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domingo, janeiro 09, 2022

Bolsonaro dá um péssimo exemplo à saúde pública, ao sabotar a imunização das crianças

Publicado em 8 de janeiro de 2022 por Tribuna da Internet

Charge do Kleber (Correio Braziliense)

Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por liberar a vacinação do público pediátrico de 5 a 11 anos. Chamou os cientistas e médicos que defendem a vacinação das crianças a partir dos cinco anos de “tarados da vacina” e reiterou que a sua filha, de 11 anos, não será vacinada.

Sua ofensiva contra a vacinação de crianças e pré-adolescentes ocorre num momento em que explodem os casos de influenza e de covid-19, inclusive com transmissão comunitária da variante ômicron. Pronto-socorros e ambulatórios estão lotados, houve aumento exponencial da procura por testes de covid-19.

QUARTA ONDA – Os números registrados nos Estados Unidos, Europa e Ásia revelam que a quarta onda da pandemia de covid-19 é uma realidade, com o registro de mais de 2,5 milhões de casos por dia. A interpretação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que o Brasil está fora dessa rota não corresponde à realidade.

Além disso, corrobora as suspeitas de que o apagão de dados do SUS pode ter sido provocado por hackers, mas a demora para resolver o problema faz parte da má vontade e das manobras protelatórias do governo federal contra a vacinação.

O ministro está incorrendo nos mesmos erros que o general Eduardo Pazuello cometeu à frente do Ministério da Saúde, ao se submeter aos caprichos do presidente da República e dar as costas à população em situação de risco sanitário.

INVENTOR DO XADREZ – Não custa nada lembrar a velha história do brâmane, que inventou o tabuleiro com 64 quadros, vermelhos e pretos, cuja peça mais importante era o rei (rajá) — a segunda peça, o próprio brâmane, foi substituída pela rainha com o passar dos anos.

Reza a lenda que rajá gostou tanto do jogo de xadrez, que pediu ao brâmane para determinar sua própria recompensa. Ele então pediu ao rajá que lhe fosse dado um único grão de trigo no primeiro quadrado, dois no segundo, quatro no terceiro e assim por diante, dobrando sempre as quantidades. O rei achou a recompensa insignificante e aceitou.

Entretanto, quando o administrador do celeiro real começou a contar os grãos, o rei teve uma surpresa muito desagradável. O número começou pequeno: 1, 2, 4, 8, 16, 32 (…) e foi crescendo, 128, 256, 512, 1024… Quando chegou à última das 64 casas do tabuleiro, era de quase 18,5 quintilhões.

UM PESO DESCOMUNAL – Quanto pesa cada grão de trigo? Se cada um tiver um milímetro, pesariam 75 milhões de toneladas métricas, muito mais do que havia nos armazéns reais.

“Se o xadrez tivesse 100 quadrados (10 por 10), em vez de 64 a quantidade de grãos teria pesado o mesmo que a Terra”, comparou o físico Carl Sagan, em “Bilhões e Bilhões”.

Essa história é uma boa analogia com a tragédia de 620 mil mortos por covid-19 no Brasil, que parece não ser levada em conta pelo atual ministro da Saúde. Pazuello tinha a desculpa da disciplina militar (“ele manda, eu obedeço”). Queiroga, não. É um médico cujo juramento está sendo rasgado, porque se tornou apenas mais um áulico negacionista no alto escalão do governo.

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