Publicado em 9 de maio de 2022 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
A votação eletrônica é um avanço que sempre despertou suspeitas, mesmo assim o Brasil tomou a frente e foi o primeiro país importante a universalizar esse tipo de eleição. Desde sempre houve acusações de fraude, porém jamais foram comprovadas, conforme a Polícia Federal acaba de constatar, após revisitar todos os inquéritos eleitorais abertos a partir de 1990, verificando que somente houve provas materiais de fraude quando as eleições ainda eram em papel.
Apesar desta realidade concreta, causa espanto a disposição com que o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar a votação eletrônica, desta vez se apoiando na atuação do representante das Forças Armadas na Comissão de Transparência do Tribunal Superior Eleitoral.
DISSE BOLSONARO – Em sua live semanal pela rede social na última quinta-feira, dia 28, Bolsonaro estava ao lado do general-ministro Augusto Heleno e cobrou que o TSE acolha as propostas dos militares para aprimorar o processo eleitoral, mas não citou nenhuma delas.
“Terão mais reuniões para convencer o TSE de que as sugestões das Forças Armadas, para o bem de todos, deveriam ser acolhidas”, adiantou, acrescentando: “Estou vendo notícias na imprensa, se é verdade não sei, que eles (TSE) não querem aceitar as observações das Forças Armadas”, acrescentou, ressalvando que os militares nem pediram adoção do voto impresso neste ano, mudança que ele próprio defende.
“Para o TSE, tá uma maravilha, vamos confiar nas eleições. E quem desconfiar? Continua desconfiando. O que posso garantir para vocês? Que teremos eleições limpas no corrente ano”, afirmou o presidente, na live. “É o que todo mundo quer, acredito que sem exceção, a não ser aquelas pessoas que pensam em fazer algo que nós não concordamos, esse nós somos todos nós.”
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – Essa linguagem cifrada requer maiores explicações. Na verdade, Bolsonaro está desafiando abertamente o TSE porque o Exército contratou uma empresa paramilitar israelense, especializada em guerra cibernética, para localizar fraudes nas eleições brasileiras.
Oportuna reportagem de Paulo Motoryn, no site “Brasil de Fato”, revela que o general Héber Garcia Portella, comandante de Defesa Cibernética do Exército e integrante da Comissão de Transparência Eleitoral do TSE, foi responsável pela contratação da empresa CySource, em março deste ano.
Portanto, é tudo um jogo armado para tentar desmoralizar a votação eletrônica, porque a firma israelense é representada no Brasil pelo analista de sistemas Hélio Cabral Sant’ana, que até março era diretor de Tecnologia da Informação da Secretaria-Geral da Presidência da República no próprio governo Bolsonaro. É mais do que coincidência, está tudo em casa.
TUDO EXPLICADO – No mesmo mês, Sant’ana deixou o governo federal e imediatamente passou a atuar como representante da CySource na contratação pelo Exército, a pretexto de “capacitação de militares em defesa cibernética”. Detalhe importantíssimo: para sair do Executivo e assumir o cargo na CySource, Sant’ana teve autorização especial da Comissão de Ética Pública da Presidência.
A CySource foi fundada por veteranos das forças de defesa militar de Israel, que se orgulham de contar com “a melhor plataforma de educação e treinamento em segurança cibernética baseada em Inteligência Artificial do mundo”, segundo a surpreendente reportagem de Paulo Motoryn no site Brasil de Fato.
Assim, não mais que de repente, diria Vinicius de Moraes, a cortina se abriu e agora é possível saber por que Bolsonaro está tão autoconfiante.
ABSOLUTA CONVICÇÃO – Os especialiatas israelenses ainda nem apresentaram o primeiro relatório, mas Bolsonaro já se mostra radiante. Está mais do que convicto de que será possível provar que teria vencido a eleição de 2018 no primeiro turno.
Se realmente conseguir essa carta na manga, o presidente então poderá adiar indefinidamente as eleições, mantendo os mandatos de todos os eleitos – ele próprio, os governadores, os parlamentares federais e os deputado estaduais.
Será um golpe branco, sem blindados e tanques nas ruas. Ou seja, um 1964 de terno e gravata, com novo estilo de AI-5.
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P.S. – Bolsonaro, no entanto, não deveria estar tão confiante. Em seu delírio, não lhe passa pela cabeça que os especialistas israelenses possam confirmar a segurança das eleições brasileiras. Se isso acontecer, ele estará irremediavelmente derrotado, seja por Lula ou por algum candidato da terceira via. Somente se os israelenses encontrarem alguma grave falha é que o golpe de Bolsonaro poderá ser facilitado, porque nesta hipótese, com apoio entusiástico dos militares, ele poderá escapar de uma eleição dificílima. Como se sabe, sua rejeição é tão alta que poderá ser derrotado por qualquer outro candidato no segundo turno. Acredite se quiser, como dizia o ator Jack Palance. (C.N.)