Pedro do Coutto
Reportagem de Ranier Bragon, Tiago Resende e Taís Arstes, Folha de São Paulo de ontem, revela que o governo resolveu liberar a verba para os deputados que votarem pela aprovação do projeto de reforma da Previdência. De tal atitude, penso eu, depreende-se que a resistência de parlamentares em votar a matéria continua sendo forte. Claro. Porque, do contrário para que distribuir recursos como a Folha de S. Paulo divulgou?
A reportagem não cita quais deputados estão recebendo a proposta. A matéria tem alcance genérico, o que deveria resultar uma reação forte do presidente da Câmara.
OBRIGAÇÃO – Rodrigo Maia está moralmente obrigado a rebater a informação, ou, se for o caso, exigir que a liderança do Planalto forneça resposta a manobras sinuosas em torno do tema. Pois em tal circunstância estará praticando uma atitude contrária aos que estiverem à sombra das suspeitas.
A reportagem cita o Ministro Onyx Lorenzoni como uma fonte de onde partem as propostas. Como no filme “Casablanca”, identifiquem-se os suspeitos de sempre. Não se trata de compra direta de votos. Mas sim a liberação de recursos de emendas impositivas consignadas no orçamento para execução de obras.
Aí sim, surge a liberação dos dez milhões de reais para cada deputado. As emendas visam execução de obras nas bases eleitorais de cada parlamentar.
FORTALECIMENTO – Os deputados, mesmo com antecedência de três anos e meio para as Eleições, desejariam fortalecer seus redutos. Ou então fortalecer suas bases para as eleições municipais de outubro do ano que vem.
Sob todos os ângulos de análise, sejam elas quais forem, os que tiverem verbas liberadas decolam em melhores condições do que seus rivais. Parece uma simples ação de toma lá dá cá.
Mas não é só isso. Acontece que o governo está oferecendo recursos condicionados a votos favoráveis a reforma previdenciária.
Mas daí surge a indagação que julgo complementar para efeito de raciocínio lógico: qual a reforma? O substitutivo Samuel Moreira ou o texto inicial de Paulo Guedes? Essa pergunta deve estar sendo feita entre os que oferecem e os que se encontram dispostos a trocar uma posição pelo menos de dúvida por uma de quase certeza.
MUITAS MUDANÇAS – O projeto de Paulo Guedes sofreu alterações substanciais no parecer de Samuel Moreira que conclui por um substitutivo. A capitalização é um desses pontos. Recorde-se que o ministro afirmou há cerca de um mês que sem a capitalização e a isenção das empesas, seu projeto estaria derrubado e, com isso, sua presença no Ministério não faria mais sentido.
A parte final deste artigo refere-se às críticas de Paulo Guedes a Câmara, segundo reportagem de Vera Rosa e Camila Tortelli, em O Estado de São Paulo, quando ele disse que o Legislativo era uma máquina de corrupção. Assim, há mais um motivo para que Rodrigo Maia responda a Paulo Guedes. O ministro da Economia, o homem fatal de Nelson Rodrigues, sublinha a nova etapa da novela. Não se trata só de reforma da Previdência. Mas sim a forma da reforma.