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domingo, janeiro 09, 2022

Mudanças climáticas: as nuvens que pairam sobre as promessas feitas na COP26




O progresso feito na conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, a COP26, já está em risco por causa dos desafios de 2022?

Por Matt McGrath

2021 foi um ano importante para as mudanças climáticas.

Além de uma série de eventos extremos e destrutivos influenciados pelo aumento das temperaturas, os últimos 12 meses viram um engajamento político sem precedentes sobre o assunto, culminando na cúpula da COP26, em Glasgow, em novembro.

Sem dúvida, houve progresso, e o impulso geral da reunião foi no sentido de uma ação mais rápida em uma série de medidas para reduzir as emissões.

Mas agora existem preocupações crescentes de que esse ímpeto possa se dissipar nos próximos meses.

O golpe mais doloroso vem dos Estados Unidos.

Próximo passo - China

O potencial fracasso do presidente americano, Joe Biden, em conseguir que sua lei Build Back Better ("reconstruir melhor", em tradução livre) seja aprovada no Congresso afetaria significativamente a capacidade dos Estados Unidos de cumprir as rígidas metas climáticas com as quais a Casa Branca se comprometeu.

Isso também afetaria enormemente a abordagem relativamente unificada das mudanças climáticas exibida entre os líderes mundiais na COP26.

"Tudo o que Biden prometeu levou a esta atmosfera relativamente boa em Glasgow", disse Joanna Depledge, pesquisadora do Centro de Cambridge para Meio Ambiente, Energia e Governança de Recursos Naturais.

"Mas essas eram apenas promessas, ele precisa passar o projeto de lei no Congresso. E isso agora está parecendo cada vez mais arriscado. Ele pode fazer algumas coisas com atos executivos, mas certamente não é uma mudança institucional sustentada da legislação climática como a que estamos almejando."

"Acho que a situação para nós é crítica."

O desespero entre muitos nos Estados Unidos com o possível fracasso do projeto de lei também terá repercussões em todo o mundo. Certamente será o caso na China, um país sobre o qual paira a percepção de que usou sua força política em Glasgow para conseguir o que queria. As dificuldades políticas de Biden são vistas como uma evidência de que "o Ocidente está declinando".

"Estou preocupado que, em 2022, a tensão geopolítica domine a agenda climática", disse Li Shuo, do Greenpeace no Leste Asiático.

Ele também está preocupado com o fato de que a introdução de impostos de carbono sobre produtos importados para a Europa possa aumentar um sentimento de injustiça e frustração em Pequim.

"O lado chinês verá como eles são tratados em relação aos outros e fará seu julgamento sobre se o jogo é justo e, o mais importante, se é sobre meio ambiente ou apenas geopolítica e comércio", disse ele à BBC News. "No geral, espero um ano mais turbulento pela frente. Os anos anteriores ao acordo de Paris foram um exemplo de geopolítica que ajudou a avançar a agenda climática. O que vem pela frente pode ser o contrário."

Essa visão pessimista encontra eco no fato de a COP do próximo ano ser realizada no Egito, e a seguinte nos Emirados Árabes.

"Nenhum desses países pode ser descrito como líder em termos climáticos", disse o professor J. Timmons Roberts, da Univerisdade Brown, nos Estados Unidos. "O lado bom é que a COP27 será em um país em desenvolvimento, e algumas questões como perdas e danos (quem paga pelo impacto das mudanças climáticas nos países mais afetados e como é pago) podem ter mais força, mas, na questão das reduções de emissões, não está claro se eles conseguirão liderar os debates."

Outra preocupação importante em 2022 é que alguns países podem simplesmente ignorar aspectos dos quais não gostam em relação ao pacto climático de Glasgow.

Uma medida importante no acordo foi o pedido de todos os países para "revisitar e fortalecer" suas promessas climáticas nacionais quando os delegados se reunirem no Egito no final de 2022.

Apesar de concordar com isso, vários países agora dizem que simplesmente não vão atualizar seus planos, entre eles Austrália e Nova Zelândia. O ministro do clima neozelandês, James Shaw, disse que essa disposição realmente se aplica somente a grandes emissores como Índia, China, Rússia e Brasil, que não fortaleceram significativamente seus planos a tempo de Glasgow.

'Um acordo para ajudar a África do Sul a se livrar do carvão pode se tornar um modelo para outros'

No entanto, também há alguns desdobramentos positivos iminentes que podem fazer uma diferença significativa no humor geral em relação às mudanças climáticas.

Durante a COP26, o Reino Unido, a União Europeia, os Estados Unidos, a Alemanha e a França concordaram em pagar US$ 8,5 bilhões para ajudar a África do Sul a abandonar o carvão. Agora, aqueles próximos às negociações dizem que dois novos acordos para ajudar a Índia e a Indonésia a fazerem o mesmo estão sendo costurados.

Isso sairá caro, na casa das dezenas de bilhões, mas se acontecer representará um grande passo. Acordos deste tipo, além do compromisso de dobrar o financiamento de ações de adaptação feito pelos países mais ricos, serão a chave para o progresso em 2022, dizem as autoridades.

O presidente da COP26, Alok Sharma, deixou claro que pretende avançar nos próximos meses nos esforços para garantir que os acordos firmados em Glasgow sobre desmatamento, carvão, finanças e automóveis comecem a ser implementados.

"O Reino Unido, como anfitrião da COP26, passou os últimos dois anos trabalhando incansavelmente com os países para construir confiança, o que nos permitiu entregar o pacto climático de Glasgow", disse ele à BBC News. "Continuaremos na mesma linha até 2022 para garantir que os países cumpram suas promessas, revisitem suas metas de redução de emissões, concretizem o fluxo financeiro e cumpram os muitos compromissos assumidos durante as duas semanas da cúpula."

Outro ponto positivo é o fato de a Alemanha presidir o grupo de países do G7. O colíder do Partido Verde alemão é agora o ministro das Relações Exteriores do país, então o clima continuará no topo da agenda diplomática internacional.

O investimento em infraestrutura após a pandemia de covid-19, especialmente em países de renda média, também oferece uma grande chance de realizar ações significativas para limitar as emissões.

A ameaça de um desastre

O acordo final sobre as regras para os mercados de carbono, firmado em Glasgow, coincidiu com um aumento recorde no preço das licenças de carbono na Europa e no Reino Unido.

Embora isso tenha desvantagens, um preço alto e sustentado do carbono poderia acelerar significativamente a transição para fontes de energia mais limpas.

Mas, como sempre, os eventos globais podem ver todos esses potenciais aspectos positivos empalidecerem rapidamente.

Disputas entre a Rússia e a Ucrânia, o não envolvimento da China e uma potencial surra dos democratas nas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos podem atrapalhar ou pelo menos atrasar qualquer progresso futuro em relação às mudanças climáticas.

E parar ou dar pequenos passos agora seria um desastre para os esforços para manter o aumento das temperaturas globais abaixo de 1,5°C neste século. "No momento, etapas incrementais são uma sentença de morte", diz Roberts.

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No entanto, o processo de negociações sobre o clima é altamente imprevisível - e mesmo quando as coisas parecem estar no seu pior momento, os países muitas vezes são capazes de fazer concessões suficientes para manter as coisas avançando.

O presidente da COP26 diz que está determinado a seguir em frente. "Sair da COP26 com o pacto climático de Glasgow foi um momento histórico, demonstrando o compromisso compartilhado do mundo em tomar ações climáticas reais", disse Alok Sharma.

"Olhando para o futuro, a questão mais urgente é a escala de tempo em que essa ação ocorrerá, e a realidade é que o mundo precisa agir em um ritmo muito mais rápido."

BBC Brasil

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