Pedro do Coutto
A bancada bolsonarista na CPI da Covid-19 tentou mas não conseguiu procrastinar os trabalhos e tampouco obstruir e confundir o ex-ministro Henrique Mandetta na exposição que fez, relatando com tranquilidade os problemas com os quais se confrontou no governo Bolsonaro quando esteve à frente do Ministério da Saúde.
Mandetta disse que não conseguiu colocar em prática medidas previsíveis a respeito da pandemia que começou a ocorrer em janeiro de 2020 e que somente foi notada pelo governo a partir de março e, mesmo assim, sem acreditar, de fato, no perigo que ela representava.
ALERTA – Os fatos, disse ele, provaram o contrário, destacando ter alertado o Palácio do Planalto quanto à ineficácia da cloroquina no tratamento do coronavírus. O ex-ministro da Saúde relatou as atividades que fez e a preocupação que teve com a distribuição de oxigênio para evitar casos como o de Manaus.
Mandetta não fez ataques ao presidente da República. Na minha impressão deixou as informações que obteve com a sua experiência para análise da própria Comissão Parlamentar de Inquérito. Foi um pronunciamento sereno, conforme assinalei, transferindo a munição de choque para o relator Renan Calheiros. Um dos fatos marcantes no dia de ontem é que o trabalho da CPI vai continuar no mesmo tom com que começou.
QUEIROGA E A IMPRENSA – A Folha de São Paulo focalizou nesta segunda-feira a confusão feita pelo ministro Marcelo Queiroga em evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, ao dizer aos empresários que não devem programar anúncios comerciais para parte da imprensa “não contribui com o Brasil” em meio à pandemia.
Queiroga praticamente propôs um tipo de chantagem e cooptação. No seu modo de ver, a imprensa que criticar o governo não deve ser programada publicitariamente pelas empresas industriais de São Paulo. Um absurdo total, provando que o ministro não entende nada do que fazem os jornais e as emissoras de televisão.
ANTIÉTICO – Condicionar publicidade à linha editorial não é certo. A ideia fica na tentativa e depois como papel usado jogado no lixo. Ele está baseado nas informações da antiga imprensa em que os donos de jornais impunham linhas políticas aos veículos dos quais eram proprietários. Isso acabou, desapareceu do mapa essa antiética.
A notícia é dada de acordo com os fatos ocorridos. Querer que a imprensa só fale bem do governo é um desserviço à opinião pública. As edições são elaboradas profissionalmente, não representando e nem podendo ser porta-vozes de interesses empresariais ou político-administrativos.
FALHAS NO MEC – O governo Jair Bolsonaro está sendo marcado pelos erros seguidos e pelas omissões que o envolvem. Como exemplo, no Ministério da Educação, o ministro Milton Ribeiro é praticamente um ausente do sistema educacional. Sua ausência vem sendo acompanhada por erros primários.
Agora de acordo com reportagem de Paulo Saldaña, Folha de São Paulo desta segunda-feira, o MEC transferiu errado R$ 836 milhões de recursos do Fundeb, educação básica, através do qual se realizam parcerias com governos estaduais e municipais num esforço que deveria ser conjunto para as várias escalas da educação nacional.
A parcela foi repassada na última sexta-feira para estados e municípios apesar de milhares de matrículas terem sido deixadas de fora nos cálculos do fundo. A correção ficou de ser feita dentro de alguns meses. Mais um grande problema para o governo Bolsonaro.
UNIFICAÇÃO TRIBUTÁRIA – Geraldo Adoca e Fernanda Trisotto publicam reportagem no O Globo sobre o projeto do governo de unificação dos tributos federais. Trata-se da pretendida fusão que poderá ser feita por etapas e que vai agregando aos poucos todas as unificações contidas na proposição do projeto considerado importante para o país.
O problema é que, na minha opinião, os impostos só podem produzir mais receita se o poder de consumo da sociedade evoluir, afastando-se do panorama de carência que o envolve nos dias de hoje. Conforme digo sempre, qualquer ação tributária depende fundamentalmente do nível do poder de consumo. Com os salários perdendo para a inflação não é possível receita alguma tornar-se suficiente para enfrentar os problemas que tem pela frente,
Também no O Globo, matéria de Bruno Alfano, revela que pelo orçamento votado pelo Congresso e que teve origem no trabalho do Ministério da Economia, o Ministério da Educação foi atingido fortemente pelo corte de suas verbas. Um absurdo. Em 2018, para que se tenha uma ideia, a rubrica orçamentaria da Educação atingiu R$ 23,2 bilhões. Agora, em 2021, após os índices inflacionários de 2019 e 2020 o corte reduziu os recursos para R$ 8,9 bilhões.
EDUCAÇÃO TORPEDEADA – Com esse corte, que engloba os investimentos da pasta, o sistema educacional foi torpedeado. Um retrocesso total. Retrocessos assim não acontecem, por exemplo, com os bancos de primeira linha, como é o caso do Itaú, do Bradesco e do Santander. Reportagem de Aline Bronzati e Marcelo Mota, o Estado de São Paulo, focaliza o lucro líquido do Itaú no primeiro trimestre deste ano: foi de R$ 6,4 bilhões, segundo o banco, superando até as expectativas.
O lucro de R$ 6,4 bilhões representa um aumento de 64% do lucro alcançado no primeiro trimestre de 2020. Portanto o lucro líquido do Itaú superou por larga margem os índices inflacionários calculados pelo IBGE.
BIG BROTHER – Na edição de segunda-feira da Folha de São Paulo, Júlia Moura publica reportagem sobre os reflexos no mercado da publicidade que empresas fizeram no Big Brother Brasil deste ano. Há casos em que o avanço de compras surpreendeu e alcançou um aumento de 80% comparado com o nível mensal anterior à fase final do programa.
O BBB, que é baseado em um projeto norte-americano, no Brasil, na edição de 2021 que se encerrou ontem, tornou-se um fator recorde de vendas comerciais. O nível de audiência teve base em pesquisa da empresa Kantar que adquiriu o Ibope no início deste ano.
AUDIÊNCIA – A audiência bateu em torno de 27 a 30 pontos por domicílio. Para se ter uma ideia do que esse índice representa no plano concreto, acrescenta a reportagem que o público estimado pelo Kantar foi de 39,8 milhões de pessoas.
Mas não é só: é preciso considerar, digo eu, que o programa desencadeou nas pessoas um impulso fora do comum para a aquisição dos produtos colocados pelas páginas coloridas da publicidade comercial. Para exemplificar a força da publicidade no caso do BBB, acrescenta o Kantar, o preço da TV Globo , preço nacional, é de R$ 504 mil por 30 segundos.