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domingo, janeiro 09, 2022

O bárbaro e o capacho - Editorial

 




Jair Bolsonaro e Marcelo Queiroga patrocinam atrocidades contra a saúde pública e as crianças

Neste início de 2022, assim como há um ano, o Brasil enfrenta uma nova vaga de contaminações pelo agente causador da Covid-19. Desta vez, graças ao progresso da vacinação, o panorama que se descortina no país é, felizmente, bastante distinto daquele de 12 meses atrás.

Com quase 70% da população inoculada com duas doses do imunizante, o vírus já não tem sobre os brasileiros o mesmo impacto devastador do passado.

Se antes um idoso corria sérios riscos de complicações, hoje, vacinado, dificilmente apresentará mais do que sintomas leves. Aos poucos, o pânico de outrora vai cedendo lugar a um convívio mais normal com o vírus, que tende a se tornar endêmico com o tempo.

O que se manteve inalterado nesse período foram as criminosas tentativas de sabotagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu séquito negacionista contra toda e qualquer medida capaz de minorar a catástrofe causada pela doença.

Ora dirigida contra a vacinação infantil, finalmente anunciada na quarta-feira (5), a máquina de infâmias liderada pela Presidência da República voltou a se movimentar nesta semana. Em entrevista à Rádio Nordeste, Bolsonaro insinuou que haveria interesses escusos da Anvisa e de "tarados pela vacina" por trás da aprovação do imunizante para os mais jovens.

Num legítimo atentado contra a saúde pública, buscou desestimular os pais a vacinarem seus filhos, afirmando que eles não deveriam se deixar "levar pela propaganda".

O pico da baixeza, contudo, deu-se quando o mandatário declarou desconhecer casos de morte por Covid de crianças de 5 a 11 anos, faixa para a qual foi aprovado o imunizante. Mais do que agredir a verdade, a patranha ultraja os familiares das 301 crianças vitimadas pela enfermidade até agora.

Diante de tão graves sandices, é estarrecedora a subserviência do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Aquele que, por força do cargo e da formação médica, deveria ser o defensor da ciência, converteu-se em capacho e caixa de ressonância dos desvarios presidenciais.

Como se a sabujice fosse pouca, o ministro presta-se ainda a outras cenas de ridículo servilismo. Na quinta, em lançamento de um programa de sua pasta, afirmou que a primeira-dama é simbolicamente a "mãe de todos os brasileiros".

Não resta qualquer ilusão quanto a sua atuação no cargo. Transigente com as brutalidades dirigidas contra a Anvisa e seus funcionários, propagandeador das estultices de Bolsonaro sobre liberdade e vacinação, cúmplice do atraso na imunização infantil, Queiroga conseguiu, em poucos meses, sacrificar sua reputação, enxovalhar a função que exerce e desonrar toda a classe médica.

Folha de São Paulo

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