Posted on by Tribuna da Internet
Juliana Castro
No dia 21 de fevereiro, o ex-governador Sérgio Cabral rompeu a rotina que vinha mantendo em Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. Escoltado, percorreu 42 quilômetros até o Centro para chegar ao Ministério Público Federal (MPF). Foi ali que, pela primeira vez, confessou o recebimento de propinas. Desde então, ele já se apresentou quatro vezes diante do juiz Marcelo Bretas para esmiuçar o esquema de corrupção em seu governo. Nessas audiências, o ex-governador do Rio disse estar à disposição para revelar situações comprometedoras envolvendo políticos e empresários.
Desde que assumiu a nova postura de defesa, ele também foi ouvido ao menos três vezes pelo Ministério Público do estado. Cabral já falou sobre o ex-procurador-geral de Justiça Cláudio Lopes. Confirmou que ele recebeu propina enquanto comandava o MP estadual do Rio para blindar a organização criminosa do MDB.
RODRIGO NEVES – O ex-governador depôs também sobre o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), que chegou a ser preso durante o mandato, acusado de corrupção. Ainda prestou esclarecimentos sobre a FGV Consultoria, que havia sido citada por ele em um depoimento a Bretas. Lopes, Neves e a FGV Consultoria negam irregularidades em suas condutas.
Somente no último depoimento a Bretas, em 23 de maio, Cabral citou sete vezes que estava à disposição do MP para esclarecer fatos que não faziam parte do processo em questão. Naquela oitiva, seu alvo principal foi o empresário Georges Sadala, ex-amigo que abocanhou contratos vultuosos com o governo do estado na gestão do emedebista com o programa Poupa Tempo. O ex-governador afirmou que poderia falar mais sobre um político de outro estado que o apresentou a Sadala. Embora não tenha citado nominalmente, Cabral referia-se ao deputado Aécio Neves (PSDB).
EM OUTRO ESTADO – Cabral se ofereceu ainda para falar sobre a melhoria de vida de Sadala, que se mudou de um condomínio da Barra da Tijuca para a Avenida Vieira Souto, em Ipanema. O emedebista disse que a prosperidade repentina não se deu por um benefício de Sadala “aqui no Rio de Janeiro”, mas em outro estado. E, mais uma vez, prometeu contar o que sabe se fosse convocado pelo MP.
Ele também se ofereceu para falar sobre outros negócios envolvendo o ex-amigo e sobre o que viu e ouviu quando visitou o Poupa Tempo em São Paulo, onde foi conhecer a iniciativa antes de implementá-la no Rio. Sadala nega as acusações de que pagou propina a Cabral e de irregularidades em seus negócios.
CERVEJA ITAIPAVA – Em outro depoimento, no dia 26 de março, o ex-governador se ofereceu para falar sobre Walter Faria, dono do Grupo Petrópolis (cerveja Itaipava):
— O Walter é uma pessoa de muita influência. Se o MP desejar, eu poderia esclarecer, em outras circunstâncias, muita coisa em relação a isso.
Cabral tentou um acordo de delação premiada, que não vingou. Sua postura de admitir os crimes tem por objetivo diminuir os anos na cadeia. Embora colocar-se à disposição para falar sobre fatos alheios aos processos não traga uma redução de pena em si, é uma estratégia para dar credibilidade às confissões e demonstrar que quer colaborar com a Justiça.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O maior problema de Cabral é a lei. Ele quer fazer delação, mas o juiz e o MP não podem aceitar, porque a lei estipula que o delator entregue quem está acima dele na quadrilha (organização criminosa), mas Cabral era o chefe, não havia ninguém mais importante que mandasse nele. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O maior problema de Cabral é a lei. Ele quer fazer delação, mas o juiz e o MP não podem aceitar, porque a lei estipula que o delator entregue quem está acima dele na quadrilha (organização criminosa), mas Cabral era o chefe, não havia ninguém mais importante que mandasse nele. (C.N.)