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terça-feira, março 01, 2022

Depois de uma era viciada em mitos, é bom que o debate seja baseado nas evidências

Publicado em 28 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet

Imagem analisada visualmenteJoão Gabriel de Lima
Estadão

“Evidências” não é apenas a música mais cantada nos karaokês da pequena Tóquio encravada no centro de São Paulo. A palavra é recorrente no jargão acadêmico atual, a ponto de ser a marca da nova geração de intelectuais brasileiros. Dizer que o conhecimento se baseia em evidências é, claro, uma obviedade.

Toda boa pesquisa acadêmica se assenta em fatos. Num país onde as “fake news” se tornaram moeda corrente, no entanto, a “geração evidências” se destaca por trazer algum rigor à conversa.

CARTÃO DE VISITAS – Será lançado na próxima semana o livro “Reconstrução”, um belo cartão de visitas da “geração evidências”. Ele reúne ensaios sobre o Brasil escritos por intelectuais que juntam as duas características: o amor pelos fatos e – como destaca o economista Persio Arida no prefácio – a juventude. A média de idade dos autores é 34 anos. A orelha do livro ficou a cargo de Arminio Fraga.

O livro, organizado por João Villaverde, Laura Karpuska e Felipe Salto – os dois últimos são colaboradores fixos do Estadão –, nasceu de uma angústia.

“Todos víamos a destruição que este governo vem perpetrando em várias áreas das políticas públicas”, diz João Villaverde, professor da Fundação Getúlio Vargas e entrevistado no minipodcast da semana. “Montamos um grupo para ver o que poderíamos fazer a respeito.”

POLÍTICAS ÓBVIAS – A constatação do grupo é de que há, nas academias, nos “think tanks”, e até tramitando no Congresso, um número enorme de políticas bem desenhadas e baseadas em evidências, do meio ambiente à educação, da saúde ao combate às “fake news”. Os artigos de “Reconstrução”, assim, não se resumem a críticas e diagnósticos. “Todos eles trazem pelo menos uma solução prática para os problemas apresentados”, diz Villaverde.

A “geração evidências” sucede, no debate brasileiro, não apenas à de Persio e Arminio, mas também à “geração Cebrap” – a dos intelectuais que lutaram pela redemocratização, que teve entre seus expoentes Fernando Henrique Cardoso e Paul Singer. Singer e Cardoso, aliás, mantiveram um diálogo produtivo ao longo da vida, apesar de divergirem nas posições políticas – um foi para o PT, outro fundou o PSDB. É sempre assim: os inteligentes dialogam, enquanto os obtusos se refugiam nas bolhas da polarização.

Como Fernando Henrique e Paul Singer, ou Arminio Fraga e Persio Arida, alguns dos autores de Reconstrução certamente entrarão na política – o lugar onde, nos regimes democráticos, as ideias se tornam realidade. Serão bem-vindos. Depois de uma era viciada em mitos, paranoia e conspirações, teremos um ganho se o debate do futuro for baseado em evidências.

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