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terça-feira, agosto 24, 2010

Eleitor 2010, a patrulha eleitoral

Por Carlos Castilho, do Observatório da Imprensa

O projeto mal saiu da etapa alfa e ainda está no que os internautas mais experientes chamam de fase beta, mas já recebeu 180 denúncias de violações da lei eleitoral feitas por brasileiros de todas as regiões do país.

O site Eleitor 2010 é a primeira experiência brasileira de monitoramento eleitoral praticado de forma autônoma pelos próprios eleitores. Até agora, a maior parte das denúncias está vinculada à pratica do spam eleitoral, o envio de mensagens não autorizadas pelo receptor, contendo propaganda de candidatos.

O site publicou denúncias de internautas sobre a venda pelo Twitter de listas com até 40 mil nomes de eleitores para serem usadas por candidatos nas eleições de outubro. A lei eleitoral proíbe a venda e cessão de cadastros para uso por candidatos e partidos.

Mas há comunicados interessantes como o feito por um morador da cidade de São Luís, capital do Maranhão, revelando que a igreja evangélica Casa da Benção oferece os votos de três mil fiéis aos candidatos locais em troca daquilo que o pastor local chama de “possível apoio”, um eufemismo para recompensa financeira.

O projeto do Eleitor 2010 foi criado por dois jornalistas brasileiros com base no software Ushahidi, usado recentemente em monitoramento eleitoral na Índia, México e Moçambique. Paula Goes e Diego Casaes desenvolveram o projeto com o apoio do programa Global Voices, uma rede mundial de 300 blogs criada em 2004 por dois jornalistas americanos vinculados ao Berkman Center, da Universidade Harvard.

Ainda de forma tímida, o Eleitor 2010 sinaliza uma importante mudança no comportamento dos eleitores, à medida em que entramos mais fundo na era digital. De uma atitude passiva, os eleitores começam a dar sinais de que seu protagonismo não se limitará apenas ao voto, mas se estenderá ao patrulhamento da campanha e da votação.

Coloca também a imprensa diante de um novo desafio, o de verificar as denúncias publicadas nos sites de monitoramento eleitoral. Até agora os jornais tinham um virtual monopólio na publicação das violações e atentados às leis eleitorais. Agora, eles passam a ter que funcionar como observadores dos blogs — o chamado gatewatching (observação do que sai publicado), no jargão jornalístico na web.

É mais um sintoma de uma seqüência de mudanças que estão sendo provocadas pela maior participação dos cidadãos por meio da internet e da web. A multiplicação de sites preocupados com a transparência dos negócios públicos e privados está obrigando os governos e empresas a revisarem suas estratégias de relacionamento com os contribuintes e consumidores.

No caso eleitoral, as mudanças começaram com a introdução da urna eletrônica que, segundo cálculos do cientista político Jairo Nicolau, um especialista em processos eleitorais, incorporou 10 milhões de eleitores só na primeira grande votação digitalizada realizada no país, em 1998.

A fraude foi reduzida a níveis mínimos, virtualmente acabando com o fenômeno do coronelismo eleitoral, embora a urna ainda esteja sujeita a dúvidas sobre a sua confiabilidade. Aqui no Brasil, a mídia praticamente sepultou todas as restrições levantadas no exterior, inclusive nos Estados Unidos, especialmente as referentes à impressão de um recibo de voto para o eleitor.

A grande mudança começa quando o eleitor descobre sua capacidade de interferir no processo de votação, muito além do ato de apertar um botão numa urna eletrônica.


(Envolverde/Observatório da Imprensa)

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