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segunda-feira, agosto 02, 2010

A debandada de prefeitos está generalizada

Osvaldo Lyra - Editor de Política

O candidato ao Senado na chapa do DEM, José Ronaldo de Carvalho, tem no currículo as experiências vividas como vereador, deputado estadual três vezes, deputado federal e prefeito de Feira de Santana, numa gestão de oito anos marcada pelos altos índices de aprovação, inclusive, com contas aprovadas sem ressalvas pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Nessa entrevista à Tribuna, ele classifica o ex-senador Antonio Carlos Magalhães como “o maior líder do estado nos últimos 40 anos”. Ao mesmo tempo, diz que a sociedade está cada vez mais dona de si, dona das próprias escolhas. “Essa história do passado, de que alguém que dominava aqui e acolá, está cada vez menor”. Ainda desconhecido de boa parte do eleitorado baiano, o ex-prefeito de Feira diz ter uma candidatura competitiva e espera crescer com o início do horário eleitoral. Sobre a debandada de prefeitos do DEM e PSDB para apoiar os candidatos do PT e PMDB, ele diz que a debandada é geral e atinge todos os partidos. Diz, inclusive, que a falta da máquina na eleição coloca governo e oposição como "Davi e Golias". Por fim, José Ronaldo faz uma análise sobre o governo Wagner e afirma que o PT e aliados não souberam governar.

Tribuna da Bahia: Sua atuação se restringe apenas ao eleitorado de Feira de Santana?
José Ronaldo –
Fui vereador, deputado estadual três vezes, deputado federal e prefeito de Feira por oito anos. Sempre trabalhei na vida pública olhando a sociedade como um todo. Então, trabalho nesta linha, respeitando a todos e convivendo com todos. Sempre fiz o meu trabalho bem mais próximo até dos mais humildes. Tem algumas regiões da Bahia em que sou mais conhecido, até mesmo porque fui deputado e presidente da UPB (União dos Municípios da Bahia). Nos últimos meses, de fato, comecei a viajar mais pelo estado afora. Então, hoje eu já tenho um nível de conhecimento relativamente bom em outras regiões do estado, que não eram aquelas em que eu normalmente atuava.

TB - Sua base se restringe a Feira?
José Ronaldo –
Região de Feira, região do Sisal, a Região Nordeste, boa parte da Região Norte, boa parta da Chapada Diamantina e Baixo Sul e hoje tenho também uma boa ação no Oeste da Bahia. Tenho ações menores, mas também com boa abrangência, no Sul e Extremo-Sul.

TB - Isso vai transformar em votos suficientes para se eleger numa disputa tão acirrada?
José Ronaldo –
Todos quando se candidatam pensam e acham que vão conseguir a vitória. Eu me candidato com a certeza do trabalho que vai ser feito. E neste trabalho eu busco a vitória. E sinto esta vontade por onde eu tenho passado. E sinto que essa vontade tem sido crescente. Concordo quando você diz que vai ser uma disputa acirrada, e vai. Acho que este ano vai ser uma disputa acirrada em todos os níveis, de Presidência da Republica a Senador. Estamos tendo uma eleição bem diferente este ano. Acho que a eleição de governador vai para este patamar também, pelo que sinto por aí. Então, será uma eleição bem disputada, mas acredito que vou estar entre os dois.

TB - Prefeitos do DEM e PSDB têm aderido às candidaturas de Geddel (PMDB) e Wagner (PT). Essa “debandada” pode enfraquecer ainda mais o grupo de vocês?
José Ronaldo –
Estamos tendo uma eleição muito diferente. Esta eleição é a mais diferente de todas que já passei na minha vida. Existe isso não só no Democratas e no PSDB, existe em vários partidos políticos, não só com prefeito, mas com ex-prefeitos, vereadores, parlamentares. Às vezes uns falam e fazem questão de tornar público, outros acham que é melhor não tornar público. Então, posso lhe dizer que isso está generalizado.

TB - Como está o mapa do DEM? Falta apoio nas bases?
José Ronaldo –
Esta semana estava retornando de uma viagem a Casa Nova e comentamos com Paulo Souto. Nós viajamos justamente olhando a agenda do final de campanha e o nosso maior problema hoje é achar tempo para visitar todos os lugares para os quais estamos sendo convidados. Desde fevereiro do ano passado, nunca faltou convite para a gente ir. Nós já visitamos quase duas centenas de municípios, em todas as regiões. Então, hoje, nós temos agenda feita todos os dias, de cedinho até tarde da noite. E isso o tempo todo ocupado, com o povo e com lideranças. Então, isso em momento algum nos faltou.

TB - A falta da máquina?
José Ronaldo –
Já fui oposição várias vezes, já convivi com isso. Tanto em Feira de Santana como em nível estadual. Fui oposição quatro anos no governo de Waldir Pires e me elegi melhor. Convive com os dois lados da moeda. Claro que, materialmente e estruturalmente falando, a diferença é muito grande, é Davi contra Golias. Essa semana, estava saindo de uma cidade na região do São Francisco e cheguei num determinado lugar para pegar um avião e na mesma da hora chegou uma autoridade de outro estado. A estrutura que estava lá para trazer a gente para Salvador em relação a esta autoridade era uma diferença muito grande. Mas, veja bem: nós estamos fazendo uma campanha junto com o povo, junto com a sociedade, conversando e dialogando diretamente com a sociedade, colocando pontos de vistas com a sociedade. Quem decide uma eleição é o povo. Eu vejo cada vez mais, o presidente da República, governador, senador, é o próprio povo que está escolhendo. Um percentual elevadíssimo do voto está sendo livremente definido pela cabeça do próprio cidadão. Cada dia que passa, isso está evoluindo mais, ninguém manda na cabeça do povo. Essa história do passado, de que alguém que dominava aqui e acolá, está cada vez menor. A sociedade é dona de si. Eu sou homem público e participo dessa luta porque acredito no povo. Eu tenho fé no povo.

TB – Por falar em debandada, como enxerga a mudança de lado dos ex-aliados Otto Alencar (PP) e César Borges. O DEM errou no processo de articulação após a morte do senador ACM ou deixou de ser atraente e competitivo?
José Ronaldo –
Veja bem, acho que tudo isso passa por uma série de fatores. Isso não é um fato único, não existiu um motivo único para isso. Cada um buscou aquilo que achava que era melhor nos seus interesses.

TB - O senhor vai entrar num embate direto, como está tendo entre Otto Alencar e César Borges?
José Ronaldo –
A vida inteira eu fiz política em defesa da causa pública. Nunca fiz política no pessoal. Agora, agressões, eu tenho o meu estilo de resposta, não deixo de responder, mas responder em sintonia com o povo.

TB - O grupo político que representa o carlismo acabou com a morte do ex-senador Antonio Carlos Magalhães?
José Ronaldo –
Inegavelmente, Antonio Carlos foi o maior líder deste estado nos últimos 40 anos. Isso ninguém pode negar. Foi tão forte que estamos disputando uma eleição em que ele não vive mais entre nós, mas continua sendo debatido. Veja você mesmo fazendo a pergunta. Então, imagine a força que este homem representou na política do estado. Eu acho que muita gente na Bahia, com certeza absoluta, continua admirando a obra que ele realizou.

TB - O senhor fez o sucessor em Feira, emplacou Tarcizio Pimenta. No entanto, ele pediu a compreensão de vocês, aliados, sobre o tratamento dispensado a Geddel, Borges e até mesmo Lula. Considera que essa relação apartidária pode, de alguma forma, representar risco para o próprio DEM?
José Ronaldo –
Olha, cada cabeça é um mundo. Acho que esse processo deixa, às vezes, o cidadão meio confuso. Nem todo mundo pode entender isso. Realmente, houve a inauguração de um comitê, ele recebeu um presidente da República em sua cidade, como uma autoridade, e ele tem obrigação para isso. Está tudo correto aí. Agora, a política é a política. Geddel é de um partido político que historicamente não tem nada a ver conosco, na cidade, embora eu também tenha relacionamento pessoal com ele. Mas nós estamos na disputa eleitoral. Ele está sendo candidato de um lado e eu estou sendo candidato do outro. Isso não quer dizer que eu não tenha relacionamento com ele. Eu tenho. Afora, nós estamos de lados opostos. Espero que o meu candidato vá para o segundo turno e ele nos apoie. Então, não posso condenar isso. Agora, ele é do Democratas e tem declarado na cidade que apoia Paulo Souto, ele tem agido desta maneira. Agora, quando o cidadão o vê ao lado de outro candidato, pode ficar confuso, sem entender isso.

TB - Pesquisas apontam o senhor com 9%. Está confiante? O que fazer pra crescer e passar a ser efetivamente competitivo?
José Ronaldo –
Eu sou competitivo neste processo. Essa pesquisa me dá igual aos outros. Só tem um aí, que é o César Borges, que está um pouco melhor. Se você olhar as pesquisas, na espontânea, 90% não sabe quem é o candidato. Nos últimos 15 dias, diante desta pesquisa ser divulgada, eu fiz uma experiência em três regiões diferentes nos nossos encontros. Por favor, quem sabe aqui o nome de três candidatos a Senador que estão disputando esta eleição, levante o braço. Não vale o meu, pois já disse que sou candidato. Ninguém levantou. Então perguntei quem sabia o nome de dois candidatos. Apenas uma pessoa levantou e eram mais de 300 pessoas. Sabemos que para atender ao grande número do eleitorado, só no horário eleitoral, não tem outro jeito mais. É a televisão e o rádio.

TB - E quanto à eleição de Paulo Souto… Acredita em um possível segundo turno?
José Ronaldo –
Acredito. Eu acho que teremos uma eleição no segundo turno para governador. Acho que também temos grandes chances de termos eleição com segundo turno para a Presidência da República. Então, eu acho que estas duas eleições têm amplas chances de ir para o segundo turno.

TB - Como anda a relação entre o DEM e o PSDB? O impasse da coligação na proporcional exigida por vocês e negada pelos tucanos já foi solucionado ou ficaram sequelas?
José Ronaldo –
Justiça seja feita. Em momento algum o PSDB disse que faria coligação na proporcional. Eu tentei, todos nós tentamos, mesmo porque acho que todos nós temos que dialogar. E dialogamos muito, mas o PSDB entendeu, os seus candidatos entenderam - eu não vou dizer nem os dirigentes - que seria prejudicial para eles, e não aceitaram. Você pode até discordar, mas é um direito que as pessoas têm. Eu não tenho presenciado nada de animosidade e vejo Paulo Souto também se relacionando muito bem com todos.

TB - O tempo passou e o atual governo continuou atribuindo os problemas enfrentados no Estado à “herança maldita”, deixada pelo DEM. Como o senhor vê essa classificação?
José Ronaldo –
Acho que soa ridículo, não é? (risos) Eu me lembro que, quando me elegi prefeito, nunca me lembrei do passado; entrei pensando no presente e no futuro. Nunca me reportei ao passado. O governante é eleito para o presente e para o futuro...

TB - Então, o PT e os aliados não souberam governar?
José Ronaldo –
Com certeza absoluta não! Eu vou lhe dar aqui alguns exemplos práticos e bem objetivos. Quando Paulo Souto perdeu a eleição, estava na Assembleia Legislativa um projeto para contrair um aumento do Banco Mundial de U$ 100 milhões, na época correspondia a R$180 milhões, para fazer estradas no estado. Até hoje, a maioria desses recursos não foi usada. Isso é uma herança bendita ou maldita? Bendita! O governo (Paulo Souto) deixou recursos do Prodetur, aprovados também pela Assembleia, e o governo (Jaques Wagner) conseguiu fazer alguma coisa, inclusive o complemento daquela estrada de Itacaré/Uruçuca, foi desses recursos. Isso é herança maldita ou bendita? Bendita! Agora, o que é que existe? O governo inaugurou algumas escolas, e posso citar alguns municípios como Queimadas e Itiúba, que foi Paulo Souto que construiu e não inaugurou, e ele foi e inaugurou. Isso é herança maldita ou bendita? Bendita!

TB – Na sua visão, faltam obras no estado?
José Ronaldo –
Falta. Eu não vi na Bahia uma escola que foi iniciada e concluída no governo Wagner, num estado tão grande. O governador dizia que a educação era muito melhor do que o passado. Quando completou dois anos e seis meses de governo, o governador demitiu o secretário de Educação, o Adeum (Sauer), porque disse que era incompetente. Ora, meu Deus! Como é que o secretário era incompetente e a educação estava melhor do que o passado? Ele deu o testemunho de que não estava. Na segurança pública: nos quatro anos do governo de Paulo Souto foram assassinadas por morte violenta em torno de 6,5 mil pessoas no estado. No atual governo de Wagner, em três anos e meio, já passou de 15 mil pessoas. Onde é que está a herança maldita aí? É uma incompetência muita grande. Eu quero lhe dizer que, se não fosse os recursos e algumas ações do governo federal você não tinha nada a comemorar no atual governo da Bahia. Eu conheço obras na Bahia que foram iniciadas e deixados os recursos pelo governo anterior, e que até hoje não foram concluídas.

TB: Como qual, por exemplo?
José Ronaldo –
Isso eu vou dizer mais na frente. Ainda e o por que. E não foi pouca coisa não. Existe, agora, a chamada indústria do enganar por causa da eleição. O governador vai num lugar, assina uma ordem de serviço, e tem coisa que assinou há 60 dias, 90 dias, e até hoje não saiu do lugar...

Colaborou: Evandro Matos

Fonte: Tribuna da Bahia

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