro do golpe” já se tornou tradição militar no Brasil

Publicado em 26 de novembro de 2024 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Figueiredo e Geisel sofreram o golpe dentro do g...

Mais visitadas