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segunda-feira, junho 24, 2019

‘O crime dentro do estado sempre contra-ataca’, diz especialista sobre a Lava Jato

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O professor  em Nova York, avalia que o Brasil vem fazendo um bom trabalho no combate às redes criminosas Foto: GDA/El Universal/México
Edgardo Buscaglia, da Columbia Law School, defende a Lava Jato
André de SouzaO Globo
Autor de uma extensa pesquisa sobre o crime organizado, o professor Edgardo Buscaglia , da Columbia Law School, em Nova York, avalia que o Brasil vem fazendo um bom trabalho no combate às redes criminosas, inclusive àquelas que se infiltraram no Estado, mas faz um alerta: sempre que há um movimento nesse sentido, que permite entre outras coisas a prisão de altos políticos e empresários, pode ocorrer o que ele chama de “contrarreforma mafiosa”.
Há risco de o Brasil se tornar um dia o que a Colômbia já foi?Não, não! Nós tivemos acesso a arquivos do Brasil, examinamos a investigação das polícias, informações da inteligência, o trabalho do Ministério Público e dos juízes. Em 2004, o Brasil cumpria apenas 13 das 45 instituições necessárias para combater o crime organizado, dentro ou fora do âmbito do Estado. Agora cumpre todas as 45, em especial no combate à corrupção política. Têm sido acusados não apenas políticos da esquerda, mas de todas as ideologias no Congresso. Então o Brasil melhorou muito em termos de efetividade no combate às redes criminosas. Em 2002, era um dos piores. Nós cobrimos 118 países, e era o número 73. Agora está entre os 22 melhores. O ponto é que isso não é reconhecido publicamente no Brasil.
Por quê?Quando nos empenhamos mais contra a corrupção e o crime organizado, a percepção é de que há mais corrupção, mas é um paradoxo. É o oposto. Em países como o México, em que o caso Odebrecht foi empurrado para debaixo do tapete, as pessoas não veem a corrupção porque não foi investigada.
Por que o Brasil está melhor?A independência judicial e a autonomia operativa do Ministério Público aumentaram. É um grande desenvolvimento institucional que levou muitos anos, não foi de um dia para o outro. Houve vários líderes neste país, Dilma Rousseff, Lula, (Fernando Henrique) Cardoso, que permitiram esse desenvolvimento institucional.
O Brasil vai continuar andando na direção correta ou pode retroceder?Tudo depende. Sempre que você começa a combater o crime organizado dentro do Estado, ele vai contra-atacar. Geralmente com golpe de Estado. Não com tanques, mas dentro do Parlamento. Começam a fazer impeachments. Eles não ficam parados e olham. Eles se reagrupam e começam a “contrarreforma mafiosa”. Não se pode prever em política o que vai acontecer no Brasil. Não foram acusados apenas um ou dois políticos. Há dezenas, de todos os partidos. Eles vão reagir.
Isso pode acontecer no Brasil?A “contrarreforma mafiosa” é uma coisa difícil de prever. Eu espero que ela fracasse. O objetivo desses caras não é apenas mostrar fitas de (Sergio) Moro, mas orquestrar um golpe de Estado disfarçado de impeachment ou algo do tipo. Eles querem voltar ao passado.
Moro errou ao dar conselhos a procuradores?Vamos descobrir. O Brasil tem procedimentos para determinar isso, mas o ponto é que há muitos casos como a Lava-Jato no Brasil que foram investigados, sentenciados, com apelação, e o devido processo foi respeitado. O que aconteceu no Brasil nos últimos cinco anos é ficção científica para países como Argentina e México. Cidadãos (desses países) sonham em ver juízes e procuradores fazendo o que fizeram aqui.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Enquanto isso, há brasileiros que torcem ardorosamente contra Sérgio Moro e a força-tarefa da Lava Jato. E acreditam nessa conversa fiada de “perseguição política”. (C.N.)

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