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terça-feira, agosto 24, 2010

Retrato incompleto do Brasil

Por Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa

Os grandes jornais brasileiros, aqueles considerados de influência nacional, parecem considerar definida a eleição para a Presidência da República. Análises publicadas pela imprensa no último fim de semana, com base na projeção das pesquisas de intenção de voto, apontam uma vantagem ainda maior da candidata do governo, Dilma Rousseff, sobre o oposicionista José Serra. Fala-se em uma diferença de até 20 pontos porcentuais na próxima sondagem, o que consolidaria uma situação ainda mais difícil de reverter.

As opiniões selecionadas pelos editores também se referem à eventualidade de um "grande escândalo" envolvendo diretamente a candidata, como única forma de produzir uma reviravolta capaz de fazer uma grande massa de eleitores mudar de idéia.

Mas os próprios jornais destacam também o caráter reservado de Dilma Rousseff e o fato de que, ao antecipar-se na divulgação de seu passado como militante contra a ditadura, a campanha na televisão produziu uma vacina contra efeitos negativos do aspecto mais controverso de sua carreira política.

Assim, sem a perspectiva de um assunto realmente grave a ameaçar sua trajetória, a candidata petista parece próxima de vencer já no primeiro turno.

Aspectos negativos

O sinal mais claro de que a imprensa considera improvável uma mudança na tendência apontada pelas pesquisas é o fato de que todos os jornais, do fim de semana até a segunda-feira (23/8), trouxeram como destaques os desafios do próximo governo e até algumas especulações sobre um futuro ministério.

Evidentemente, algumas das reportagens publicadas, como aquelas descrevendo o estado lastimável do setor sanitário nas grandes cidades, também servem como combustível de campanha, ao levantar problemas que os dois governos do PT não conseguiram resolver. Mas esse tipo de ação também tem pouco alcance no cenário favorável ao atual governo federal, porque os leitores sabem que muitos dos problemas apontados pelos jornais são de responsabilidade de estados e municípios.

Mesmo que seja movida por interesse político, a iniciativa de retratar as carências do país seria saudável, pois nunca é demais expor os aspectos negativos, para que venham a ser corrigidos. O problema é que a imprensa não costuma dar seqüência a esse tipo de reportagem, deixando incompleto o retrato do Brasil que precisamos conhecer, para que seja melhorado.


(Envolverde/Observatório da Imprensa)

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