por Fernando Duarte
A substituição de João Leão por seu filho, Cacá, na disputa pelo Senado abre um flanco inexplorado até aqui na campanha eleitoral de 2022 da Bahia. Na condição de vice-governador, o chefe da alcateia laurofreitense está agora na condição de potencial atirador e bem mais distante da condição de alvo, ainda que mantenha o nome nas urnas, agora como candidato a deputado federal. E, como parte do governo por mais de 14 anos, tem potencial explosivo a cada ameaça mais severa ao próprio filho e ao grupo político a que pertence agora.
Na última sexta-feira (6), após vir a público o pedido negado de busca e apreensão contra si, João Leão foi incisivo ao sugerir que gostaria de falar na eventual Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a aquisição de respiradores pelo Consórcio Nordeste, ainda na gaveta da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). O requerimento da oposição dificilmente vai prosperar, por razões que vão desde o caráter eleitoreiro aos interesses privados nas respectivas reeleições dos deputados. Porém a ameaça leonina não foi em vão. Foi um recado.
O vice conhece a coxia da governadoria. Estava um pouco mais abaixo no prédio. Mesmo que não seja do feitio dele pressionar os antigos aliados, Leão tem méritos para ser respeitado pela fidelidade que apresentou ao longo do período em que esteve lado a lado com o petismo baiano. Tanto que, por mais que tenha dado uma guinada para o grupo de ACM Neto, não houve um ataque muito incisivo por parte dos mui amigos de outrora. Especialmente, daquele a quem o próprio vice responsabilizou pelo rompimento, o senador Jaques Wagner.
O ex-governador não tem o perfil de “cutucar onça com vara curta”. No caso, seria Leão, mas a aplicação mantém o sentido. Por mais que ele tenha vocalizado a exclusão do vice de qualquer decisão sobre a chapa majoritária da sucessão de Rui Costa, a definição de colocá-lo de lado não coube exclusivamente a Wagner. Foi um entendimento que passou, principalmente, pela solução para o problema gestado pelo movimento de Rui de “bagunçar” o processo político – leia-se tentar ser candidato ao Senado, emprenhar uma candidatura de Otto Alencar ao governo sem combinar com o próprio senador e, por fim, ter que criar a candidatura de Jerônimo Rodrigues. Político na essência da palavra, Wagner recolheu-se por saber que falar demais poderia gerar ainda mais traumas.
Se o profissionalismo político de Wagner, Leão e até mesmo de Otto impera nesse “conselho de anciões”, o ônus de atacar o vice e os adversários tem cabido a Rui e à trupe do entorno de Jerônimo. Tanto que, até o dia 31 de dezembro, a chance do governador se licenciar é nula e parece ter sido habilmente construída como uma vingança para o amadorismo rascunhado nesse processo. Por isso, o flanco aberto por Leão longe da chapa majoritária de ACM Neto é relevante. Agora, o vice parece estar a rir com as hienas. E com liberdade para atacar se necessário.