Publicado em 15 de maio de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
João Pedro Pitombo, Cátia Seabra e Wagner Melo, Folha de São Paulo, edição de ontem, focalizam o resultado da viagem que o presidente Jair Bolsonaro fez até Alagoas para ofender e atacar o senador Renan Calheiros pelo fato dele ter assumido, como relator da CPI da Pandemia, uma cobrança hostil a respeito dos erros e omissões do governo federal no combate ao coronavírus.
Bolsonaro viajou acompanhado do senador Fernando Collor e do deputado Arthur Lira, presidente da Câmara Federal. Causa preocupação o fato de Bolsonaro escolher o caminho do combate frontal e moral com o relator, quando deveria destacar as medidas que tomou para conter, no limite do possível, os efeitos da Covid-19.
FATO DE CRISE – Não fez isso e não tocou no assunto que representa o maior fator de crise do governo, refletido pela pesquisa do Datafolha que comprova a queda de sua popularidade. O presidente da República voltou a chamar Renan Calheiros de “vagabundo”, repetindo a mesma ofensa que o senador Flávio Bolsonaro fez ao parlamentar alagoano.
No dia de ontem, na Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman e Ruy Castro escreveram artigos sobre ângulos diferentes, mas que convergiram para realçar a personalidade e o desempenho de Bolsonaro nas questões com as quais se defronta e que não se volta para resolver nem mobiliza o seu governo para ações construtivas.
Só apela para a violência verbal, por enquanto, e tenta escapar da responsabilidade. O comportamento leva a uma impressão de que Bolsonaro coloca-se como centro do universo político-administrativo e quando não pode escapar dos seus próprios erros, passa a culpar os outros pelo o que acontece com ele e com a população brasileira.
REALIDADE PARALELA – Em 1944, depois da França ter se livrado do nazismo, André Malraux , que depois seria ministro da Cultura de Charles de Gaulle, numa entrevista, indagado a respeito de quando achava que Hitler iria se render aos aliados, disse que aquele homem nunca se renderia porque era alguém que tentava impor a sua realidade sobre a realidade dos fatos. Quando os fatos fechassem as portas às suas colocações, ele por quaisquer meios se voltaria contra o fim da estrada.
Não desejo comparar Bolsonaro a Hitler, claro, mas considero o escapismo como uma das últimas resistências pelas quais o presidente da República vai tentar a curva sinuosa do esquecimento. Vejam só o exemplo: o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, em depoimento à CPI na quinta-feira, revelou, para surpresa geral, que a empresa fez cinco ofertas de doses de vacinas ao Brasil e só obteve resposta na sexta etapa.
Passaram-se dois meses entre o quinto lance e a assinatura do contrato. Nesse espaço de tempo, milhares de pessoas perderam suas vidas. São verdades assim que o presidente Bolsonaro tenta colocar na sombra do esquecimento. Um desastre.
MEIO AMBIENTE – Bruno Góes, no O Globo, destaca o projeto aprovado pela Câmara que suspende a necessidade de prévia licença ambiental para instalação de empresas do agronegócio e também de atividades industriais e comerciais na região Amazônica. A reação era esperada, sobretudo porque a imprensa já vinha alertando para o absurdo do projeto, principalmente no momento em que o meio ambiente , a ecologia e o aquecimento global fazem parte de uma preocupação de todo o planeta.
Numa entrevista ao Globo, a ex-senadora Marina Silva sustenta que o Brasil encontra-se na contramão do mundo, facilitando exatamente atividades que invadem as florestas tropicais brasileiras. Marina Silva, quando ministra do primeiro governo Lula, entrou em conflito com a então titular de Minas e Energia, Dilma Rousseff, por causa da construção das hidrelétricas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte.
Belo Monte no Pará e Santo Antônio, na qual Furnas é sócia da Odebrecht, e a de Jirau que tem participação da Eletronorte e também uma fração da Odebrecht, foram consideradas por Marina Silva com investidas prejudiciais ao meio ambiente. Foi esta a razão pela qual Lula terminou, por pressão de Dilma Rousseff, exonerando a líder da ecologia brasileira.
ALVO DE CRÍTICAS – O ministro Ricardo Salles, como o jornalista André Trigueiro já destacou seguidamente na GloboNews, tornou-se um personagem extremamente crítico no panorama brasileiro. Todos o responsabilizam pelas queimadas do Pantanal de Mato Grosso e o desmatamento na Amazônia.
Mas ele continua no cargo e não se pode atinar por qual razão Bolsonaro o mantém na pasta. A favor de Salles só se encontram os desmatadores e os que desejam invadir áreas verdes pensando que com isso obterão lucros. Mesmo que o presidente da República sancione o projeto negacionista, as empresas diante da reação da imprensa do país não terão condições de investir em um projeto que pode ser sustado a qualquer momento, até mesmo pelo Supremo Tribunal Federal.
INSS E PROVA DE VIDA – Informação aos aposentados e pensionistas do INSS; matéria de Clayton Castelani, Folha de São Paulo, informa que no próximo mês de junho, o INSS se dispõe a suspender o pagamento desses direitos caso os aposentados e pensionistas não façam prova de que se encontram vivos.
Basta cada um procurar a agência bancária através da qual recebe os vencimentos para cumprir a exigência que se repete a cada ano. Os leitores devem ter estranhado, talvez, não ter me referido a benefícios e sim a direitos.
Explico: as aposentadorias e pensões não são benefícios, são direitos pelos quais os segurados pagaram a vida inteira. Benefício, por exemplo, é o auxílio de emergência. As aposentadorias e pensões são apólices sociais.