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quinta-feira, dezembro 24, 2020

No Natal, é preciso respeitar não só quem acredita em Deus, mas também os próprios ateus


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Krisnha, o mais antigo avatar, vivem em 3000 a.C.

Carlos Newton

Futebol, política e religião são assuntos que não devem ser discutidos, porque despertam fanatismo. Depois de uma longa estrada de jornalismo, a gente aprende a analisar as coisas como se estivesse desligado delas, passa a admirar grandes jogadores de outros times, identifica qualidades em políticos de ideologia oposta e começa a cultuar também líderes de outras religiões. No meu caso, a maturidade me fez ser ecumênico e apoiar o Papa Francisco em seu luta para reunir as religiões, pois todos os caminhos podem nos levar a Deus, sem passagem obrigatória por Roma e pelo Vaticano.

Mas respeito muito aqueles que não acreditam em Deus e defendo que o Estado seja laico e as escolas, também, até porque há um número enorme de religiões e a crença em Deus é uma questão de foro íntimo, a meu ver.

OS AVATARES – Tenho interesse todo especial pelos chamados “Avatares”, uma palavra derivada do sânscrito. Significa “aquele que descende de Deus” ou, simplesmente, qualquer espírito que ocupe um corpo, representando assim uma manifestação divina na Terra.

A humanidade teve grandes avatares do pensamento filosófico, social e espiritual, que nos influenciam até hoje. Pela ordem de entrada em cena – Krishna na Índia (3 mil anos antes de Cristo); Moisés no Egito e Oriente Médio (1.512 a.C); Lao Tse na China (1.300 a.C.); em seguida, Buda na região do Nepal/Himalaia (600 anos a.C.); pouco depois, Confúcio no Nordeste da China (550 anos a.C.); logo após, Sócrates na Grécia (469 a.C.); depois, o próprio Jesus Cristo na Palestina, com a abertura da atual Nova Era; e Maomé (570 depois de Cristo).

SÓCRATES E ZOROASTRO -Considero Sócrates como avatar, porque muitos ensinamentos da Bíblia são claramente baseados nas lições do sábio grego, que influenciou também diretamente o espiritismo de Allan Kardec.

É evidente que a Bíblia, que foi escrita muito depois da morte de Cristo, é um livro religioso que consolidou o conhecimento da época. Possui aspectos encontrados na mitologia hindu (4.000 a.C.), no Épico de Gilgamesh (2500 a.C.) e em diverso outros textos.Por isso, não poderia deixar de incluir os pensamentos dos gregos divulgados 400 anos antes do nascimento de Cristo.

Há outros avatares, como Zoroastro (ou Zaratrusta), criador da doutrina dualista (Bem e Mal) dos persas, cerca de 700 anos antes de Cristo, uma religião também muito importante, adotada pelo Império Aquemênida, que dominou grande parte do mundo 500 anos antes de Cristo. Mas neste artigo vamos nos fixar nos  oito principais avatares, que ainda hoje influenciam a humanidade.

MUITA IDENTIDADE – Em todos esses doutrinadores, que trouxeram a palavra de Deus, constata-se uma identificação absoluta, pois são praticamente os mesmos ensinamentos, a idêntica tentativa de melhorar a vida de todos e de criar relações mais justas e humanas, numa impressionante coincidência de propósitos e iniciativas.

Suas origens são bem distintas. Mas tinham em comum os mesmos objetivos sociais e espirituais, que acabaram inspirando as lideranças políticas através dos séculos.

Detalhe interessante: nenhum dos grandes avatares deixou por escrito seus pensamentos religiosos e teses filosóficas. As palavras de todos eles foram difundidas ou transcritas por discípulos, apóstolos ou seguidores.

KRISHNA E MOISÉS – Os registros históricos são precários, especialmente de Krishna, o mais antigo, que viveu na Índia antiga há mais ou menos 5 mil anos. Seus ensinamentos, transmitidos por uma série de seguidores (também considerados avatares na Índia), formam a base do Hinduísmo, até hoje uma das mais importantes religiões do mundo.

Moisés (Moshe ou Mōüsēs, 1.500 a.C.) foi um profeta egípcio da Tribo de Levi, autor da Torah, segundo a tradição judaico-cristã, correspondente aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento cristão. Segundo o Livro do Êxodo, o menino Moisés foi adotado pela filha do faraó, que o encontrou enquanto se banhava no Rio Nilo e o educou na corte como o príncipe do Egito.

Por ter matado um feitor, levado por “justa ira”, fugiu do Egito para escapar da pena de morte. E conduziu o povo de Israel até ao limiar de Canaã, a Terra Prometida a Abraão. Moisés é patriarca dos judeus e santo nas Igrejas Católica e Ortodoxa.

LAO TSE E BUDA – Diz-se que o chinês  Lao Tse (ou Lao Zi, Lao Tzu, 1.300 anos a.C.) era filho de um alquimista. Conforme os registros do cânone religioso taoísta, Lao Tse teria sido convidado pelo rei Wen para ser o responsável pela biblioteca real. Portanto, era alfabetizado. No 25º ano da era do rei Zhao, iniciou sua grande viagem para o Ocidente, com intuito de chegar aos reinos da atual Índia, para depois ir ao Afeganistão e à Itália. Durante o trajeto, teria aceitado como discípulo um oficial chefe da fronteira, a quem ditou vários escritos, entre eles o Tao Te Ching.”

Os registros são de que Buda (Siddharta Gautama, 600 anos a.C.) nasceu de uma família nobre num reino da região do Nepal. Quando descobriu o que representavam a vida e a morte, submeteu-se a sofrimentos, purificou-se e passou a doutrinar os outros, ensinando que uma pessoa não se torna sacerdote por nascimento e ninguém é pária pelo berço, mas em função de seus próprios atos.

CONFÚCIO E SÓCRATES – Já o chinês Confúcio (K’ung Ch’iu, K’ung Chung-ni ou Confucius, 550 anos a.C.)) nasceu em uma pequena cidade na região chinesa de Lu. Seu pai, Shu-Liang He, teria sido magistrado e guerreiro. O pensador teve seus ensinamentos difundidos na obra “Analectos de Confúcio”, uma coleção de aforismos, compilada muitos anos após a sua morte. Sua filosofia pregava a moralidade pessoal e governamental, além de procedimentos corretos nas relações sociais, com justiça e sinceridade.

Já o grego Sócrates (469 anos a.C) veio de família de classe média, digamos. Na juventude era chamado de Sokrates ios Sōfronískos (Sócrates, o filho de Sophroniscus). Seu pai era operário categorizado, especialista em entalhar colunas nos templos, casado com a parteira Phaenarete.

Durante a infância, Sócrates ajudou o pai no ofício de entalhador, mas logo depois se tornaria o maior filósofo e educador da Antiguidade. Seus pensamentos foram transmitidos pelos discípulos Platão e Xenofonte. São impressionantes as teses de Sócrates sobre a alma, a espiritualidade e a reencarnação.

CRISTO E MAOMÉ – Depois, temos Jesus Cristo e seus ensinamentos compilados na Bíblia, também escrita depois da morte dele e que deu origem a grande número de ramificações e seitas religiosas derivadas do Cristianismo. É o grande líder religioso do mundo ocidental.

Por fim, o avatar dos muçulmanos é Maomé (Muḥammad ou Moḥammed), que é bem mais moderno, o único que nasceu depois de Cristo, em 6 de abril de 570. Para os islamitas, Maomé foi precedido em seu papel de profeta por Jesus, Moisés, Davi, Jacob, Isaac, Ismael e Abraão. E seria o mais recente e último profeta do Deus de Abraão.

Como figura política, Maomé unificou várias tribos árabes, criando os primórdios da formação do império islâmico que se estendeu da Pérsia até a Península Ibérica. Também Maomé nada deixou escrito, foram seus discípulos que redigiram o Corão.

BUDA SINTETIZOU – Ainda sobre as maiores religiões, é sempre interessante destacar um pensamento atribuído a Buda, que sintetiza e justifica a existência dos diversos avatares, os mensageiros de Deus:

“Não sou o primeiro Buda que existiu na terra, nem serei o último. No tempo devido outro Buda levantar-se-á no mundo, um santo, um ser divinamente iluminado, dotado de sabedoria em sua conduta, benigno, conhecendo o universo, um líder incomparável dos homens, um mestre dos anjos e dos mortais. Ele vos revelará as mesmas verdades eternas que vos ensinei. Ele vos pregará esta religião, gloriosa em sua origem, gloriosa em seu clímax, gloriosa em seus objetivos, tanto no espírito como na forma. Ele proclamará uma vida religiosa tão pura e perfeita como a que agora proclamo. Seus discípulos serão contados em milhares, enquanto que os meus contam-se em centenas.”

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P.S. 1 – É interessante notar que desde Krishna, as imagens históricas de diversos avatares, inclusive Jesus, os exibem na mesma posição de Lótus, que significaria a Estrela de Davi, de Moisés.

P.S. 2 – O assunto é importante e inesgotável. Amanhã voltaremos a ele, com reflexões sobre os ensinamentos de Sócrates, sua influência no Cristianismo e no Espiritismo. E hoje, um Feliz Natal a todos, inclusive aos robôs. (C.N.)

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