Publicado em 26 de maio de 2021 por Tribuna da Internet
Jussara Soares
O Globo
Apesar da repercussão negativa entre militares, o Ministério da Defesa e o Exército ainda não se posicionaram oficialmente sobre a participação do ex-ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, na manifestação em favor do presidente Jair Bolsonaro no último domingo, no Rio. O caso gerou a abertura de um procedimento administrativo contra Pazuello, que já foi notificado pela Força a justificar sua participação, sem máscara, no ato que também gerou aglomeração.
Fontes militares e interlocutores do ex-ministro afirmam que o general recebeu na segunda-feira o Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (FATD), onde deverá, por escrito, apresentar sua defesa. O prazo, segundo o Regulamento Disciplinar do Exército, é de três dias a contar da data da notificação, mas a data limite pode ser estendida a pedido do general.
REUNIÃO NA DEFESA – Inicialmente, o Exército cogitou divulgar uma nota sobre a abertura do procedimento contra Pazuello, mas desistiu sem maiores explicações.
Na manhã de segunda-feira, o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, se reuniu com o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, para discutir o caso. Uma semana antes, Braga Netto também foi criticado por discursar em um palanque em ao lado de Bolsonaro em Brasília.Ele, porém, é um general da reserva.
Após Pazuello apresentar sua justificativa, caberá ao comandante da Força decidir se o general receberá uma sanção ou não pelo seu comportamento. O Estatuto dos Militares diz que são “proibidas quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou político”.
Se comprovada a transgressão, Pazuello poderá ser punido com advertência, repreensão, detenção ou prisão disciplinar. De acordo com fontes militares, o general deverá receber uma sanção mais leve para evitar um tensionamento com o Palácio do Planalto.
PASSAR PARA RESERVA? – Mesmo diante do mal estar na Força, o general, segundo interlocutores, não tem a intenção de passar à reserva e conta com o apoio do presidente. A pressão para que ele pedisse aposentadoria já existia no comando do Exército quando Pazuello estava no cargo de ministro, mas agora se intensificou.
Auxiliares do Planalto dizem que “há exagero” no caso. O desempenho do militar na CPI da Covid foi comemorado no Planalto por ele ter tentado blindar o presidente.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O presidente Bolsonaro deu ordem ao ministro da Defesa para não haver comentários sobre o caso Pazuello. O ministro Braga Netto avisou ao comandante do Exército, Paulo Sérgio Oliveira, que obedeceu é claro. E, conforme já explicamos várias vezes aqui no blog, não haverá punição a Pazuello, seguindo o exemplo da impunidade do general Hamilton Mourão, que em 2015 deu várias declarações esculhambando o governo Dilma Rousseff e defendendo o torturador Brilhante Ustra, a “punição” foi perder o comando de tropa (Exército do Sul) e passar a um cargo burocrático (Secretaria de Economia do Exército. Depois, continuou criticando publicamente e o governo e fez a palestra na Maçonaria em 2017, quando o comandante Eduardo Villas Bôas, seu amigo pessoal, lhe pediu que passasses para a reserva, para criticar o governo com mais tranquilidade, e Mourão foi presidir o Clube Militar, de onde saiu para ser eleito vice-presidente. (C.N.)