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sábado, maio 08, 2021

Operação no Jacarezinho: o que se sabe e o que falta esclarecer, além da morte do policial

Publicado em 7 de maio de 2021 por Tribuna da Internet

Policiais civis durante operação na manhã desta quinta-feira (6) no Jacarezinho, no Rio de Janeiro — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Retrato de um pais que constrói mais presídios do que escolas…

Eduardo Pierre
G1 Rio

Uma operação da Polícia Civil do RJ no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, nesta quinta-feira (6), se tornou a mais letal da história fluminense: 25 pessoas morreram. Moradores denunciaram, em vídeos publicados em redes sociais e em relatos à Defensoria Pública, que suspeitos foram executados durante a operação, mesmo tendo se rendido. A polícia nega qualquer irregularidade.

Veja o que se sabe e o que ainda falta esclarecer em 8 perguntas e respostas:

  1. O QUE A POLÍCIA FOI FAZER NO JACAREZINHO?

Agentes de diferentes delegacias, com apoio da Core, a tropa de elite da Polícia Civil, deflagraram a Operação Exceptis. A força-tarefa investiga o aliciamento de crianças e adolescentes para ações criminosas, como assassinatos, roubos e até sequestros de trens da Supervia.

A polícia afirma que o tráfico da região adota táticas de guerrilha, com armas pesadas e “soldados fardados”.

  1. O QUE DIZEM OS MORADORES?

Em vídeos publicados em redes sociais e em relatos à Defensoria Pública, testemunhas afirmam que suspeitos foram executados.

Thaynara Paes, mulher de um dos mortos no Jacarezinho, disse que, ao ser localizado pela polícia, o marido, Rômulo Oliveira Lúcio, chegou a se entregar, mas ainda assim foi executado. Rômulo, segundo ela, tinha 29 anos e estava na condicional.

Outra moradora filmou um policial e disse que o suspeito queria se entregar. A mulher acusou os agentes de tentarem “encurralar” moradores para evitar que eles chegassem até o local onde supostamente o homem teria se rendido.

  1. O QUE A POLÍCIA DIZ SOBRE AS ALEGADAS EXECUÇÕES?

O delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário operacional da Polícia Civil, disse não considerar que houve erros ou excessos na operação.

“A Polícia Civil não age na emoção. A operação foi muito planejada, com todos os protocolos e em cima de 10 meses de investigação”, afirmou o subsecretário operacional da Polícia Civil.

Sobre a imagem do morto encontrado numa cadeira, o delegado Fabrício de Oliveira, coordenador da Core e que participou da operação, disse que as circunstâncias em que ela foi feita vão ser apuradas.

“Quando a polícia acessou, alguns criminosos foram encontrados já mortos. Caso está sob investigação e em breve a polícia vai dar mais detalhes dobre a dinâmica do que aconteceu”, disse.

  1. QUEM SÃO OS MORTOS?

Até a última atualização desta reportagem, apenas um deles tinha sido identificado pela polícia: o policial civil André Leonardo de Mello Frias, de 48 anos, atingido na cabeça no início da operação.

Os demais seguiam sem identificação oficial, mas, segundo o delegado Felipe Curi, os 24 eram “todos criminosos”. “Não tem suspeito, é criminoso, bandido, traficante e homicida porque tentaram matar os policiais”, afirmou.

A OAB-RJ, no entanto, divulgou uma lista com alguns identificados.

  1. QUANTOS FORAM PRESOS?

O delegado Felipe Curi informou que seis pessoas foram presas: três com mandado de prisão e três em flagrante. Outros três procurados foram mortos.

A polícia tinha falado em 21 criminosos denunciados e identificados em escutas autorizadas pela Justiça, mas não esclareceu se contra todos foram expedidos mandados de prisão.

  1. O QUE FOI APREENDIDO?

Um balanço divulgado às 17h de quinta-feira listava: 16 pistolas, 6 fuzis, 12 granadas, 1 submetralhadora e 1 escopeta. Também foi apreendida “farta quantidade de drogas” — que não foi contabilizada.

  1. A OPERAÇÃO FOI AUTORIZADA?

A polícia garantiu que cumpriu todos os protocolos exigidos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O Ministério Público confirmou que foi avisado.

No ano passado, o STF determinou regras para operações policiais em comunidades — incursões de rotina estão proibidas. Pela decisão do ministro Edson Fachin, as ações só seriam permitidas de maneira excepcional.

“Decisão do STF não impede a polícia de fazer o dever de casa. Ela coloca protocolos, e a Polícia Civil cumpre todos”, disse o delegado Rodrigo Oliveira.

“Não sei se as grandes operações dão resultado. O que eu sei é que a falta de operação dá um péssimo resultado”, emendou Oliveira.

  1. POR QUE ESTA FOI A OPERAÇÃO MAIS LETAL?

Nenhuma outra deixou tantos mortos, segundo um levantamento feito pelo G1 com informações do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da plataforma Fogo Cruzado.

“Foi a operação mais letal que consta na nossa base de dados, não tem como qualificar de outra maneira que não como uma operação desastrosa. É uma ação autorizada pelas autoridades policiais, o que torna a situação muito mais grave”, disse o sociólogo Daniel Hirata, do Geni.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Em tradução simultânea, este país está numa guerra civil não declarada. Como avisava Darcy Ribeiro: “Não querem construir escolas, terão de construir presídios”. Não deu outra. (C.N.)


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