Pedro do Coutto
Não tenho dúvida de que, além da compra de votos patrocinada pelo governo Bolsonaro, as eleições no Congresso traduzem também um desfecho amplamente favorável ao pensamento conservador. Com isso, o pensamento imobilista permanece predominando nas ações governamentais. Há cerca de 30 anos, Antonio Houaiss e eu escrevemos um pequeno livro “Brasil, o fracasso do conservadorismo”.
Hoje, vejo que acertamos em cheio no plano econômico social, mas erramos quanto ao aspecto político essencial na vida brasileira.
PREÇOS E SALÁRIOS – Vejam os leitores, por exemplo, o que acontece no confronto entre os preços e os salários. Só no atual governo a inflação calculada pelo IBGE está em torno de 8% para o período 2019/2020. Enquanto isso, a grande maioria dos trabalhadores perdeu o confronto com o índice inflacionário. Sendo que no que se refere aos funcionários públicos a correção foi de 0%.
O Estado do Rio de Janeiro é um exemplo e o arrocho atinge também os servidores municipais. Há exceções, como anunciado amplamente, como o caso da magistratura, integrantes do ministério público e dos serventuários da Justiça federal. Mas esses segmentos têm peso muito pequeno na estrutura geral do funcionalismo público.
LUCRO DOS BANCOS – Outro assunto chocante é o balanço dos bancos, como o caso do Itaú, apresentaram lucros substanciais no exercício de 2020. Reportagem de Isabela Bolzani, Folha de terça-feira, revela que o lucro líquido do banco foi de 18,5 bilhões de reais. Tal resultado representou 16% do patrimônio líquido. Portanto, a pandemia reduziu o lucro em 35%, mas o avanço do sistema continua.
Ontem, foi o último dia de Cândido Bracher na presidência do Itaú. Completou 62 anos e é sucedido por Milton Maludy Filho. O Banco Brasileiro de Descontos, fundado por Amador Aguiar, transformou-se em Bradesco. O relatório do Itauú acentua que o banco pertence a um elenco formado também pelo BB, CEF, Bradesco e Santander. O país já teve lista grande de bancos que foram desaparecendo na estrada do tempo.
CENTRÃO NO PODER – Mas falei em vitória do governo Bolsonaro na eleição de Pacheco e Lira. Reportagem de Adriana Fernandes, O Estado de São Paulo, revela que o Centrão agora está propondo o desmembramento do Ministério da Economia.
Guedes quer destravar a agenda que inclui reforma tributária e a desestatização de empresas a começar pela Eletrobrás, mas os conservadores no Congresso querem recriar os ministérios da Fazenda. Planejamento, da Previdência e do Trabalho, todos eles hoje centralizados nas mãos do superministro Paulo Guedes. Parece que ele não está agradando.