Publicado em 8 de janeiro de 2022 por Tribuna da Internet
Jussara Soares
O Globo
A recomendação do Comando do Exército para que militares se vacinem para o retorno ao trabalho presencial e a proibição sobre a disseminação de fake news irritaram o presidente Jair Bolsonaro. Diante da reação, o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, em uma reunião na tarde desta sexta-feira com representantes das três Forças expôs a contrariedade com a repercussão da diretriz assinada pelo comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que se choca com posicionamentos do presidente. Bolsonaro não se vacinou e é contrário à exigência do comprovante de imunização.
Na reunião, segundo apurou O Globo, foi discutida a divulgação de uma nota do Exército pontuando que a imunização não é uma obrigação nem condição para retornar ao trabalho. A expectativa no governo era que o comunicado fosse publicado ainda na sexta-feira.
MAIS DESGASTE – Uma versão do texto chegou a ser preparada, mas não houve um consenso sobre o teor do comunicado entre Ministério da Defesa e o Exército. Sem um acordo, a divulgação da nota foi suspensa nesta sexta, embora o tema ainda esteja em debate.
Militares contrários à divulgação de um esclarecimento argumentam que uma nota poderia aumentar um desgaste e desencadear uma nova crise. Além disso, observam que o comandante do Exército tem autonomia de sua gestão para publicar a diretriz, embora todas as regras sigam orientações do Ministério da Saúde, da Economia e do próprio Ministério da Defesa.
O documento de oito páginas, assinado pelo comandante no último dia 3, reconhece que o avanço da vacinação permite a possibilidade da normalização das atividades. Entre os 52 itens do texto, o Exército destaca que o retorno ao trabalho deve ser avaliado desde que respeitado o período de 15 dias após a imunização.
UMA RESSALVA – “Os casos omissos sobre cobertura vacinal deverão ser submetidos à apreciação do DGP (Departamento Geral do Pessoal), para adoção de procedimentos específicos”, diz o texto.
Apesar da irritação do Planalto, a diretriz do Exército segue uma portaria de 29 de novembro do próprio Ministério da Defesa. Assinada pelo general Braga Netto para entrar em vigor no dia 3 de janeiro, a portaria, no parágrafo 3, destaca que os servidores e militares da administração central do Ministério da Defesa, com exceção de pessoas com comorbidades e outros casos específicos, “retornarão às atividades presenciais quinze dias após terem se imunizado contra a COVID-19″.
Na Defesa, a avaliação é que o documento assinado pelo general Paulo Sérgio teve uma “má redação” e, por isso, seria necessário um esclarecimento. A pasta, segundo apurou O GlobO, não teve acesso à diretriz do Exército antes de ser publicada.
NÃO VACINADOS – Antes mesmo da reunião desta sexta-feira no Ministério da Defesa, já havia um receio da repercussão no Planalto e o Exército já estudava como será o retorno daqueles que se recusarem a tomar as doses.
A questão se concentra principalmente entre os civis que atuam na Força, uma vez que, com exceção de casos de militares em atividades administrativas, a maior parte seguiu a atuação em campo.
A diretriz do Comando do Exército também orienta a continuidade de medidas protetivas como o distanciamento social, o uso de máscaras e a higienização das mãos. Segundo o Exército, as regras seguem as orientações dos ministérios da Defesa, Saúde e da Economia, mas também as particularidades e legislação regionais, no âmbito dos Comandos Militares de Áreas. Bolsonaro, que circula frequentemente sem máscara, dá reiteradas declarações contra a imunização e ainda não se vacinou. Ele também é contrário à exigência do comprovante da vacina.
FAKE NEWS – Outro ponto que incomodou o governo é o trecho em que trata sobre a disseminação de fake news. O documento destaca que “a prestação de informação falsa sujeitará o militar ou o servidor às sanções penais e administrativas previstas em Lei”. A recomendação do Exército é que familiares também sejam orientados a checarem a veracidade das informações
“Não deverá haver difusão de mensagens em redes sociais sem confirmação da fonte e da veracidade da informação. Além disso, os militares deverão orientar os seus familiares e outras pessoas que compartilham do seu convívio para que tenham a mesma conduta”, diz o texto.
O alerta sobre fake news não é uma novidade da diretriz publicada nesta semana pelo comandante Paulo Sérgio. No início da pandemia, uma diretriz assinada pelo então comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, em 30 de março de 2020, já fazia a menção sobre informações falsas.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Bolsonaro pensa (?) que é comandante-em-chefe das Forças Armadas, mas isso só ocorre em tempos de guerra. Mesmo assim, os comandantes militares são instruídos a não acatarem ordens que não estejam de acordo com os regulamentos e o discernimento de cada um. Apenas isso. Apesar das milhares de nomeações, da preservação da previdência privilegiada e dos aumentos salariais, os oficiais superiores já estão “por aqui” com as asneiras de Bolsonaro, como dizia o grande ator Orlando Drummond na Escolinha do Chico Anysio. (C.N.)