por Fernando Duarte
Foto: Paula Fróes/ GOVBA
A eventual reabertura precoce das escolas não dá para ser comparada com a reabertura de setores econômicos. Porém o governador Rui Costa foi infeliz em traçar esse paralelo, quando questionado sobre a possibilidade de retomada das aulas presenciais na Bahia. Para ele, se ninguém falou sobre “genocídio” na retomada dos shoppings centers, não dá para se preocupar com a exposição da comunidade escolar caso opte pelo reinício das atividades em salas de aula físicas.
De um modo bem simplista, até que a comparação caberia. A sociedade começa, aos poucos, a se acostumar com as medidas de distanciamento social e, uma hora, vai acontecer o retorno das aulas para estudantes da rede pública e privada. Pena que as atividades comerciais não são obrigatórias como deve ser com o comparecimento dos estudantes às aulas. Enquanto a população pode ter a opção de não ir para shoppings e até bares e restaurantes, os alunos não terão chance de escolha. Retornando as atividades presenciais, eles serão obrigados a comparecer, sob o risco de serem ainda mais prejudicados pela pandemia do coronavírus.
Quando autoridades sanitárias ao redor do mundo recomendaram a suspensão das aulas, não foi porque crianças e adolescentes são potenciais grupos de risco para o agravamento da Covid-19. Boa parte deles, inclusive, pode ser de contaminados assintomáticos, o que dificulta a mensuração adequada da presença de testes positivos para a doença. O próprio levantamento preliminar, feito pela Secretaria Estadual de Educação, mostra que o índice de contaminação beira 10% entre estudantes, professores e profissionais da educação, frente ao 1% dos dados oficiais. Logo, retomar as aulas pode gerar uma onda de contaminação difícil de prever. E a disseminação no sentido escola - casa, algo que tentamos evitar a todo custo desde março.
Em algum momento, será necessário retomar a rotina das classes. O ano letivo já foi completamente comprometido, mesmo que políticos das mais diversas matizes afirmem o contrário. Mesmo com a extensão do período de aulas até fevereiro do próximo ano, o esforço é para que haja um paliativo para o prejuízo a longo prazo que os estudantes devem ter. Por isso é preciso muita cautela para que a celeridade do retorno dos estudantes às salas não gere um efeito ainda mais negativo do que a manutenção da suspensão.
Ainda assim, é um erro comparar volta às aulas com a reabertura econômica. Quando as escolas reabrirem, em tese, os alunos serão obrigados a retomar uma normalidade artificial, até pelo receio de lidar com novas ondas de contaminação. Será que os pais estariam dispostos a expor os próprios filhos ao risco? Ir ao shopping, a bares ou a restaurantes é bem menos essencial do que retomar as escolas.
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