Carlos Chagas
Justiça se faça ao presidente Lula, foi ele a rejeitar o terceiro mandato. Houve tempo, no começo do ano passado, em que bastaria um estalar de dedos para a hipótese consolidar-se. Deputados do PT e de outros partidos já tinham pronta emenda constitucional permitindo uma segunda reeleição aos titulares de mandatos executivos, incluindo prefeitos e governadores, além dos presidentes da República. Um sinal verde da parte do primeiro-companheiro e apesar dos estrilos da oposição, e a matéria passaria no Congresso até mais facilmente e com menos despesas do que passou a reeleição, nos tempos de Fernando Henrique.
Naqueles idos o Lula parecia num beco sem saída, apesar de sua popularidade em alta indiscutível. Perdera José Dirceu e Antônio Palocci, os dois principais auxiliares que sonhavam sucede-lo. O PT parecia um deserto de candidatos e ele começava a pensar em Dilma Rousseff, mas sem convicções no seu próprio partido. Andava em alta a possibilidade de Aécio Neves transferir-se para o PMDB e ser lançado candidato, mas nem o governador mineiro confiava no maior partido nacional e nem o PMDB confiava no Lula. Malogrou o desembarque de Aécio do ninho dos tucanos e o presidente continuou declarando não aceitar o terceiro mandato. Nas pesquisas espontâneas que começavam a pipocar, era o nome dele que pontificava, mesmo depois de haver lançado Dilma.
A natureza seguiu seu curso, sua popularidade aumentou ainda mais e a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil começou a ser considerada, até chegar ao favoritismo de hoje.
Por que se recordam detalhes do processo sucessório, agora em sua reta final?
Porque o presidente Lula não se emenda. Esta semana, em solenidade no recém-inaugurado palácio do Planalto, na frente do ministro da Defesa e dos comandantes das três forças armadas, não resistiu ao que a totalidade da mídia chamou de brincadeirinha. Dirigindo-se a Nelson Jobim, disse que ele devia ter mandado para o Congresso uma “emendinha” capaz de dar-lhe mais uns anos de mandato. É claro que não falava a sério, mas qualquer estudante de Psicologia concluiria haver alguma coisa a mais na jocosa referência.Um pouco do subconsciente presidencial aflorando na linha d’água, agora que faltam quatro meses para ele deixar o poder. Uma afirmação totalmente dispensável, inócua pela própria consciência.
A conta que ninguém faz
Quando tomou posse, em 2003, o presidente Lula prometeu criar dez milhões de empregos. De lá para cá, já se vão oito anos, a equipe econômica e o ministério do Trabalho divulgam com freqüência o número de postos de trabalho criados com carteira assinada. Se alguém somasse todas as informações, a conta facilmente passaria dos vinte milhões. Como isso não aconteceu, salta aos olhos a omissão de percentuais paralelos, ou seja, o número das demissões acontecidas no período. Como números negativos nenhum governo anuncia, mas, pelo contrário, esconde, a dúvida permanecerá por muito tempo a respeito do mercado de trabalho, computados os jovens que anualmente ingressam nele, sem ter emprego, além dos demitidos. Criar empregos é uma coisa.Manter os existentes, outra bem diferente.
Fonte: Tribuna da Imprensa