Francisco LealiO Globo
Eleito com ajuda do impulso das redes sociais, onde os comentários, ataques e impropérios prosperaram, o presidente Jair Bolsonaro , livrou-se das bactérias do pulmão, recuperou-se da última cirurgia e desembarcou de volta ao Planalto Central pronto para reassumir as rédeas de sua gestão. O primeiro ato foi verbal: deixar por um fio o emprego daquele que já tinha sido o auxiliar mais próximo, o secretário-geral da Presidência da República, o advogado Gustavo Bebianno .
No que pode vir a ser a primeira demissão do governo Bolsonaro, a situação do ministro, seguindo moldes e costumes do poder, estaria mais para figurar na seção 2 do Diário Oficial – onde publica-se atos de nomeação, mas também exoneração de servidores.
FRITAR OU TORRAR – O linguajar clássico da corte brasiliense usa o verbo “fritar” quando está em curso ação para induzir a demissão de uma autoridade. E o poder dá um jeito de ir minando por dentro a sustentação do alvo.
Na era Bolsonaro, seria mais apropriado falar em “torrar” ou “arder”. A fogueira em que Bebianno foi colocado pode ser indicativo do método bolsonariano de tirar gente do seu governo. A estratégia foi construída nas mesmas redes sociais que inflaram o apoio ao então candidato. O porta-voz foi o mesmo filho, Carlos, que protagonizou as ondas de mensagens mais virulentas.
Para espanto de seguidores que ontem pedindo em sua rede para ele ter calma e não prejudicar o governo do pai presidente, Carlos denunciou a mentira de Bebianno.
ATÉ O ÁUDIO – Não bastasse isso, publicou um áudio com a voz do pai. No final da noite, o próprio presidente declarou em em uma entrevista à TV Record que a frase do ministro era mesmo mentirosa. Bebianno havia declarado ao Globo que tinha conversando três vezes num só dia com o presidente, na ocasião, ainda internado em São Paulo.
Quando o presidente diz que o ministro mente, ao invés de declarar que acredita que o auxiliar tem sua confiança e espera que ele prove a inocência, a porta da rua parece ser a serventia da casa.
Mas há que se considerar que Bebianno estava em todos os momentos decisivos de 2018 ao lado do candidato. Ouviu conversas, sabe como foram tomadas as decisões estratégicas de campanha, das corriqueiras às menos ortodoxas. Ou seja, se ministro que arde sabe demais, o presidente pode ser aconselhado a mantê-lo ali ao alcance da sua vista.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Cá entre nós, esse ministério do Bolsonaro é muito esquisito. Parece que os ministros foram escolhidos a dedo para que o governo não dê certo. É a impressão que me passa. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Cá entre nós, esse ministério do Bolsonaro é muito esquisito. Parece que os ministros foram escolhidos a dedo para que o governo não dê certo. É a impressão que me passa. (C.N.)