Posted on by Tribuna da Internet
Renato Machado
Folha
O Ministério da Defesa divulgou na manhã deste sábado, dia 14, nota na qual tenta tirar de foco os comandantes das Forças Armadas e afirma que o ministro Fernando Azevedo é o único “representante político” dos militares do governo.
A nota conjunta, assinada pelo ministro e pelos comandantes da Marinha, Aeronáutica e Exército, também afirma que as Forças Armadas estão apartadas da política partidária e que esse pensamento não destoa da posição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “O único representante político das Forças Armadas, como integrante do governo, é o ministro da Defesa”, afirma a nota.
TERMOS INSTITUCIONAIS – “Os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, quando se manifestam, sempre falam em termos institucionais, sobre as atividades e as necessidades de preparo e emprego das suas Forças, que estão voltadas exclusivamente para as missões definidas pela Constituição Federal e leis complementares”, completa o texto.
A Folha apurou que a nota tem o objetivo de tentar colocar um ponto final na série de declarações feitas nos últimos dias a respeito de um possível papel político das Forças Armadas. Além disso, ao chamar para o ministro a responsabilidade pelas manifestações políticas, o comando da Defesa pretendeu não apenas tirar do foco os três comandantes das Forças, o general Edson Leal Pujol, o almirante Ilques Barbosa Junior (Marinha) e o brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica).
Foi também um recado para os militares da reserva que vêm se manifestando de maneira crítica ao governo Bolsonaro, como o ex-ministro e general Carlos Alberto dos Santos Cruz, o ex-porta-voz e general Otávio do Rêgo Barros e o general Paulo Chagas.
CENTRO DO DEBATE – A divulgação da nota acontece após uma semana em que as Forças Armadas estiveram no centro do debate político, com manifestações do presidente, do vice Hamilton Mourão (PRTB) e do comandante Pujol.
Em texto em suas redes sociais, Bolsonaro manifestou que as Forças Armadas devem se manter apartidárias, mas ressaltou que sob “autoridade suprema do presidente da República”. Também lembrou que Pujol foi indicado por ele para o comando.
Na última terça-feira, dia 10, o próprio presidente trouxe para o centro do debate as condições bélicas das Forças Armadas ao insinuar que poderia entrar em combate com os Estados Unidos, maior potência militar do mundo. Ao responder às pressões do candidato vencedor das eleições americanas, Joe Biden, sobre o desmatamento na Amazônia, Bolsonaro disse que “quando acabar a saliva, tem que ter a pólvora”.
MEMES – Seguiu-se debate sobre as condições militares brasileiras do país, inclusive sendo motivo de memes na internet. Dois dias depois, o comandante do Exército foi questionado sobre a participação de militares na política durante uma live.
“Não queremos fazer parte da política governamental ou política do Congresso Nacional e muito menos queremos que a política entre no nosso quartel, dentro dos nossos quartéis. O fato de, eventualmente, militares serem chamados a assumir cargos no governo, é decisão exclusiva da administração do Executivo”, disse na ocasião Pujol.
Nesta sexta-feira, dia 13, Mourão também seguiu a linha do comandante do Exército e afirmou que a atuação política de militares é danosa para a manutenção da ordem. “Política não pode estar dentro do quartel. Se entra política pela porta da frente, a disciplina e a hierarquia saem pela porta dos fundos”, disse o vice-presidente.
SEPARAÇÃO – Mourão foi além e declarou que a separação entre assuntos políticos e militares deve ser ainda mais rígida em relação aos militares da ativa. O governo Bolsonaro tem atualmente dois membros da ativa no primeiro escalão: o ministro Eduardo Pazuello (Saúde) e o almirante Flávio Rocha, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
“Nós que somos da reserva é uma outra situação. Os militares da ativa, esses realmente não podem estar participando disso [política]”, disse Mourão na manhã de sexta. “A nossa legislação foi mudada no período de 1964 porque exatamente o camarada era eleito, participava do processo eleitoral e depois voltava para dentro do quartel. Isso não era salutar”, completou.