Publicado em 9 de outubro de 2021 por Tribuna da Internet
Márcio Falcão, Fernanda Vivas e Marcelo Parreira
TV Globo — Brasília
A Polícia Federal apontou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que uma advogada tentou ocultar, nos registros oficiais, a presença do assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, na tomada de dois depoimentos no inquérito sobre a atuação de uma milícia digital no país.
Martins esteve presente nas oitivas dos empresários norte-americanos Jason Miller – ex-assessor de Donald Trump e fundador de uma “rede social de direita” – e Gerald Brant, amigo da família Bolsonaro.
PEDIDO DA ADVOGADA – Ao pedir mais prazo para concluir as investigações, nesta sexta-feira (8), a PF relatou que a advogada Milena Ramos Camara, que representava os dois empresários, pediu aos policiais para não registrarem a presença de Filipe Martins na sala de oitivas.
Segundo o relato da Polícia Federal, Milena Ramos Camara acompanhava os depoimentos dos empresários quando Filipe Martins entrou na sala. Questionada se ele também era advogado dos norte-americanos, Milena “informou que se tratava de seu amigo e que ele estava no local apenas para resolver questões dos honorários”.
Ao fim dos depoimentos, a advogada apresentou uma nova versão: disse que Filipe Martins era seu namorado, que estava ali “apenas esperando para que almoçassem juntos” e, por isso, o nome não precisaria ser incluído no registro oficial.
ERA TUDO MENTIRA – A PF, no entanto, decidiu apurar quem eram os personagens – e confirmou que, na verdade, Filipe Martins é assessor do presidente Jair Bolsonaro e namora outra mulher.
“Em pesquisas em fontes abertas, contatou-se que Filipe Martins Pereira é Assessor-Chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República”.
A PF investiga a relação de blogueiros bolsonaristas com a plataforma Gettr, dos americanos. O serviço é semelhante ao Twitter, mas passou a ser usado por grupos de direita em todo o mundo por prometer uma plataforma “livre de moderação”.
USO BOLSONARISTA – A rede também passou a ser usada por grupos bolsonaristas após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral que suspendeu os repasses de dinheiro das redes sociais para canais de internet investigados por fake news sobre eleições.
A PF registrou ainda que, durante o depoimento, houve um contato dos americanos com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro. Gerald Brant teria pedido ao deputado o envio de um advogado, pouco antes de Filipe Martins chegar ao prédio da PF.
Ao longo das investigações, a PF também tentou colher o depoimento do escritor e ideólogo Olavo de Carvalho. Ele chegou a ser intimado para prestar depoimento, mas os investigações cancelaram o mandado em razão do estado de saúde de Carvalho.
INVESTIGAÇÃO EM CURSO – Junto ao pedido de prorrogação, a PF também encaminhou ao STF o material já colhido nas apurações. A investigação sobre as milícias digitais foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes no começo de julho, após ter determinado o arquivamento do inquérito que investigou atos antidemocráticos deflagrados no início do ano passado. O arquivamento atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República.
A PF apura indícios e provas que apontam para a existência de uma organização criminosa que teria agido com a finalidade de atentar contra o Estado democrático de direito e que se articularia em núcleos de produção, publicação, financiamento e política. Outra suspeita é de que esse grupo tenha sido abastecido com verba pública.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Era só o que faltava: um assessor do Planalto se infiltrando na Polícia Federal para ouvir depoimentos. Se fosse um jornalista, seria preso em flagrante. Ah, Brasil… (C.N.)