Publicado em 7 de maio de 2021 por Tribuna da Internet
Eduardo Pierre
G1 Rio
Uma operação da Polícia Civil do RJ no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, nesta quinta-feira (6), se tornou a mais letal da história fluminense: 25 pessoas morreram. Moradores denunciaram, em vídeos publicados em redes sociais e em relatos à Defensoria Pública, que suspeitos foram executados durante a operação, mesmo tendo se rendido. A polícia nega qualquer irregularidade.
Veja o que se sabe e o que ainda falta esclarecer em 8 perguntas e respostas:
- O QUE A POLÍCIA FOI FAZER NO JACAREZINHO?
Agentes de diferentes delegacias, com apoio da Core, a tropa de elite da Polícia Civil, deflagraram a Operação Exceptis. A força-tarefa investiga o aliciamento de crianças e adolescentes para ações criminosas, como assassinatos, roubos e até sequestros de trens da Supervia.
A polícia afirma que o tráfico da região adota táticas de guerrilha, com armas pesadas e “soldados fardados”.
- O QUE DIZEM OS MORADORES?
Em vídeos publicados em redes sociais e em relatos à Defensoria Pública, testemunhas afirmam que suspeitos foram executados.
Thaynara Paes, mulher de um dos mortos no Jacarezinho, disse que, ao ser localizado pela polícia, o marido, Rômulo Oliveira Lúcio, chegou a se entregar, mas ainda assim foi executado. Rômulo, segundo ela, tinha 29 anos e estava na condicional.
Outra moradora filmou um policial e disse que o suspeito queria se entregar. A mulher acusou os agentes de tentarem “encurralar” moradores para evitar que eles chegassem até o local onde supostamente o homem teria se rendido.
- O QUE A POLÍCIA DIZ SOBRE AS ALEGADAS EXECUÇÕES?
O delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário operacional da Polícia Civil, disse não considerar que houve erros ou excessos na operação.
“A Polícia Civil não age na emoção. A operação foi muito planejada, com todos os protocolos e em cima de 10 meses de investigação”, afirmou o subsecretário operacional da Polícia Civil.
Sobre a imagem do morto encontrado numa cadeira, o delegado Fabrício de Oliveira, coordenador da Core e que participou da operação, disse que as circunstâncias em que ela foi feita vão ser apuradas.
“Quando a polícia acessou, alguns criminosos foram encontrados já mortos. Caso está sob investigação e em breve a polícia vai dar mais detalhes dobre a dinâmica do que aconteceu”, disse.
- QUEM SÃO OS MORTOS?
Até a última atualização desta reportagem, apenas um deles tinha sido identificado pela polícia: o policial civil André Leonardo de Mello Frias, de 48 anos, atingido na cabeça no início da operação.
Os demais seguiam sem identificação oficial, mas, segundo o delegado Felipe Curi, os 24 eram “todos criminosos”. “Não tem suspeito, é criminoso, bandido, traficante e homicida porque tentaram matar os policiais”, afirmou.
A OAB-RJ, no entanto, divulgou uma lista com alguns identificados.
- QUANTOS FORAM PRESOS?
O delegado Felipe Curi informou que seis pessoas foram presas: três com mandado de prisão e três em flagrante. Outros três procurados foram mortos.
A polícia tinha falado em 21 criminosos denunciados e identificados em escutas autorizadas pela Justiça, mas não esclareceu se contra todos foram expedidos mandados de prisão.
- O QUE FOI APREENDIDO?
Um balanço divulgado às 17h de quinta-feira listava: 16 pistolas, 6 fuzis, 12 granadas, 1 submetralhadora e 1 escopeta. Também foi apreendida “farta quantidade de drogas” — que não foi contabilizada.
- A OPERAÇÃO FOI AUTORIZADA?
A polícia garantiu que cumpriu todos os protocolos exigidos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O Ministério Público confirmou que foi avisado.
No ano passado, o STF determinou regras para operações policiais em comunidades — incursões de rotina estão proibidas. Pela decisão do ministro Edson Fachin, as ações só seriam permitidas de maneira excepcional.
“Decisão do STF não impede a polícia de fazer o dever de casa. Ela coloca protocolos, e a Polícia Civil cumpre todos”, disse o delegado Rodrigo Oliveira.
“Não sei se as grandes operações dão resultado. O que eu sei é que a falta de operação dá um péssimo resultado”, emendou Oliveira.
- POR QUE ESTA FOI A OPERAÇÃO MAIS LETAL?
Nenhuma outra deixou tantos mortos, segundo um levantamento feito pelo G1 com informações do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da plataforma Fogo Cruzado.
“Foi a operação mais letal que consta na nossa base de dados, não tem como qualificar de outra maneira que não como uma operação desastrosa. É uma ação autorizada pelas autoridades policiais, o que torna a situação muito mais grave”, disse o sociólogo Daniel Hirata, do Geni.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Em tradução simultânea, este país está numa guerra civil não declarada. Como avisava Darcy Ribeiro: “Não querem construir escolas, terão de construir presídios”. Não deu outra. (C.N.)