BRASÍLIA - A despeito da disputa interna permanente que caracteriza o PT, petistas de várias alas, instalados no governo ou no Congresso, concordam em um ponto: é a sucessão presidencial que está por trás da briga que o ministro da Justiça, Tarso Genro, comprou com as Forças Armadas, ao defender punição para os torturadores do regime militar.
A avaliação geral no Palácio do Planalto e no partido é que, com este discurso, Tarso procura se firmar como um perfil à esquerda da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na disputa pela cadeira ocupada hoje pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Se o ministro quer agir como militante político que peça licença do cargo", reagiu o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), ao acrescentar que Tarso teria criado uma polêmica "fora de hora". "Seria imaturidade achar que com isso ganhará cacife para a disputa presidencial em 2010", disse o petista.
Apesar de concordar com o mérito da proposta, por entender que não existe anistia para assassinos, o deputado afirmou que não é o momento de abrir esse debate. "O ministro da Justiça tem de atuar como magistrado, ter posição de Estado. Portanto, não cabe a ele ficar falando sobre isso", alfinetou Tatto. Posição semelhante foi manifestada pelo deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).
"A prioridade agora do PT é aprovar nas urnas a política de desenvolvimento, distribuição de renda e de criação de empregos implementada pelo governo", emendou. Além de destacar que o esforço dos petistas está voltado para as eleições municipais, Vaccarezza deixou claro que o partido seguirá a posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nessa discussão e não à do ministro Tarso Genro.
Senadores petistas, por sua vez, lembram que não é a primeira vez que Tarso Genro tem divergências públicas com Lula. "Ele vive em área de conflito com o governo", ressaltou um parlamentar, destacando que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi o primeiro a bater de frente com Tarso e desautorizar alterações na lei de anistia para punir torturadores.
O entendimento de que a motivação do ministro é ganhar terreno na luta interna do PT também é partilhada por setores expressivos do governo. Surpreendido com a audiência pública convocada pelo ministério da Justiça para debater a Lei de Anistia, um ministro que transita com desenvoltura no Planalto observa que esse assunto estava fora da pauta da sociedade como um todo e que também não havia um debate acadêmico que justificasse a iniciativa do ministro da Justiça.
Como não existe pressão de qualquer segmento social para mudar a lei, o mesmo ministro acrescenta que só mesmo a disputa de bastidor entre Tarso e Dilma, ambos de olho em 2010, pode explicar esta movimentação. Afinal, acrescenta, nem os cassados e torturados manifestaram interesse em recolocar este tema na agenda. Já o deputado Cândido Vaccarezza preferiu não vincular a iniciativa do ministro a um projeto eleitoral, pois considera prematuro agir agora pensando em 2010.
"Seria extemporâneo. E tudo que se fala agora não terá impacto mais na frente", disse, acrescentando, porém, que o ministro da Justiça pode estar movido "por boas intenções" ao defender a punição aos torturadores. Informada das questões levantadas por militares e petistas, a assessoria de Tarso informou que ele estava envolvido em compromissos familiares.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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