Fernanda Chagas e Agências
O DEM homologou ontem, o senador José Agripino Maia (RN) como seu novo presidente, na sua convenção nacional, ao mesmo tempo em que o comando do partido opera politicamente para reduzir as dissidências internas. Consciente de que não pode impedir mais a desfiliação do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que se articula para fundar uma nova legenda (o PDB), o partido discute agora a tentativa de preservação do vínculo do vice-prefeito Guilherme Afif Domingos.
A escolha do senador era uma das condições impostas por Kassab para permanecer na sigla, mas não foi suficiente para mantê-lo no partido. Agripino disse que o DEM “está vivo e vai em frente”, com o objetivo de crescer “com a força das ideias e dos seus talentos e quadros”. O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que deixa o comando da sigla, reforçou ainda que a eleição de Agripino reafirma a decisão da sigla de ser oposição no país.
O líder do DEM na Câmara, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), admitiu que os problemas internos da sigla continuam a existir. Mas disse acreditar que a unidade com a eleição de Agripino será capaz de resgatar a essência do DEM.
Contudo, apesar dos discursos otimistas, informações dão conta de que o problema vai muito mais além e que o número de dissidentes pode ser maior do que o esperado, em especial na Bahia. Segundo circula nos bastidores, pelo menos dois deputados estaduais (Rogério Andrade e Gildásio Penedo) e mais três federais (José Nunes, Paulo Magalhães e Fernando Torres) estariam mais do que inclinados a deixar as hostes democratas e migrar para o PDB, de Kassab, que, diga-se de passagem, deve ser presidido pelo vice-governador Otto Alencar, carlista durante toda sua história política, mas que resolveu mudar de ares e virar fiel escudeiro do governador Jaques Wagner (PT). Zé Nunes, por exemplo, não hesita em propagar que se elegeu sem a ajuda de ninguém e está “cavalheiro para tomar o rumo que eu achar melhor”.
Isso sem falar, nos derrotados nas últimas eleições que não se cansam de atribuir o insucesso nas urnas à falta de apoio do partido. Somente no âmbito da Assembleia Legislativa esse número pode chega a quatro. Entre eles, Clóvis Ferraz, que até mesmo durante seu mandato se mostrava insatisfeito com o DEM e chegou a admitir que ACM Neto colaborou para a dispersão da sigla no estado, que desde a morte do senador Antonio Carlos Magalhães, havia entrado em declínio. Dos que não se reelegeram para a Câmara Federal, cogita-se pelo menos mais dois, o que já resulta em 11 possíveis dissidentes.
Ex-aliados trocam farpas
No entanto, o sinal latente de crise foi explicitado ontem, em uma guerra travada entre os Magalhães. O deputado federal Paulo Magalhães, que há muito vem se queixando de que o primo ACM Neto lhe tirou alguns redutos, ontem resolveu soltar o verbo, no sentido literal da palavra. “ACM Neto não pode reagir a nada, porque tem sido notoriamente desleal e mentiroso. Fui enganado e traído por ele. Eu e tantos outros deputados. Agora ele se arvora a dono dos votos de Paripiranga, município este que vota em mim há cinco eleições. Veja quanta pretensão”, disparou.
Neto lamentou as palavras desferidas pelo primo: “Paulo Magalhães não tem nenhum respeito aos seus eleitores e ao grupo político que o elegeu por sucessivas vezes. Aí, sim, posso dizer que tanto os seus eleitores quanto o seu grupo político historicamente têm sido traídos por ele”.
O parlamentar afirmou ainda que foi o responsável pela permanência do primo no Congresso. “Eu o ajudei, sim. E o fiz porque, pelo seu desempenho parlamentar, ele estava com a eleição ameaçada”, avaliou. ACM Neto ainda acusou Paulo Magalhães de votar “sistematicamente” em favor do governo. “Recuso-me publicamente, por princípios e respeito à boa educação, a tratar do que move o deputado Paulo Magalhães, adesista de última hora, nesta perseguição que faz a mim. Deixo que as urnas façam o julgamento que ele merece”.
Vale ressaltar que nos bastidores, a cúpula nacional do DEM se articula para questionar na Justiça os mandatos dos filiados que deixarem a sigla para se unirem a Kassab na nova legenda que o democrata pretende criar. “Se sair do partido, a Executiva tomará iniciativas que a lei recomenda”, disse Agripino.
Fonte: Tribuna da Bahia