Publicado em 10 de maio de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Matérias publicadas neste domingo na Folha de São Paulo e no O Globo revelam que o presidente Jair Bolsonaro resolveu produzir um vídeo tendo ao seus lado os 22 ministros do governo defendendo o uso da cloroquina como medicamento eficaz para o combate à Covid-19.
Sério problema para o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, uma vez que ele enfrentará um dilema: ficar bem com o presidente ou ficar mal com a classe médica e científica. É evidente, como já a ciência chegou à conclusão, que a cloroquina nao tem eficácia alguma no combate ao coronavírus e, portanto, não pode ser usada contra a pandemia.
POSIÇÃO DIFÍCIL – O titular da Saúde talvez esteja nesse momento sentindo que não deveria continuar no governo porque certamente ficará numa posição muito ruim com os médicos e com as entidades médicas do país. Do país só não, talvez até ficasse mal com entidades médicas internacionais, a começar pela Organização Mundial de Saúde.
A matéria na Folha de São Paulo está assinada por Ricardo Della Coletta e no O Globo por André de Souza. O que pode salvar Marcelo Queiroga é o difícil, mas sempre possível, recuo de Bolsonaro.
ATAQUE – O presidente Jair Bolsonaro, acrescentam Ricardo Della Colleta e André de Souza, voltou a atacar a CPI dizendo que tornou-se um grande vexame, inclusive porque a Comissão Parlamentar de Inquérito não fala em cloroquina. Bolsonaro se enganou.
O tema cloroquina entrou várias vezes no depoimento de Queiroga que tentou se esquivar em uma tentativa criticada pelo presidente da CPI, Omar Aziz. Portanto, a cloroquina não deixou de ser colocada no palco do Senado Federal. O tema, inclusive, encontra-se também no Tribunal de Contas da União que deseja saber qual o montante das verbas que foram destinadas à distribuição do remédio.
COMPRA DE TRATORES – Reportagem de Bruno Pires, Estado de São Paulo de ontem, destaca que um esquema político a base de distribuição de verbas a deputados, no montante de R$ 3 bilhões, tem como destino a aquisição de tratores agrícolas para atender a realização de obras que indicadas através de emendas parlamentares.
Esses recursos foram usados para conseguir apoio aos candidatos governistas, e foram gastos em 101 ofícios, alguns deles com tratores e equipamentos agrícolas por preços até 259% mais caros que os valores fixados pelo governo.
MERCADO DE TRABALHO – Na Folha de São Paulo, matéria de Nicola Pamplona e Leonardo Vieceli, focaliza o problema encontrado pelos jovens para ingressar no mercado de trabalho. A população brasileira, digo eu, cresce a velocidade de 1% ao ano: são assim 2 milhões de pessoas que passam de uma idade para outra e que precisam encontrar possibilidade de ingresso no mercado de trabalho.
Com a dificuldade está se criando uma figura nova no cenário nacional. Não se trata de desemprego, pois o jovem nao era empregado. Significa a existência de um processo de não-emprego, tão grave quanto os 14 milhões de desempregados existentes no Brasil.
Quando se fala em desenvolvimento econômico e social tem que se levar em conta o crescimento demográfico, como é usado para estabelecer a renda per capita de um país. Se o Produto Interno Bruto crescer 1% ao ano terá ocorrido uma estagnação no país. Para que tenhamos avanço é necessário que o PIB cresça mais do que 1%, no caso brasileiro.
SUCESSÃO DE 2022 – Reportagem de Joelmir Tavares e Carolina Linhares, Folha de São Paulo, focaliza as primeiras movimentações de candidatos em potencial para a sucessão de 2022. Dois nomes, claro, se destacam, o próprio presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula da Silva.
Porém, há esforço para que haja uma terceira força com possibilidade de chegar pelo menos ao segundo turno da votação. Mas essa busca encontra dificuldades, havendo poucos nomes capazes de arregimentar um bloco que não esteja nem com Lula e nem à direita de Bolsonaro. Mas nao está fácil.
João Doria dificilmente se afastará do governo para disputar eleições em condições difíceis. O nome de Tasso Jereissati surgiu na última semana como alternativa do PSDB. O nome de Luciano Huck nao foi cogitado pelos jornalistas da matéria. Ciro Gomes, vetado por Lula, tanto hoje quanto em 2018, na minha opinião não tem possibilidade alguma.
CONFRONTO IDEOLÓGICO – Também na Folha de São Paulo e exercício interessante da repórter Ana Estela de Sousa Pinto; ela aborda a base de um confronto ideológico citando o exemplo da França.
Na França, Emmanuel Macron disputará a reeleição em abril também de 2022. A posição solidificada da direita, com Marine Le Pen como candidata natural, está alcançando nas pesquisas uma fração de 25%. Para mim esse fenômeno eleitoral da direita, exceções confirmando a regra, estão contidas na faixa entre 20% a 25%, não devendo fugir dessa realidade. Foi o que aconteceu no segundo turno da última eleição presidencial francesa.
No Brasil, a mais recente pesquisa do Datafolha apontou 32% a favor de Jair Bolsonaro, mas o julgamento não era manifestação de voto e sim de consideração positiva do seu governo. Projetado para amanhã o panorama de hoje, Bolsonaro no caminho das urnas vai percorrer uma faixa que acredito seja de 25%. O problema é saber se 25% serão capazes de levá-lo ao segundo turno. Acho que sim, terá ele a oportunidade de se confrontar com o ex-presidente Lula da Silva. As urnas vão decidir.